Capítulo XXXVII

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         Pela segunda vez naquele dia Killian observou Emma andar para longe dele, mas se mais cedo ela se afastou cabisbaixa e ombros caídos pela decepção, dessa vez a mulher se afastava com a postura empertigada e passos duros, como se tentasse manter a dignidade após as palavras grosseiras que ouvira dele.

Após ouvi-lo mandá-la embora.

O anel que Emma empurrou em seu peito parecia queimar e pesar a palma de sua mão. O fato dela ter devolvido aquele objeto que indicava que estavam juntos de verdade, apesar de o capitão tê-lo dado em um momento de brincadeira, era prova que, de todas vezes que ele fora rude com ela, dessa vez ele tinha ido longe demais.

Jones deu um passo com a intenção de segui-la, porém parou, a consciência de que se antes ela queria conversar, agora, mais do que nunca, o pedido que havia feito para que não a tocasse nunca mais era sério.

—Tsc! – o estalo de língua decepcionado o fez girar em seus próprios calcanhares e encontrar Libélula o encarando severamente. — Eu sempre soube que faltava um pouco de inteligência nessa cabeça, mas nunca imaginei que você seria tão burro assim. – atalhou que irritação. — E eu realmente achei que dessa vez seria diferente.... De que talvez vocês fossem conseguir. Mas parece que você gosta de afastá-la. Parece que você quer perdê-la. – pontuou.

—Agora não, Libélula. – resmungou, voltando a caminhar. Durante a briga, Zirba, muito esperta por sinal, havia se afastado e agora ele estava sozinho.

—Você vai se arrepender de mandá-la embora.

—Eu já estou arrependido. – grunhiu com impaciência. Adorava Vovó, mas tudo o que ele menos precisava era ela pontuando seus inúmeros erros daquela noite. Precisava conversar com Landon e garantir que ele cuidaria para que aquela teimosa impulsiva não fosse mesmo embora no maldito navio. Se tinha alguém que Emma iria ouvir era o seu contramestre.

Os olhos cinzas leitosos o estudaram com atenção.

—O que foi?

A velha negou com a cabeça e suspirou.

—Por mais que sejam destinados, que suas almas foram feitas do mesmo material, não há coração partido que suporte. Você deveria protegê-la, Killian. Deveria ser o herói e guerreiro dela. Mas acho que talvez ela estivesse melhor com o amigo oficial ou com o capitão que conhecera em Króstal.

A menção aos outros dois homens que a queriam fez o ciúmes queimar em seu âmago.

Killian sabia disso. Sabia que qualquer outro homem seria melhor para ela. Ainda assim, a ideia de outro tê-la o fazia querer arrancar os próprios olhos.

Ele queria conseguir ser bom para ela. Queria que Emma começasse a considerá-lo como uma opção para passar a vida.

No entanto, ela pensava que ele queria apenas usá-la. Comê-la, como havia dito, como se ela fosse um pedaço de carne. Então achava que a jogaria fora, como se ela só servisse para ele se divertir. E depois do que dissera, o capitão não tinha dúvidas de que achava que estava certa.

—E não adiante dizer que vai mudar por ela. Você tem que mudar por você antes de querer mudar por qualquer outra pessoa, garoto. Se você quer ser melhor, comece fazendo o que é certo. – alertou e simplesmente saiu andando, como se ele não valesse mais o seu tempo.

Jones sabia muito bem o que Vovó queria dizer. Para ele ser melhor, tinha que ser transparente com Emma. Sem mais segredos. Contudo se ele fizesse isso após a discussão que tiveram, era claro como dia que Emma nunca mais olharia em sua cara.

—Eu preciso de outra bebida. – murmurou para si mesmo, antes de sair em direção a cabana de Zirba.

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Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora