— Olá, cachorrão. Podemos lhe fazer companhia um pouco? — Melissa vem acompanhada de Zoe.
— Olá, Senhorita Zampollo.
— Ra ra ra. Não precisa me chamar assim, isso soa até estranho vindo de você. Pode me chamar só de Melissa.
— Tudo bem, Melissa, como quiseres. Vocês podem nos fazer companhia, será uma honra.
Jow termina de montar o aparato que ele usa pra descansar as noites quando está na estrada, ele se arruma sob a grama ao lado da moto e de seu robô, quando Melissa se aproxima dele.
— Você nunca tira esse traje é? Num cheira mal não? — Melissa fala e sorri.
— Eu tiro sim. — Jow também ri de forma simpática. — Tem um riacho um pouco abaixo, ao sul da aldeia, agora há pouco fui lá, tomei banho e lavei meu traje também, já estou com ele a tanto tempo que sinto que faz parte de mim, uma extensão da minha pele. Mas num chega a cheirar mal não, pelo menos eu acho...
Ele estende sua cama e deita no chão olhando pra cima, ela deita ao seu lado do mesmo jeito, Zoe senta logo ao lado dos pés dela, sempre de vigia.
— Você vive na estrada, por que não tem uma barraca?
— Não gosto de barraca, tenho meus colchonetes que me dão o conforto que preciso, e me permitem me aprontar mais rápido, tanto pra dormir quanto pra partir.
— Só por isso?
— Não. Gosto de dormir olhando as estrelas. Era assim que dormíamos nas noites de aventuras na montanha, forrávamos o chão com folhas e dormíamos olhando o imenso céu estrelado acima de nós.
— Vocês quem?
— Eu e meu avô. Ele me ensinou muito do que eu sei.
— Jow, quero te fazer uma pergunta pessoal.
— Pode fazer, Melissa.
— Alguma vez, depois que tudo acabou por aqui, você já pensou em constituir família? Ter esposa, filhos...? Ao menos por um instante?
— Eu acho que ninguém que tenha ficado aqui, se tiver sã consciência não pensaria em colocar uma criança neste mundo, as possibilidades de não chegar nem até o dia do parto já são grandes, e a cada ano que se passar, dobram a chances de que não faça mais um aniversário.
— É mesmo, que pergunta ridícula a minha...
— Mas por outro lado, ter uma família te faz mais humano. Você passa a ter algo a perder e te dá um motivo a mais pra continuar a lutar pra viver. Eu passei minha infância com meu avô, e a forma com que ele vivia... não é muito diferente do que vivemos hoje, tirando a parte que ele não era perseguido por nenhuma corporação opressora, era basicamente isso mesmo, ele e minha avó viviam isolados, em contato com a natureza, tirando da mesma tudo que precisavam pra sobreviver. E ele me ensinou tudo que sabia, admito que sinto falta de ter alguém que eu pudesse passar adiante esse ensinamento, são tantas coisas que ele teve toda a paciência de me ensinar que eu sinto que eu estaria falhando com ele se deixasse tudo isso morrer comigo.
— E de amar? Não sente falta de ter alguém pra amar? Ter uma companhia pras noites frias, para os dias solitários?
— Esse mundo não é mais nosso como já foi um dia. Esse mundo agora é deles, e aqui, eles pintam e bordam, não se pode ter paz, perdi a conta de quantas pessoas que amava eu perdi, não dá pra garantir a própria segurança e a de outra pessoa sendo sempre caçado, perseguido. Pensei em fugir para o oeste, onde o terreno é tão hostil que nem eles o querem, pra poder assim ter paz, e talvez pensar em poder ter alguma companhia. Mas fui pego antes que conseguisse partir.
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Научная фантастикаO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...