Traiçoeiro (Em Revisão)

Capítulo XVIII

Killian ouviu uma batida na porta de sua cabine e logo seu contramestre entrou, a mesma expressão fechada de mais cedo, quando toda a cena com a garota Mills havia acontecido no convés. Nos últimos dias, os dois não estavam no melhor dos humores por conta de todo o estresse. Landon estava tomando demais as dores da jovem "escondida" e tudo o que Jones fazia era motivo de críticas ou discussões.

Em todos os anos em que já tinham convivido, Killian não se lembrava de ter brigado tanto com o outro homem como agora e, não que fosse admitir, isso o chateava. Landon não se esforçava para ver que a situação também não o fazia feliz, mas que infelizmente era necessária.

—O que aconteceu? – Jones quis saber, tomando cuidado para manter a voz o mais indiferente possível. Depois que ele deu as costas para a garota no convés, o último vislumbre que tivera dela era de seu olhar de ódio antes que corresse para se esconder no interior do navio. Ele não havia ido atrás dela. Poderia, para prolongar a cena e durante a discussão "descobri-la" ali dentro e assim acabar logo com aquilo.

O problema era que Killian se recusava a ir atrás da jovem. Se alguém deveria procurá-lo era ela para contar que estava ali.

Ele só esperava que agora, após toda a agitação causada no dia, a garota acabasse com aquilo para que pudesse trancá-la na cabine que estava preparada só para ela e assim parasse de ser um peso morto para a tripulação. Certo que a jovem se esforçava em suas tarefas, mas quando se era alguém que sempre tivera outra pessoa para fazer tudo dificilmente seu trabalho saía bom e sempre era preciso que fosse feito novamente.

—Emma finalmente subiu e revelou sua identidade para mim. – informou o contramestre impassível.

O capitão realmente tentou lutar contra o sorriso de vitória que quis surgir, para não irritar mais Landon, porém percebeu ser incapaz quando viu a raiva relampejar nos olhos cinza do outro e ele se endireitou na cadeira, mexendo em alguns papéis para esconder sua ansiedade, enquanto esperava por todo o resto que sabia que ainda iria vir. Landon não havia dito uma palavra mais cedo sobre o que Killian fizera, contudo isso não significava que não viria agora.

—Eu a coloquei para dormir na minha cabine. – continuou. — Ela não tem condições emocionais para lidar com o senhor ou seja lá o que quer com a garota. Você não irá importuná-la mais hoje, está me ouvido, Killian? – inquiriu, ao aproximar-se da mesa e apoiar as mãos nelas.

Jones ergueu os olhos, uma expressão de inocência estampada em seu rosto.

—Não me lembro de tê-la importunado hoje, Landon.

O contramestre riu com sarcasmo e revirou os olhos.

—Você só a empurrou no seu limite, não é mesmo?

—Foi um mísero corte, Landon. – retrucou com irritação. — Não é como se eu tivesse acertado a jugular dela ou tivesse tentado decapitá-la. E outra, o punhal estava jogado por aí, as regras se aplicam a ela no momento que a senhorita Mills quis entrar para a tripulação desse jeito.

Landon cruzou os braços e o estudou atentamente com tamanha decepção que Killian lutou contra a vontade de se encolher como se fosse uma maldita criança.

—Ah, certo, mais uma coisa para adicionar à lista. – atalhou com ironia. — Acho que vou precisar de um novo caderno para anotar tudo que é culpa dela até o final de seja lá o que estamos fazendo.

Jones respirou fundo e se recostou na cadeira.

—Aqui está você me julgando, mas me ajudou não é mesmo? – inquiriu, uma das sobrancelhas arqueadas. — Você poderia ter avisado Henry, poderia ter me abandonado... Mas ainda assim, mesmo contra a sua "vontade". – fez as aspas com os dedos. — Seguiu me ajudando.