— Opa opa, calminha aí, eu não seria uma boa caça, acho que minha carne tem sabor nada agradável.
Jony abaixa imediatamente a besta, está atónito, aturdido com o que seus olhos veem surgir de trás da árvore. Seu avô tem cara de desapontado.
— Que bacana Doutor Jonathan, conseguiu nos encontrar. — Ele diz em tom irônico.
— Eu pedi pra que não saíssem sem mim. Disse que viria.
— Que garantia eu tinha que não seria só mais uma das suas? Não podíamos perder a hora da caça.
— Eu não quis perder essa caçada. Quero ter ao menos uma com meu filho para recordar.
— Já é alguma coisa, pensei que não fosse ter nenhuma. A não ser que fossem caçar burocratas corporativos. — Baltazar destila ironia ao falar com o filho.
— Como conseguiu nos encontrar, pai? — Pergunta o garoto ainda surpreso com a presença de seu pai ali no meio da mata, sem seu terno habitual, vestido com roupas que geralmente só via seu avô vestindo.
— Bom, assim que eu cheguei sua avó disse que tinham acabado de sair, eu me lavei com o sabonete de planta do seu avô, troquei de roupa e segui seus rastros. Posso não parecer, mas também sou um caçador.
Jony se acaba de rir, segurando a mão na boca para suprimir seu impulso e o barulho. Seu avô apenas abre um sorriso e olha para o garoto, em seguida para o filho. Jonathan levanta a cabeça como quem tem a atenção chamada por outra coisa e volta-se para o garoto.
— Parece que vocês não conseguiram nada ainda, se não, não estariam comendo feijão enlatado.
— Achamos um cervo, mas era uma fêmea e estava com filhote, eu quase a matei, ainda bem que o vovô não deixou. — O garoto fala e por um instante seu semblante de remorso volta ao se lembrar.
— E aí? Seu avô te contou toda aquela história de respeito pela natureza e tudo mais?
— Contou sim, mas o senhor não acredita, né? — O garoto pergunta desapontado.
— Um pouco sim, e um pouco não. Eu tenho uma opinião diferente do seu avô, ele fantasia demais, mistifica demais uma coisa simples: caçar e comer. Eu acho que a natureza nos fez superior por um propósito, somos parte dela, mas não somos selvagens e não conseguiremos ser por mais que queiramos. Somos o que somos, devemos nos aceitar e agir como tal. Mas se quer um conselho de verdade, ouça seu avô, o que ele te ensina será mais útil aqui, esse é o mundo dele, disso ele entende melhor que ninguém... Mudando de assunto. O que acha de um javali gordo então? — Jonathan propõe ao garoto.
— Seria uma boa caça. Eu gosto de carne de javali.
— Você se importa se eu o abater?
— Ra ra ra. Nem um pouco, se o senhor conseguir. — O garoto fala em tom de deboche e desafio, e entrega a besta a ele.
Ele olha para Baltazar, dá um sorrisinho, pega a besta com o garoto, a vira ao contrário encostando a ponta da flecha no ombro, coloca uma mão bem a frente no cabo e a outra no gatilho, e olha na mira do lado inverso.
— É assim que usa esse negócio?
— Claro que não pai, ficou doido?! Vai perder o braço desse jeito.
O garoto dá um pulo e imediatamente tira a besta das mãos do pai, colocando-a na posição correta e devolvendo a ele que somente olha para Baltazar e os dois sorriem da aflição do garoto.
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Ciencia FicciónO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...