Capítulo XLV

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Mais uma foda em que se sentia completamente vazio e sujo. Killian já não sabia mais o que fazer para se sentir melhor, ou pelo menos parcialmente inteiro.

A culpa o atormentava. Ele poderia dizer que era a saudade, que também apertava seu peito, mas a verdade era que o sentimento de culpa o sufocava a cada instante que estava de olhos abertos e o engolia quando tentava dormir. Quando fechava as pálpebras, tudo o que via, tudo o que sentia, era o momento em que Milah, sua Milah era jogada para fora do navio e esmagada pelas águas furiosas pela tempestade.

Milah. Sua Milah. Senhora da Jolly Roger havia morrido por culpa dele. A mulher que era sua companheira estava morta e ele não havia feito nada além de ver acontecer.

Landon dizia que o que ele estava sentindo era apenas luto. Que a ausência doía mais do que a perda. Seu contramestre deveria estar certo, se a situação fosse diferente. Porém existia uma linha tênue no luto e no sentir, que era ultrapassada quando alguém que você ama morre diante de seus olhos, por consequência de sua negligência, que faz com que o remorso o consuma.

Ele deveria ter pedido para que Milah ficasse em segurança na cabine. Que não fosse ajudar a manter o navio na hora da tempestade. Achou que ela era apta a estar no meio deles, ajudando.

Achou que ela seria para sempre ao seu lado.

Grande tolo. Agora estava sozinho. Buscando conforto em braços e corpos que nunca seriam tão aconchegantes quanto aquele que havia perdido.

E nem sabia se queria achar outro.

Não tinha certeza se queria superar.

Não tinha certeza se tinha esse direito de achar felicidade ao lado de outro alguém.

O capitão olhou o relógio de bolso. Deveria se encontrar com alguém em instantes. Alguém que ele não sabia quem era, mas que prometia ter uma saída para o seu sofrimento.

Ele já havia tentado quase tudo. Procurara em cada porto na esperança de que ela tivesse sobrevivido e sido levava para algum lugar. Só não havia ainda tentado trazer alguém de volta à a vida.

Valia a tentativa quando esse alguém era a mulher da sua vida. Não importava o preço que iria pagar, ele só queria que parasse de doer.

-Capitão Jones?

O homem virou-se em direção à voz perigosamente aveludada e encontrou uma bela e elegante mulher perto da meia-idade. Ele a estudou de cima a baixo e tombou a cabeça.

-Vejo que minha habilidades estão repercutindo.

Ela sorriu com desprezo, sem mostrar os dentes.

-Apesar de tentador, não estou aqui por causa dessas habilidades.

Killian riu e olhou para longe.

-Você é Vándr?

A mulher fez uma reverência.

-Esse é um dos meus muitos nomes, digamos. - disse, uma sobrancelha arqueada. - Você parece decepcionado, capitão.

Jones negou com um meneio debochado e se voltou para ela.

-Eu só não esperava uma lady. Não vejo muito o que você pode me oferecer.

A expressão da mulher se tornou de zombaria.

-Não se deixe enganar pelas aparências, caro capitão. E nem me subestime. - murmurou, aproximando-se do homem, até estar perto o suficiente para deslizar a mão pelo peito de Killian que prendeu a respiração quando os pelos de sua nuca se eriçaram em alerta. Ela sorriu e o fitou, forçando-o a olhar para baixo. - Eu sei que sua senhora morreu. Sei também que faria qualquer coisa para tê-la de volta. Está desesperado. Além de sua fama de pirata mais temível dos mares. Dizem que o senhor não tem nenhum sentimento dentro de seu coração. O que o torna perfeito para o trabalho que irei oferecer.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora