Emma se espreguiçou, um gritinho deixando seus lábios, enquanto sentia que a alma retornava para o seu corpo. Abaixou os braços e virou a cabeça para o lado, observando as cores do crepúsculo que entravam pela sua janela, a luz escassa de um dia que já estava se despedindo. Em dias normais, ela não gostava de dormir durante o dia, porque tinha a sensação que poderia estar sendo útil de alguma outra forma, mas havia as exceções como naquele dia.
Fechou os olhos e como se invocasse uma coragem que não sentia, sentou-se e ficou fitando o lado de fora, sem de fato ver alguma coisa. Precisava se levantar. Iria jantar na casa dos Humbert e precisava começar a se arrumar. Coçou a cabeça e jogou as pernas para fora da cama.
—Que preguiça, Pai de todos. – resmungou, indo para a porta buscar alguém para lhe preparar um banho. Não gostava de chamar os criados com sinos, tinha a sensação de estar tratando-os como gado dessa forma e não como as pessoas que eram.
Saiu para o corredor amarrando o robe para esconder a camisola. Emma ainda não estava tão morta por dentro para ser capaz de dormir com um corpete a apertando como muitas damas eram capazes de fazer quando iam tirar um cochilo. Já estava na metade da escada, sonhando com a água morna que iria fazê-la despertar de vez quando percebeu Granny e seu pai ao pé da escada.
Os dois a fitaram e a governanta abaixou o olhar como se estivesse envergonhada e deu um passo para trás. Emma olhou de um para o outro, percebendo que talvez tivesse atrapalhado alguma coisa.
—Está... Tudo bem? – quis saber.
Granny sorriu e começou a subir os degraus em sua direção.
—Seu pai estava perguntando se já havia acordado. Estava indo tirá-la da cama. Gostaria de um banho?
Emma se limitou a assentir de leve, ainda achando estranho. Fixou os olhos no pai, que a estudava atentamente e com uma emoção diferente no olhar.
—Enquanto preparam seu banho, venha conversar com seu velho. – pediu, indicando com a cabeça que a seguisse.
Ela trocou um olhar questionador com Granny que se limitou a pressionar os lábios em uma linha rígida e apertar o ombro da jovem, enquanto seguia seu caminho para chamar os criados para prepararem seu banho.
Emma respirou fundo e terminou de descer as escadas, embrenhando-se pela casa, em direção ao escritório do pai que estava com a porta aberta. Ao entrar, Henry estava em pé atrás da mesa e indicou a cadeira para a filha. Ao sentar-se segurou os panos da camisola, o corpo todo tenso. Não tinha ideia do que seu pai queria lhe falar com tanta urgência. Não parecia ser nada grave, mas por toda a demora para começar a falar, não deveria ser nada bom.
—Qual o problema, pai? – ela indagou, após mais um minuto inteiro de silêncio que Henry havia ficado a observando com os pensamentos perdidos.
O homem balançou a cabeça e tentou sorrir. Andou até o decanter e serviu dois copos de licor. Deixou um nas mãos da filha e se apoiou na mesa, antes de respirar fundo.
Emma apertou o copo pequeno nas mãos que haviam começado a suar. Em qualquer outro dia já teria começado a bebericar o licor, afinal raramente podia beber bebidas alcóolicas, então quando seu pai permitia de tão bom grado, ela nunca questionava. Uma dama não deveria pegar gosto por um hábito tão masculino quanto a bebida.
—O nosso período de luto acabou, como bem sabe. – Henry começou sem jeito. — E decidi que não iremos manter o meio luto como estávamos pensando. – comunicou e ergueu a mão quando percebeu que a filha iria interrompê-lo. — Não acho que é justo privá-la de continuar a sua vida.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanficHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...