Emma encarava fixamente o prato de sopa bem a sua frente, fazendo o possível para ignorar seu pai que estava sentado ao seu lado. Se até o dia anterior ela havia desejado que os dois voltassem a se falar como antes, por agora ela não tinha esse desejo. Mal se atrevia a erguer os olhos, com medo que se olhasse para o rosto do pai ele voltaria a falar sobre o assunto que ela preferia esquecer.
Então ali estava ela, tentando tomar a sopa o mais rápido possível para que pudesse fugir para o quarto. Sua língua estava sensível das tentativas de engolir a comida sem soprar para esfriar.
—Você se divertiu com Graham hoje? – a voz do pai quebrou o silêncio na sala de jantar. A colher de Emma parou no meio do caminho para a sua boca e ela, com um suspiro resignado, o fitou.
—Foi bem agradável, sim. – respondeu e enfiou a colher na boca, torcendo para que isso colocasse um fim na tentativa de conversa do pai.
—O que fizeram?
Emma deixou o talher descansar no prato e se recostou no encosto da cadeira.
—Ele me levou para dançar no galpão dos artistas. – disse, como se o desafiasse chamar sua atenção como Cora fazia quando descobria que a filha tinha uma vez mais se misturado com aquela "gentinha". — Então fomos caminhar na praia.
Mas Henry se limitou a assentir e enfiou uma colher de sopa na boca, os olhos fixos na filha.
—Ele a manteve longe dos comerciantes, espero.
A jovem reprimiu a vontade de revirar os olhos.
—Sim, papai. Apesar de eu ter insistido muito para que ele me acompanhasse até onde os piratas estavam, Graham disse que para tudo havia um limite. Aparentemente se eu ver esses homens a desgraça cairá sobre mim. – zombou.
O semblante do pai se tornou rígido. Ele deixou a colher cair como um baque no prato e apoiou os cotovelos na mesa, inclinando-se para a frente de forma ameaçadora.
—Esses homens são perigosos, Emma. Não deveria tratar o assunto com tanto descaso.
Ela forçou uma gargalhada que sabia que deixaria o pai irritado.
—Eles são tão perigosos que o senhor os coloca dentro de nossa própria casa no meio da noite, não é mesmo?
Henry pareceu perder a fala por um minuto, enquanto processava a insolência nunca ouvida antes na voz da filha.
—Você não deve meter esse seu lindo narizinho no que se diz respeito ao meu trabalho.
—Então o senhor não deveria dizer coisas se não quer que eu aponte como está se contrariando. Eu não posso chegar perto deles, mas tudo bem esses homens entrarem em nossa casa no meio da noite?
Ele a observou longamente e Emma se remexeu inquieta, quase se arrependendo das palavras ditas e do tom usado com o pai. Por fim, Henry pegou a colher.
—Acho que o jantar acabou para você, Emma. – decretou, indicando para que o criado que estava ali, encostado ao fundo da sala, que retirasse o prato dela da mesa.
Emma abriu a boca estupefata. Seu pai nunca havia lhe negado que terminasse uma refeição. Era certo que ela nunca falara daquele jeito com ele, mas seu pai havia começado.
E ela estava tão cansada de aguentar calada. Ela estava tão irritada que queria brigar para descontar toda aquela tensão que estava reprimindo desde a noite anterior. Havia se divertido durante a tarde com Graham, mas todo o momento sua consciência ficava lhe lembrando para tomar cuidado com suas ações e fala perto do amigo, para que ele não tivesse falsas esperanças de que talvez conseguisse chegar ao seu coração. Que aquele não era um simples passeio como os que costumavam fazer antes do período de luto.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...