Jow precisa de Norffi! Jow precisa de Norffi! — Diz para si mesmo o robô caído entre as rochas, enroscado na rede de eletro carga.
Sua mente cibernética faz um paralelo desse momento de crise, com o já vivido por ele há algum tempo. Cresce ainda mais seu desespero, seu medo de falhar com sua família novamente. Movido pela emoção e a carga de energia extra sobrecarregando seus sistemas, ele para de se debater, seus olhos azulados ficam vermelhos e ele reage em um estouro.
— Dessa vez não!
Os Soldados ouvem um guinchado estrondoso, como um animal selvagem em agonia de morte. Todos param, Sargento Allan dá a ordem:
— Martin e Rodrigues, vão verificar!
Quando eles se aproximam da direção de onde saiu a fonte do barulho, surge por trás das pedras, como um espectro enfurecido, uma silhueta mecânica de 2 metros e meio de altura de olhos vermelhos fumegantes, e com um golpe só, joga longe os dois. Gomes, que está a meio caminho entre o robô e os outros dois levando Jow, se apavora em armar o cartucho de rede no canhão. Em um salto Norffi está diante dele e põe a mão na arma, Gomes treme as mãos e a solta com o robô. Com o aperto dos dedos Norffi danifica a arma, retorcendo como se fosse lata de refrigerante. Com a outra mão, desfere um soco nocauteando-o, já com o Soldado caído no chão, volta seus olhos aos dois restantes.
— Russo, tente detê-lo, eu vou buscar o armamento pesado. — Diz o Sargento Allan a Chercov antes de sair em disparada em direção ao Ford Combat.
Chercov larga Jow e fica em posição de ataque desafiando Norffi. Este, voa e pousa bem diante dele atendendo ao chamado. Chercov sorri e desfere socos na altura do abdômen, causando grandes amassados. Norffi olha para ele e sorri de volta, suas placas escamadas vibram no corpo todo, voltando ao seus lugares. Checov olha assustado, notando que não causara nenhum dano ao robô. Quando olha para cima, sente os dedos de metal se fecharem em sua garganta, ele tenta se soltar e a pressão na garganta aumenta ainda mais, quando seus pés saem do chão.
Norffi levanta voo, segurando Chercov que se agarra a ele, tentando apenas não ser estrangulado. Norffi baixa bem em cima do seu alvo: o Sargento Allan, que corria freneticamente em direção ao carro, mas é derrubado, em seguida arrastado pelos pés e jogado ao chão, perto de Jow. Antes que tentasse se levantar, sente o peso do corpo de Chercov ser jogado sobre ele, e tão logo, o pé de Norffi sobre eles.
Ainda sentado no chão, assistindo com um sorriso de canto de boca a reviravolta de sua situação nesses últimos segundos, Jow se dá conta que não usaram armas de fogo ou letais contra ele, nem mesmo as estão portando, apenas armas de contenção.
Jow fica de pé diante deles.
— Chaves das algemas.
O Sargento joga as chaves aos pés dele, ele as abre libertando suas mãos e seus pés. Em seguida, saca seu revólver, que todo esse tempo estava nas costas, alojado e escondido sob o traje. Ele faz questão de abrir o tambor, girar e fechar de novo em um estalo, para que o som inconfundível deixe bem claro o que ele tem nas mãos. Sargento e Russo tremem ali no chão, temendo o que está por vir.
— Senhores, este é um Tupi 42, um clássico, conhecido como canhão de mão. Um único tiro pode atravessar vocês dois e deixar a bala plantada neste solo... Então eu sugiro que não se arrisquem a brincar comigo, pois, diferente de vocês, eu estou disposto a matar pela minha vida.
— Norffi, traga os outros três.
O robô dá um pulo e já cai sobre Gomes, que ainda está desacordado, ele pega-o com uma das mãos e já aproveitando o impulso do pouso, lança-se de novo e cai entre Martin e Rodrigues, que já tentam se levantar, ainda zonzos. Ele pega um pela nuca da farda e em seguida o outro. E em um terceiro pulo, pousa onde está Jow, e os Joga, fazendo um amontoado de homens.
— Com as mãos na cabeça, levantem e fiquem de joelhos, de costas para mim.
Jow olha para Norffi, seu rosto está inchado, mas dá para notar sua expressão de raiva e malícia.
— Norffi, traga o canhão de redes, tive uma ideia.
Assim que o robô chega com arma e as cargas Jow ordena:
— Vocês dois, primeiros da esquerda. De frente um para o outro, vamos, testa com testa.
— Norffi, Dispare.
— Urrrggg!!! — Urram os homens com a dor da forte contração nos músculos causada pela descarga elétrica.
— Os outros dois aí. Vocês também. Testa com testa. Você não grandão... tem uma rede aqui só para você.
— Dispare, Norffi.
— Clank! Clank! — Norffi efetua os dois disparos.
— Arrrggghhh!!! — Um grito e três corpos caindo no chão presos na rede, tremendo e com os músculos travados.
— Norffi, traga-os para cá, fique aqui e mantenha os olhos neles.
Jow guarda a arma de volta no traje. Recolhe sua faca no chão e vai até sua moto. Por sorte a rede a protegeu do impacto da queda, ele corta os fios, a liberta, e em um instante, o ronco do motor chama atenção de Norffi, que brevemente olha na sua direção.
Jow, já montado na moto, olha para cima, vê o que Norffi acabara de fazer e dá um sorriso.
— Bom trabalho, Norffi.
— Obrigado, Jow.
— Só temos mais uma coisinha para fazer aqui e vamos embora.
Jow sai daquele lugar, voando na moto no máximo que ela aguenta. Norffi mal consegue se segurar sobre a sua vaga na traseira, sua mão trava na tentativa de se prender, e mesmo em modo compacto, é quase arrancado de cima dela pelo vento.
Na mente de Jow, mil pensamentos o assombram.
— Eles sabem da Morgana. O que querem com ela? Como souberam? Não importa, o quanto antes eu sumir daqui melhor. Eles não devem saber muita coisa. Ela vai estar segura na Cidadela, ela sabe se esconder. Lá se vai meu dia de descanso.
Depois de menos de duas horas de voo, eles chegam de volta ao abrigo. Descem às pressas para fazerem a bagagem.
Jow pega algumas roupas e lençóis pra servir de agasalho e algumas ferramentas.
— Norffi, pegue o que conseguir de comida. Vamos encher duas mochilas.
— Tudo bem, Jow. Norffi pega.
— Que desgosto Norffi. Precisamos mesmo deixar tudo isso pra trás? — Jow reclama olhando para o interior da geladeira.
— Jow, Norffi recebeu uma mensagem da Morgana.
Jow se vira instantemente para o robô.
— E o que diz Norffi? Ela quer saber se já chegamos?
— Não, Jow. Acho melhor você ver isso.
Quando Jow chega, Norffi tem apenas uma palavra em preto piscando no seu visor de luz leve azulada.
— SOCORRO!!!
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Science FictionO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...