Capítulo XXVIII

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         —Eu ainda não entendo o porquê você não quer sair, ca.... – Emma parou quando percebeu o olhar torto que o homem lhe dava. — Killian. – corrigiu com um sorriso discreto, enquanto ganhava um aceno de aprovação. O capitão estava constantemente a lembrando de que de agora em diante deveria chamá-lo pelo nome, mas ainda era difícil para ela a ideia de tamanha intimidade. O que não fazia sentido, já que em cada tempo livre que tinha, ela estava ali, naquela cabine. Com ele. — Você está bem. Consegue caminhar normalmente, seus machucados estão cicatrizados e os hematomas quase já não existem.

—Sim, sim. Tudo está perfeito. Com exceção do fato de eu não ter mais a minha mão. – resmungou, olhando com desgosto para a parte de seu corpo que não mais existia, mas que doía como o inferno como se ainda estivesse lá. — Não quero ter que lidar com os olhares de pena.

Emma pressionou os lábios e se sentou ao lado dele na cama. Esperou que o capitão a olhasse, então arqueou a sobrancelha como ele fazia. Killian sustentou seu olhar, até que ela começou a se sentir queimada e inquieta, como acontecia toda vez que ele a fitava daquela forma tão intensa. Seu coração disparava e seu corpo parecia entrar em um desespero perturbador para tocá-lo de alguma forma para sanar uma necessidade que ela não entendia.

Eles já estavam há algumas semanas em Króstal, mais tempo que teria sido normal, caso a pilhagem não tivesse dado tão errado em alguns pontos. Mas mesmo com o tempo de recuperação do capitão, mais o conserto do navio – que já estava pronto -, Jones não parecia disposto a zarpar. Muito pelo contrário, parecia que ele estava fazendo o possível para adiar a partida, sempre usando a desculpa de que ainda não estava bem o suficiente para voltar à ativa. E apesar de querer respeitar o tempo de Killian, Emma estava ficando impaciente. Ela ainda estava em uma missão, mesmo que nem Landon ou capitão parecessem lembrar disso. O assunto não era mais discutido e sempre que ela tentava trazer a questão à tona, os dois desconversavam ou então só fingiam prestar atenção no que ela tinha a dizer. Depois do encontro com a cigana, Emma havia deixado o ceticismo de lado e começara a pesquisar em livros de culturas e religiões antigas. Todo dia ela saia junto com Zelena em busca de livros que tratassem sobre assuntos desconhecidos e tidos como apenas criações fantásticas.

Alguma coisa teria que ajudá-la a desvendar o mistério que a levara até aquele navio.

—Ninguém irá olhá-lo com pena. – rebateu a jovem. — Ninguém nem irá perceber que está machucado, Killian. Você não é o único em Króstal que não teve muita sorte em uma pilhagem. – falou. — Se ficar trancado dentro dessa cabine não irá conseguir aproveitar nada.... Nem as mulheres. – Emma mexeu as sobrancelhas sugestivamente. — Achei que estivesse ansioso para.... Fazer.... Coisas. – mexeu a mão sem jeito.

Killian desviou o olhar, parecendo incomodado e se levantou. Deu alguns passos, até parar no centro da cabine e se voltou para Emma que continuava sentada no mesmo lugar, observando-o com tanto carinho com aqueles olhos verdes e as bochechas coradas, que ele quis cair de joelhos em sua frente. Estava cada dia mais insuportável estar tão perto dela e não poder puxá-la para si como desejava. A situação estava tão crítica que por vezes ele deixava de ouvi-la, porque estava imaginando como seria beijar cada uma daquelas sardas que pintavam seu rosto. Aquelas sardas que ele no começo a aborrecia tanto, hoje era a sua maior tentação.

E agora ele entendia a expressão "morder a língua".

Porque toda vez que o desejo de tocá-la ou beijá-la vinha, ele mordia a língua para se segurar, lembrando de todas as vezes que afirmou que não iria desejá-la.

Mas apesar de insuportável, tudo o que Killian mais desejava era que ela continuasse perto. Que lhe desse mais sua companhia, de seu tempo, de suas conversas e risadas. E mais de seu toque. Ah, seu toque tinha sido algo que aprendera adorar e ansiar. Todo fim de noite, antes de ir para a estalagem, Emma massageava seu ombro e braço machucado, porque por algum motivo que ninguém sabia explicar, a dor era tão forte que contraía seus músculos que ele não aguentava.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora