Morgana acorda de manhãzinha, sente um cheiro delicioso e bem conhecido, mas que há tempos havia ficado somente na memória. Ela chega na mesinha da sala e tem café quentinho e biscoitos sobre ela.
Ela toma seu café intrigada com um barulho que a incomoda, vindo lá de fora. Um ruído forte, mecânico, como um animal feroz agonizando. Ela come, e com seu copo de café ainda na mão vai em direção a porta. Na medida que sobe os degraus da entrada do abrigo o barulho vai ficando ainda mais forte, podendo sentir no ar a pressão que esse som causa.
Seus olhos começam a avistar pela abertura da entrada do bunker a suave luz do sol, recém-nascido, dos primeiros minutos do dia.
Estando totalmente fora, fica por um instante paralisada com o que vê diante dela.
Uma moto robusta, em boas condições de conservação, flutua a quase um metro de altura do chão. Jow está sentado ao seu lado, mexendo em suas entranhas e provocando seu ronco nervoso. Norffi flutua junto a Jow, auxiliando no serviço.
— Oi Morgana, bom dia.
— Nossa!!! Então essa é a moto para a qual você comprou as peças no mercado? Bom dia inclusive.
— Sim, é essa mesma. Desculpa por ter te acordado tão cedo, não era intenção. Mas era impossível não fazer barulho.
— Não, tudo bem. Não foi o barulho que me acordou, foi o delicioso cheiro de café que há tempos não sentia. Voltando a falar da moto, agora eu entendo por que você caminhou por mais de duzentos quilômetros, se arriscou na cidadela e depois caminhou tudo de volta. Jow, ela é magnífica. Eu teria feito o mesmo.
— Ela foi presente do meu avô, quando eu tinha apenas 16. Ele era um pouco precipitado.
— E seu pai deixava você dirigir com essa idade?
— Ele era meio ausente. Esse era o jeito que ele via de compensar. Eu ficava mais com o meu avô, fazia o que queria praticamente. Vê essa marca aqui? É o símbolo da nossa família. É uma tríade paternal, representa avô, pai e filho... Aqui já está resolvido, a moto está consertada, Norffi também, precisamos ir logo buscar seu equipamento. Você não pode ficar ausente por muito tempo, sua mãe precisa de você.
— Tem razão, vamos logo então.
Jow desliga a moto e a cobre com a capa, em seguida os três descem abrigo a dentro.
— Morgana, lá no quarto tem muitas roupas, talvez encontre algumas que te sirvam. Vou lá na cozinha pegar alguns suprimentos para levar.
— Tudo bem, não demoro.
Morgana retorna com um sorriso e traz consigo um tecido preto grosso, aparentemente pesado sobre os braços. Mas ao chegar na sala fica paralisada ao ver Jow vestido com algo diferente do que esteve esses dias.
— O que é isso? Uma armadura? Você é um soldado da guarda da Corporação?
Jow sorri.
— Não, não mesmo. Isso é um traje, era um projeto experimental desenvolvido para soldados, preparado para diversos tipos de situações a serem enfrentadas, tiroteio, gases, incêndio... Como era muito caro devido sua estrutura foi considerado inviável e o projeto abandonado. Então, quem o projetou me deu esse de presente, pra se livrar de uma tralha. Tem me servido bastante desde então, é quase minha segunda pele. Mas me diz, o que é isso você tem aí nas mãos?
— Ah, verdade. Eu encontrei uma coisa lá dentro, trouxe pra você ver. Acho que vai ficar bom em você.
Jow desdobra o tecido, e estranha o que vê.
— É um tipo de capa de caça Morgana, longa, com capuz e vai até o tornozelo.
— Parece ser o seu tamanho. Deve ficar bacana por cima desse traje. Experimenta pra gente ver como fica.
Jow coloca aquela veste sobre o traje.
— Sinistro. Ficou parecendo a morte, só falta a foice.
Jow sorri.
— Gostei, vou ficar com ela. Vai me disfarçar um pouco.
— Sim. Bem discreto a morte caminhando a luz do dia.
Os dois sorriem.
— Enquanto estava me vestindo fiquei pensando. Por que estava juntando suprimentos para levar, se a viagem vai ser rápida?
— Por mais que você viveu entre eles e os considera seus amigos, você deve se lembrar que não faz mais parte do bando. Precisamos mais do que seu sorriso e simpatia para convencê-los a nos entregar seu equipamento.
— Não se preocupe, Jow. Eles são legais. Não vão me negar isso.
— Você tem um coração inocente Morgana. Os tempos mudaram. As pessoas mudaram. Precisam comer para sobreviver e a sobrevivência vem primeiro que a amizade e a caridade. Vou levar por precaução.
— Tudo bem. Eu estou pronta. E você?
— Também estou. A propósito, qual era mesmo o nome do seu clã?
— Filhos da noite.
Jow fecha o cenho. Não consegue disfarçar a sua mudança de expressão.
"Era o que eu temia." — Pensa ele. Um calafrio percorre a sua espinha.
— O que foi Jow? Algum problema?
— Não. Nenhum. Temos que nos apressar se quisermos chegar logo.
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Научная фантастикаO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...