Provocações sedutoras - 116

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          O Coronel passa o rádio com as novas orientações ao comandante dos Leviatãs, que imediatamente altera o curso que seguiam e passa a ir em outra direção, enquanto os militares de patrulha do Vale seguem para seu batalhão onde são aguardados com novas orientações.

          Assim que chegam no batalhão, são recebidos por Major Banks e Capitão Vince que os aguardavam:

          — Senhores, quero agradecê-los pela missão bem sucedida. A Corporação mandou gratificá-los. Portanto, todos vocês já estão de férias de suas funções, podem descansar e fazer o que quiserem, usem seu distintivo para terem livre passagem e permanência em qualquer território patrulhado, ou até mesmo apoio em territórios hostis. Já para a Srta. Kalitch tenho algo especial... quero tratar contigo no meu escritório. — Informou Major.

          Seguem os três até o escritório, Major, Kalitch e o Capitão.

          — Senhorita, você serviu com honras o nosso batalhão, foi de grande valia e muita ajuda, mas sua história no destacamento incomodou a alta gestão militar da Corporação, e a General solicitou que fosse liberada de suas obrigações militares. O acordo que foi feito ao seu povo será mantido, e você levará consigo esta carta de dispensa, dizendo que sua dívida conosco fora quitada, para que possa ser aceita novamente entre os seus.

          — Então o Sr. está me dizendo que com esse papel eu não tenho mais nenhuma obrigação e compromisso com o batalhão e muito menos com a Corporação?

          — Exatamente.

          — E meu povo será deixado em paz?

          — Assim como foi acordado, desde que não descumpram sua parte. Tem mais alguma coisa que queira saber?

          — Não, Senhor.

          — Então devolva suas armas e seus uniformes e está dispensada. Assim que estiver pronta, uma patrulha irá levá-la até a divisa de territórios do seu povo e a partir de lá estará por sua conta.

          Kalitch leva algum tempo pra se arrumar e o dia já começa a entardecer, ela sabe quantas horas são necessárias pra ir do batalhão até a divisa do vale com as regiões rebeldes, até o ponto mais próximo do acampamento dos ciganos, pra ser mais preciso. Ela pega seus pertences pessoais, apenas poucas coisas e aproveita da leve sensação de confiança de ambas as partes para se preparar enquanto ninguém a observa. Ela veste sua roupa comum: camisa e calça de tecidos grossos, o que ela sempre gostou, mesmo entre os seus, suas botas, amarra os cabelos e os prende com dois prendedores brilhantes em X. Ela sempre gostou muito deles, pois na verdade são 4 varetas metálicas que se encaixam formando em 2 pares. Seu punhal companheiro discretamente encaixado dentro da bota e o restante, na bolsa.

          Ela se arruma de forma demorada, acompanhando com cuidado o passar dos minutos, até chegar o momento certo. Mas antes que termine, o Capitão a apressa:

          — Srta. Kalitch, você não tem mais tempo, a Patrulha Raposa possui uma missão no Vale e irá deixá-la no ponto combinado. Eles já estão prontos nos veículos, partindo. Termine logo e vá para o pátio.

          — Vai ter que servir. — Ela pensa consigo. — Tudo bem Capitão, estou pronta.

Imediatamente, finaliza o que faltava e vai até o pátio onde uma caminhonete e duas motos já estão posicionadas e ligadas. Ela vai até o Capitão e entrega seus uniformes, o mesmo os confere brevemente e se despede dela com poucas palavras e continência. Ela agradece e repete o gesto, em seguida caminha em direção a caminhonete, onde vê que os assentos de motorista e passageiro já estão ocupados, no banco de trás, já possui um soldado sentado atrás do motorista, e do lado de fora um outro soldado a aguarda com a porta aberta e um sorriso pretensioso. Logo atrás, duas motos já tripuladas: uma com piloto e garupa e outra apenas com o piloto.

          — As damas primeiro. — Diz o soldado que a aguarda segurando a porta com uma mão e com a outra faz um gesto indicando que entre. Seu rosto não é conhecido, ela não se lembra de tê-lo visto nenhuma vez, e nenhum dos outros ali.

          — Obrigada pela gentileza. — Ela finge um sorriso e simpatia, embora esteja desconfortável em sentar entre dois homens e longe das portas. Enquanto sobe, ela desabotoa mais um botão da blusa deixando ainda mais evidente seu decote.

          Eles viajam por várias horas em total silêncio, ela observa distraída o Sol se pôr e a luz se esvair, até estarem totalmente no escuro, salvos apenas pelos faróis da caminhonete a frente e das motos constantemente atrás, enquanto finge não notar os olhares nada discretos lançados ao seu corpo a todo instante pelos seus colegas dos lados e pelo retrovisor da frente.

          Então a paisagem à sua volta muda, à esquerda da estrada ainda há o cerrado característico do Vale, e a direta surge uma mata, primeiramente bem sutil que vai ficando mais densa à medida que vão passando os quilômetros. Os sons abaixo dos pneus mudam, deixando claro que estão na parte menos conservada da estrada, com maior quantidade de buracos e cascalho na pista. A essa altura ela sabe exatamente onde está, mas resolve conversar:

          — Puxa, já andamos bastante. Quanto tempo ainda falta pra chegar no ponto que eu fico?

          — Ah, se continuarmos nesse ritmo, talvez levemos mais uns 40 ou 50 minutos. — Responde o motorista olhando pra ela pelo retrovisor com um olhar malicioso.

          — Isso vai depender de você, talvez queira parar no meio do caminho pra fazer alguma coisa... Quem sabe né?

          Ela dá um sorrisinho e lança um olhar convidativo, como quem entendeu o que ele quis dizer.

          — Ah, quem sabe né?

          — Aproveitando o momento, tenho uma curiosidade: já se envolveu com alguém do quartel enquanto esteve lá?

          — Nossa, tá ficando quente aqui né? — Ela leva a mão no cabelo e tira os prendedores, soltando seus longos cabelos negros e criando um pequeno espetáculo de exibição que imediatamente eriça os homens no carro. Até mesmo o motorista se distrai um instante da estrada pra olhar para ela lá atrás pelo retrovisor, enquanto o passageiro ao seu lado vira todo o rosto.

          Ela disfarça uma falsa timidez e enquanto solta os cintos de segurança seu e do que está a sua direita, ela respira fundo, fazendo seus seios quase saltarem, para criar uma maior distração. Quando termina de respirar, ela diz em um tom entristecido:

          — Com ninguém, vocês acreditam? Nesse tempo todo não fiquei com ninguém do quartel...

          Ele logo continua:

          — Mas já teve vontade de ficar com alguém?

          — Ou com dois? — O soldado à sua esquerda se empolga em perguntar.

          Ela novamente dá um sorriso voluptuoso e abre os braços repousando suavemente sobre os ombros dos seus colegas, corre o olhar brevemente pra garantir que tem a atenção total naquele momento, olha pra cima e responde:

          — Nossa, essa é sem dúvidas uma proposta tentadora, só tem um probleminha...

          Dito isto ela enterra um prendedor na jugular de cada um dos dois ao seu lado, o sangue jorra dentro da caminhonete. O soldado do banco da frente estava com a pistola o tempo todo na mão direita, ele saca, aponta pro rosto dela e dispara. Ela desvia o rosto mas mesmo assim é atingida de raspão na orelha. Com a mão esquerda, ela puxa a mão dele, em que está a arma, o desarmando, joga seu corpo pra trás puxando-o com ela e para ter espaço para as pernas e desfere um chute no seu queixo que o deixa inconsciente na hora, dando a ela a chance de cravar seu outro prendedor garganta acima. O motorista se assusta e tenta atirar nela passando a mão esquerda com a arma por cima do ombro direito e, mantendo a mão direita no volante.

          — Que porra é essa aí, sua vagabunda?!

          Ela se adianta e antes que ele possa atirar, segura a pistola impedindo o disparo e também o desarma, segura seu dedo para imobilizá-lo e finca o último prendedor na mão dele grampeando-a acima do seu ombro direito até o banco que está sentado, impedindo que tirasse a mão. Saca o punhal e o apunhala abaixo do seu joelho direito, pra que cortasse seus tendões e travasse o pé no acelerador. Sabendo que estão em solo cascalhoso, Kalitch puxa o freio de mão com a mão direita e roda o volante violentamente com a esquerda, fazendo a caminhonete girar uma vez e capotar.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora