Joseph se levanta para se servir novamente e Kalitch rapidamente ocupa seu lugar ao lado de Jow.
— E aí, garotão. A comida daqui é bem melhor que a da cidade da Corporação. Você não acha?
— Qualquer comida em liberdade é um banquete.
— Mas você está bastante à vontade aqui, parece que conhece os habitantes, não está mais tão marrento... ficou até engraçadinho. Como se estivesse se sentindo em casa.
— Eu admiro muito esses povos, embora não tenha o sangue, aprendi muito com meu avô, ele foi criado com uma tribo indígena, aprendeu muita coisa e como eu passei minha infância com ele, acabei pegando grande parte disso.
— Estou começando a ficar intrigada com você e tudo isso, você está sempre muito centrado, tem tudo planejado, controla tudo. Você não tem medo das coisas saírem diferentes do que você espera? Aliás, você não tem medo ao menos?
— Certo dia, quando eu tinha 13 anos, quase 14, meu pai me levou pra passar o final de semana com o meu avô...
Jow fixa o olhar nas chamas da fogueira e sua mente vagueia no tempo, seus ouvidos não ouvem mais as vozes, nem os risos, somente o estalar da madeira sendo consumida pelo calor, o brilho e o ar quente que chega ao seu rosto agora, não é mais o da fogueira no meio da tribo, e sim o de uma lareira na sala de uma cabana quentinha e aconchegante, construída bem longe dali, no tempo e na distância. Jow, que acabara de chegar há pouco na casa dos avós, se distrai vendo o fogo consumindo a madeira, aproveitando o calor e ouvindo o que falam seu pai e sua avó, logo ali na cozinha.
— Mãe, meu pai insistiu muito pra que eu trouxesse o Jony hoje para o rito, aí eu chego aqui e ele não está. — O pai do pequeno Jony, agora um adolescente, reclama enquanto caminha de um lado para o outro na cozinha onde está sua mãe.
— Não se preocupe meu filho, seu pai sabe o que faz. Você sabe disso.
— Eu não entendo pra que essas baboseiras dele, isso é perigoso e ele sabe disso. Onde ele acha que está? São outros tempos agora, não é assim que fazemos as coisas. Ele evoluiu, sabe usar um computador, sabe programar um robô, mas a mente dele ainda está lá na tribo. Aposto que deve até pintar a cara e andar pelado pela floresta de vez em quando.
A velha dá um sorriso alegre e simpático, e fala com ele, com um tom manso e agradável.
— Não não, meu filho. Ele não faz isso, mas seria algo que eu gostaria de ver. Não prive seu pai dos caprichos dele, ele se preparou a semana toda para este dia, estava ansioso, falou pra todo mundo do vilarejo. E este, é um evento importante, você se lembra como foi sua vez, o quanto isso te ajudou na sua adolescência, você era só um garoto franzino assustado e sem auto estima e depois da sua passagem se tornou um homem... criou coragem até pra chegar nas meninas na escola. Parece ser somente algo bobo para nós, mas para eles isso faz toda a diferença.
Ela olha o garoto sentado no tapete de pele de urso, em frente a lareira através da porta que une os dois cômodos, está com uma forma de bolo recém feito, ainda suja nas mãos, com a cabeça levemente inclinada para o lado, o pai do garoto está de frente a ela, inclinado pra frente, com as duas mãos abertas sobre a mesa de madeira, apoiado sobre ela, gira um pouco a cabeça e também olha o garoto que sorri. E ela continua:
"Isso causa um turbilhão de acontecimentos em seu coração e sua mente, todos os seus sentimentos mudam e aprendem a confiar de verdade em si mesmo. Entenda seu pai, pra ele, é passar adiante a tradição, para o pequeno Jony é amadurecer e saber que de agora em diante ele é capaz."
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Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)
Science FictionO mundo como conhecera já se foi, uma Terceira Guerra Mundial abalou nosso frágil planeta. Matéria nuclear altamente tóxica, agora contamina nossa terra, nossa água, nosso ar. A raça humana fora condenada. Neste ambiente caótico, eis que s...