Traiçoeiro (Em Revisão)

Capítulo XV

Landon precisou de um momento inteiro sozinho em sua cabine antes de conseguir se aproximar da garota. Dizer que ele estava com raiva era eufemismo quando tudo o que ele estava na realidade era puto.

Puto com Killian, puto consigo mesmo por estar metido naquilo, puto com Henry por ser tão descuidado com a única filha, puto com cada marujo que deixou que a garota subisse no bote que ia em direção ao navio. Todos na Jolly Rogers estavam fingindo que não sabiam de sua existência, já que todos tinham conhecimento que ela era esperada. Emma Mills era a maçã dourada dos deuses para aqueles homens. A promessa de tanto dinheiro que poderiam abandonar a pirataria e voltarem para suas casas, para suas famílias ou para qual fosse a vida que queriam levar bem longe do mar.

Contudo Landon não esperava que a garota seria estúpida o suficiente para se arriscar a ir com eles. E o pior, ir com eles em um disfarce podre de moleque como se ninguém fosse reparar em seu movimentos delicados ou o rosto de traços finos como se tivesse sido cuidadosamente desenhado por algum artista muito bom. Se tivesse inventado de fazer isso em qualquer outra tripulação a garota estaria perdida. Um embrulho em seu estômago fez com que Landon se contraísse ao imaginar o que poderia acontecer se Emma estivesse em qualquer outro navio. Não sabia o que a pessoa que tinha contratado Killian queria com ela, porém ele sabia que enquanto a menina estivesse com eles, ela estaria livre do perigo de ser violada.

Coçou a testa impaciente. Sabia tão pouco do que estavam fazendo. De o porquê estavam fazendo. E não gostava daquilo. De toda a situação. Landon Baptiste era um pacifista na profissão errada. Ele não gostava de injustiças, assim como não gostava de embates. Não gostava do fato de que seu dinheiro vinha do roubo de outros, porém achava o motivo que o mantinha na pirataria nobre e ele não conseguiria abandoná-lo até ter certeza que o garoto que chamava de capitão estivesse bem e feliz.

Killian Jones era o motivo que estava ali. Landon amava o rapaz como se fosse seu próprio filho. As idades eram próximas. Ambos chegaram a ser amigos e se sentaram para beber juntos. Quando seu filho se foi e em pouco tempo sua melhor amiga e também esposa juntou-se a ele, Killian surgiu, tão perdido quanto antes, tão cheio de raiva e com uma escuridão crescendo a cada dia em seu interior que Landon se juntou a ele, um cuidando do outro da forma torta que faziam.

Mas Landon havia superado as perdas. Ainda as sentia, é claro. Tinha vezes que a saudade apertava tanto seu peito que ele chorava e chamava por eles. Contudo, na maioria dos dias, ele continuava a viver. Se divertia. Se permitia ser quem era. Sem julgamentos e sem culpa.

Uma batida na porta de sua cabine seguida do aviso que o capitão estava o chamando fez com que o contramestre se recompusesse e subisse para o convés superior.

Ele conseguiria fazer aquilo. Olhar para o rosto amedrontado da garota e fingir não saber de nada. Cuidaria dela. Ensinaria como se defender enquanto estivesse com eles. E tentaria fazer Killian mudar de ideia.

Afinal, Landon sabia que conseguiria sobreviver com os saques que faziam e as mortes que, por consequência, passariam por suas mãos.

No entanto, ele não tinha certeza se sua consciência o deixaria em paz se algo acontecesse com a garota.

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Emma estava encostada na amurada do navio, olhando para Atabilifen que agora era uma mancha escura, com apenas alguns pontos de luzes amarelados. Seu coração martelava em seu peito, suas mãos suavam e todo seu corpo parecia paralisado de terror. O ar saía de sua boca em uma nuvem de fumaça branca e a jovem se encolheu mais dentro do casaco roubado do pai em busca de um calor que sabia que não sentiria. Ela não olhara para ninguém desde que subira a bordo do navio. Não conseguiu aproveitar uma sensação de júbilo que nunca veio por ter conseguido entrar ali. Sentia que a qualquer momento iria vomitar de tanto nervoso que sentia.