Os Kynawa - 76

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          Na medida que ganham mais estrada, a paisagem começa a mudar, surgem os primeiros sinais do fim das areias desérticas, o solo vai ficando vermelho, começam a aparecer vegetações ao longe e com elas o dia vai se esvaindo lentamente, parece que é ainda mais lento quando se está com pressa.

          Aos poucos a sensação de mais segurança inunda o coração de Jow acalmando suas emoções.

          — Senhores, como imaginei, conseguimos ganhar estrada o suficiente pra deixarmos a tempo o território islamita, mas entramos em um outro terreno tão hostil quanto. A diferença é que acredito que possamos passar por este, sem conflitos.

          — Seja mais claro Senhor Jow, onde estamos? — Pergunta o Tenente Hans.

          — Esta é a reserva dos Kynawa. Um povo indígena, não se sabe ao certo sua origem, somente que se instalaram neste lugar há não muito tempo e se fixaram tão bem que conseguiram que todos os respeitassem, nem mesmo os grupos extremistas os desafiam aqui. As circunstâncias estão contra nós nesse momento, está anoitecendo e estamos fora de casa, então fiquem atentos a qualquer movimento e não tomem atitudes precipitadas, na dúvida, me chamem no rádio.

          O escuro da noite alcança todos eles, a estrada embrenha em meio a uma floresta densa e os sons da mata estão por todos os lados, um clima de tensão assombra a todos, inclusive Jow.

          A estrada agora chega em um corredor que fora aberto no meio de uma encosta, cortando ao meio uma enorme montanha, não é possível ver nem mesmo o pico dos paredões dos dois lados. Jow faz sinal para pararem o comboio bem à beira da entrada:

          — Tenente, deixemos as equipes aqui paradas e nós dois vamos até o final pra fazer a oferenda.

          — Oferenda?

          — Sim, pagar a taxa de passar por estes territórios e mostrar que estamos em paz.

          — E como faremos isso?

          — O Senhor verá. Pegue uma moto e venha comigo.

          Jow vai até o blindado militar grande, pega uma caixa e um rolo de cordão. Ele e o Tenente seguem no escuro montanha adentro, enquanto os outros membros esperam na estrada diante do que mais se parece com um portal macabro.

         Jow vai com a moto somente na propulsão para que fique mais silenciosa. O Tenente segue ao seu lado em baixa rotação.

          Não demora e eles atravessam a montanha chegando em uma parte florestal novamente, Jow pára a moto e encosta na beira da estrada, pega a caixa na garupa, O Tenente repete o gesto estacionando ao lado da moto dele.

          — Norffi, passe para o modo estendido e fique de guarda, mantenha-se em alerta, até que ganhemos a livre passagem estamos expostos.

           Mais que depressa Norffi está de pé junto de Jow.

          — O que tem na caixa? — Quer saber o Tenente.

          — Tabaco, rapadura e cachaça.

          — Mas pra que essas tralhas aqui no meio da estrada? Quer agradar algum animal?

          — Cuidado com o que fala aqui nessas terras, Tenente. Estamos sendo observados, ao invés da gente conversar e se arriscar antes da hora, pegue a ponta desse cordão e amarre ali naquele galho, vamos fazer um varal. Me ajude a pendurar as coisas que estão na caixa uma a uma.

          Assim que terminam, eles voltam para as suas motos e retornam.

          — Senhores, vamos em uma única fileira, usem somente os faroletes dos veículos e mantenham o pé levemente colocado no freio para manter acionadas as luzes, dessa forma quem estiver atrás conseguirá lhe ver bem. Vamos devagar, na velocidade de 30 km/h apenas até que vejamos o sinal. Fiquem todos atentos às minhas instruções, quando formos recepcionados não façam movimentos bruscos e não os olhem nos olhos.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora