Belle observou Emma atentamente durante todo o jantar ao notar que a melhor amiga estava estranhamente quieta, sem fazer esforço algum para participar das conversas que preenchiam a mesa. E agora, continuava observando-a enquanto a jovem tirava uma música do piano, sem ao menos prestar atenção nas notas que tocava.
Emma havia chegado esquisita. Como se durante as horas que ficaram separadas alguma coisa tivesse lhe tirado toda a animação para terminar o resto do dia. Quando tinham se visto pela manhã ela já não estava bem – e com motivos -, mas Belle imaginou que um pouco mais de ânimo teria preenchido a amiga até a hora do jantar.
O piano ficou silencioso e Emma se levantou, fazendo uma pequena reverência, sem encarar ninguém de fato. Belle aproveitou o momento para ficar em pé e arrastá-la dali para que investigasse o que estava acontecendo. Desculpou-se com todos e afirmou que precisava mostrar algo a amiga que estava em seu quarto.
Quando as duas se viram protegidas pelo cômodo escuro, Emma deu um suspiro profundo e melancólico, enquanto ia até a janela para olhar as sombras do lado de fora. Algo nela parecia tão frágil que Belle só queria poder abraçá-la e garantir que tudo ficaria bem. Se preocupava com a amiga, porque sabia que em sua vida inteira Emma havia sido podada, incapaz de se desenvolver completamente da forma que gostaria. Muita coisa ela guardava para si. Muita coisa ela apenas aceitava porque era o esperado dela.
E cada vez que Emma só assentia e deixava que outra pessoa escolhesse seu caminho, mais para dentro de si mesmo ela se voltava, como se fosse mais agradável viver em seu mundinho, onde tinha controle das coisas do que no mundo real, em que seu destino já parecia estar escrito.
Belle só desejava que acontecesse alguma coisa que tirasse sua amiga daquela zona de conforto em que havia se estabelecido. Que a obrigasse a reagir diante da vida, em vez de encarar tudo com tanta passividade.
Queria que Emma fosse atrás de viver um pouquinho, ser um pouco inconsequente e que percebesse que a vida era muito mais do que ser uma bela dama em um lar onde muitas vezes não existia nada além de objetos como companhia.
—Você não me contou o porquê estava flertando com aquela mulher mais cedo. – a voz dela, sem entonação alguma a tirou de seus pensamentos preocupados e a fez voltar para a realidade.
Caminhou até um castiçal e acendeu as velas, banhando o quarto com uma luz amarelada. Emma se virou para ela, abraçada ao próprio corpo e esperou. Belle sorriu.
—Só pode estar pensando que eu nasci ontem para não perceber que está tentando tirar o foco de você. – atalhou divertida. Sentou-se na cama e esticou a mão em sua direção. —Venha, sente-se comigo e me conte o que aconteceu.
Houve um momento de hesitação, mas Emma acabou cruzando a pequena distância e se acomodou ao lado da amiga. Um risinho sem humor deixou seu nariz e ela balançou a cabeça, as mechas soltas do penteado caindo para frente quando seu queixo foi em direção ao peito.
—Graham pediu permissão ao meu pai para me pedir em casamento. – contou baixinho, como se se falasse um pouco mais alto, fosse se tornar oficial. Belle permaneceu em silêncio e Emma a encarou. — Você sabia?
Ela se remexeu sem jeito e deu de ombros.
—Graham me contou que estava com essa ideia. Mas não sabia que ele seria tão precipitado. – respondeu. — Ele deveria ter falado com você. Eu disse isso para ele, no entanto meu primo não me escuta... – Belle parou, decidindo se dizia mais alguma coisa ou não. — Seria tão ruim assim considerá-lo?
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...