Por um triz - 34

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          — Morgana, quero que conheça a Nora.

          — Deu nome de Nora para sua moto?

          — Não, Nora é o nome do que era para ser a inteligência artificial, mas está mais para um GPS tagarela. Ela opera algumas funções da moto e acha que pode cuidar da minha vida. — Jow sorri. — Os modelos mais novos, que vieram depois dela, tinham programas mais completos. O dela tem uma coisa bacana, direção autônoma. Com isso ela pode vir até mim se eu estiver longe e até voltar para casa..., se eu tivesse uma. Diga "olá" para Morgana, Nora, cumprimente ela e o Norffi.

          — OLÁ MORGANA. OLÁ NORFFI. SEJAM BEM-VINDOS E FAÇAM UMA BOA VIAGEM.

          Soou uma voz mecânica feminina da moto, vindo do display do painel.

          — Olá Nora, muito obrigada.

          — Norffi feliz, agora Norffi não é mais o único robô. Boa viagem pra Nora também.

          — PRA ONDE VAMOS JOW? — Pergunta Nora.

          — Vamos atravessar a Rodovia Norte-sul e continuamos por fora, através do Estreito do Rio Telcatch até o acampamento dos Filhos da Noite.

          — JOW, DEVO LEMBRAR QUE ESSE DESTINO EM QUESTÃO É A ZONA...

          — Traçar rota imediatamente. — Jow a interrompe.

          — Como estamos de combustível?

          — TANQUE EM 76% DA CAPACIDADE.

          O grupo sobe na moto, Morgana na garupa e Norffi se acomoda no pequeno bagageiro logo atrás dela.

          Uma vez a caminho, eles vão por campo fechado, evitando as estradas e assim as patrulhas.

          Eles cruzam a Rodovia Norte-sul em diagonal sentido ao Eixo da Divisa. Mas, antes mesmo de se aproximar dessa estrada, ainda em terreno de bosque, Jow ouve barulhos ao longe e desliga a combustão da moto, ficando somente na propulsão, isso causa uma diminuição repentina na velocidade.

          — O que foi Jow? Por que diminuímos?

          — Eu acho que ouvi som de veículos, pode ser uma patrulha. Fiquem atentos.

          Quando eles saem de trás dos arbustos da beira da estrada e cruzam o Eixo da Divisa, logo à sua direita está uma Patrulha na pista, a aproximadamente 600 metros. Longe o suficiente para não ouvi-los, mas não para não vê-los. Embora levarão apenas fração de segundos para atravessar, Jow não quer arriscar serem vistos e emboscados ou até perseguidos novamente. Já do outro lado, atravessando a estrada e saindo dela, tem um barranco alto e muitos arbustos, vegetação de beira de rio. Jow pára a moto, todos descem e ficam embaixo do barranco.

          — Fiquem aqui e não façam barulho... Eu vou lá em cima certificar que não fomos vistos. Já volto.

          Não demora muito Jow volta apressado, coloca a moto embaixo de uma árvore cuja maior parte dela está na parte baixa, ficando somente a copa ao nível da estrada. Eles se juntam ao máximo para ficarem camuflados debaixo da copa da árvore e do barranco, na tentativa de passarem despercebidos. Morgana parece apreensiva e um pouco assustada.

          — O que foi Jow? Fomos vistos?

          — Acho que sim. Shiiiiu.

          Eles são logo surpreendidos pelo barulho de motos na estrada, som de freada, e os motores silenciando. Então ouvem passos vindo em sua direção.

          — Estou dizendo, tenho certeza que​ vi algo saltar do outro lado da estrada pra cá.

          — Você está vendo coisas Martin. O que você comeu no café da manhã?

          — Cara eu posso jurar que vi, foi bem aqui.

          — Então como mais ninguém viu?

          — Deviam estar olhando para outro lado, Rodrigues. Sei lá... Foi muito rápido.

          Eles chegam na beirada do barranco, bem acima de onde Jow e Morgana estão. Uma pequena porção de terra cai sobre Morgana, a tensão lá embaixo aumenta. Eles olham para cima de suas cabeças, Jow vira-se para Morgana, ela tem os olhos arregalados e está ofegante, segura forte braço de Jow, ele coloca a mão cobrindo a boca dela, para ajudá-la a se conter. Lentamente levanta o revólver que está na outra mão, apontando-o para cima, na direção dos homens, Morgana aperta seu braço ainda mais forte, assustada com tudo aquilo.

          — Está vendo, Colt? Não tem nada aí além de mato. Você está tendo alucinações, tem que cortar o açúcar. Vamos logo.

          — Não tem condições, eu sei que vi de relance algo cruzando a estrada.

          — Pode ter sido só uma folha de palmeira, levada pelo vento. Ou um cervo. Já fique sabendo que você será a piada da semana. — Rodrigues sorri — Os outros estão nos esperando, vamos seguir com a missão.

          O som dos passos vão se afastando, em seguida o das motos.

          Jow guarda a arma e solta Morgana, ela está tremendo e suada.

          — Quem eram eles?

          — Patrulha do Vale, chacais oportunistas, coletando presas fáceis para Natihvus.

          — O que eles queriam?

          — Nós. Ou qualquer um que se arrisque a vagar sozinho fora da zona de trégua.

          — Norffi teve muito medo, ficou muito assustado. Se Norffi fosse humano teria feito sujeira.

          Jow e Morgana olham pra ele e riem.

          — Então, era perigo que eu temia, o tipo de risco que eu não queria te expor te trazendo comigo. Dessa vez passamos bem perto, mas poderia ter custado as nossas vidas.

          — Mas e agora? O que faremos?

          — Agora esperamos, damos um tempo e depois continuamos. Estão só de passagem por aqui, vamos deixar ganhar distância. Eles não podem ficar parados por aí. O caçador que demora muito no mesmo lugar, acaba virando a caça.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora