Capítulo XLVI

198 11 69
                                    

Emma esperava que Landon já tivesse tirado Killian da ilha.

Era o único pensamento que passava na mente da jovem enquanto sentia toda a sua existência ser destruída por dentes e garras. O peso deles a esmagavam. Sua força humana era nada perto daquelas feras e suas bocas e garras.

Os gritos já não tinham mais forças para serem audíveis, enquanto os rosnados eram tão altos que ecoavam por toda ilha. Emma sentia sua carne sendo dilacerada, os dentes afiados se abrindo e fechando, enquanto ela ainda tentava lutar contra. Contra a morte. Contra falhar antes mesmo de tentar. Contra abandonar Killian daquela forma, logo quando eles tinham descoberto o que sentiam. Seu coração se partia diante da perspectiva de que tiveram tão pouco tempo. Ela chorava. Um choro de tantas dores diferentes que invadia seu corpo. Suas lágrimas se misturavam ao seu sangue e a saliva dos lobos gigantes. Já não tinha mais certeza se seus membros ainda eram seus. Se sentia como uma boneca, sendo puxada de um lado para o outro e não entendia o porquê a sua consciência, que momentos antes a abandonara por tão pouco, não a abandonava de uma vez para que não continuasse a sofrer.

Um bater frenético de asas a rodeou no exato momento em que pedia por misericórdia para o Ser Superior que a ouvisse primeiro. As feras deixaram de brigar por seu corpo mutilado por seus dentes e um som baixo saído do fundo da garganta, como se um alerta, veio dos animais, que aos poucos recuavam, ainda que exibissem seus sorrisos maldosos de caçadores.

Emma via, de costas para ela, uma silhueta branca de mulher. A silhueta estava entre os lobos e ela, como se a protegesse. O silêncio que se seguiu pareceu eterno, enquanto silhueta e animais se encaravam. Deu um passo em direção às feras, com algo empunhado, algo que emanava uma luz prateada e, com um último latido enraivecido, as feras se viraram, embrenhando-se na floresta escura, os sons de suas pesadas patas sumindo, conforme se afastavam correndo.

Quando a silhueta se voltou para Emma, antes que conseguisse ver o seu rosto ou murmurar um agradecimento, suas pálpebras finalmente se fecharam.

E a escuridão escondeu o rosto de sua salvadora.

☠☠☠☠

Ela estava envolta em uma luz dourada, percebeu quando abriu os olhos com muito custo. Seu corpo repousava em um catre fino e ele parecia imobilizado de alguma forma, por alguma espécie de gosma. Forçou o tronco para cima e choramingou de dor, quando as lembranças daqueles minutos aterrorizantes em que fora atacada pelos lobos retornavam em sua memória. Os ganidos e rosnados ainda ecoavam em seus ouvidos e ela se perguntou como estava viva.

Quem era a pessoa que a salvara da morte que parecia tão certa.

Ou será que já estava morta e em seus últimos momentos sua consciência fantasiara tudo aquilo como uma forma para que se tranquilizasse e fosse em paz?

Emma fitou o teto irregular de pedra do que parecia uma caverna. Se estivesse de fato morta, supostamente não deveria sentir dor. Diziam que do outro lado não deveria haver dor quando se é uma pessoa boa... Mas se parasse para refletir, havia cometido inúmeros pecados ao longos dos meses para ainda estar na fila dos bons. Talvez aquele estado em que se encontrava fosse seu castigo por ter se tornado uma pecadora. Talvez estivesse fadada a sentir aquelas inúmeras dores que seu corpo agora carregava.

Porém, ao longe, era capaz de ouvir sussurros que pareciam conversas e todos seus sentidos, ainda embotados com a sonolência, dor e confusão, tornaram-se alertas. Tentou uma vez mais se levantar, mas não teve sucesso. Olhou o que conseguiu, na esperança de descobrir onde estava e com quem estava.

—Ah! – uma exclamação surpresa veio de algum lugar que a jovem não conseguia ter visão. — Você acordou. – a voz doce e familiar parecia aliviada e Emma se agitou, para tentar ver quem falava com ela.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora