Capítulo XXXI

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Emma e Zelena estavam espremidas na cama da cabine da primeira. Uma única vela estava iluminando o quarto silencioso. Quando chegou o momento de escolher onde Zelena dormiria, Emma bateu o pé que fosse em sua cabine, já que a outra opção seria uma rede fedorenta no porão onde os homens dormiam. Nunca que ela deixaria outra mulher se sujeitar a ficar naquele espaço, ainda mais uma mulher que entrara para a tripulação para lhe fazer companhia.

—Eu posso dormir no chão. – Zelena sugeriu ao sentir a outra se mexer minimamente para se ajeitar. Um braço a envolveu imediatamente, impedindo que se mexesse e ela riu. — Você precisa de espaço por causa do tornozelo.

—Eu e meu tornozelo estamos ótimos. – retrucou Emma. — Não ouse sair dessa cama. Se eu quisesse espaço teria aceitado a oferta do capitão.

Zelena franziu o cenho e se virou de lado para ficar frente a frente com Emma.

—Que oferta? – quis saber.

Mesmo com a péssima iluminação, a mulher viu o rosto da outra corar e ela baixar o olhar, desconcertada.

—Ele disse que eu poderia ficar na cabine dele, por a cama ser maior. No caso, dividiríamos. – contou e deu de ombros, como se não fosse nada demais. Como se a oferta não tivesse feito o âmago dela se afundar e todo seu corpo formigar com a ideia de dividir a cama com Killian, dormir e acordar todo dia ao lado dele, sentir o seu calor tão perto a tentando de formas que ela não entendia e que nunca seria suficiente.

—Que bondoso da parte dele. – Zelena comentou com sarcasmo.

Emma preferiu ignorar o tom e apenas assentiu.

—Eu também achei. – concordou. — Mas eu sei que seria muito difícil para ele, caso essa fosse uma opção a ser considerada, o que claro não é, já que eu devo me deitar na cama apenas do meu marido. – explicou, o olhar fixo no lençol que apertava com firmeza na mão. — Além, é claro, de que o capitão deve aceitar apenas as mulheres que ele deseja e sente atração. O que não é o meu caso. Ele só aprendeu a tolerar minha companhia.

A outra riu e revirou os olhos.

—Você realmente não percebe, Emma? – indagou com ceticismo. As orbes verdes a fitaram levemente espantada. Zelena ficou séria. — Santo Pai de Todos, você não percebe! – exclamou baixinho e começou a rir.

Emma franziu o cenho e deu um tapinha de leve no braço da nova amiga.

—Percebo o quê, sua doida? – perguntou com irritação. Odiava que as pessoas rissem dela sem que soubesse o motivo.

—Ah, doce Emma, tão ingênua. – Zelena suspirou e se forçou a parar de rir quando viu o semblante da outra se endurecer. — O capitão, ele quer você.

As sobrancelhas se arquearam, seguidos dos olhos que se arregalaram e a boca se entreabriu de choque. Emma ficou uns segundos com essa expressão estupefata, antes que conseguisse encontrar a própria voz.

—O quê? – sua voz soou alta demais. Ela estava horrorizada com a ideia, principalmente porque parte dela queria que fosse verdade. O que ela sabia, claro, que não poderia ser. Nunca poderia ser. — Não! – exclamou com uma careta. — Você não entende. Nem sabe o que está falando. – a repreendeu. — O capitão não me vê dessa forma, Zelena. Ele nem ao menos me acha bonita ou atraente. O próprio me disse isso. Várias vezes. – sua fala estava rápida, enquanto tentava provar seu ponto de que a outra estava errada.

Enquanto isso Zelena a observava com o ar de riso.

—Santo Pai de Todos. – repetiu. — Eu entendi. Calma. – pediu, uma gargalhada escapando com a expressão de pavor que Emma exibia, o rosto havia se tornado vermelho, quase roxo. — Ele não a vê dessa forma. – concordou com ironia. — Mas você o vê, não?

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora