Entrando em zona crítica - 73

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          Jow segue a frente do comboio, o sol árduo do deserto castiga, o caminho está limpo, nem veículos, nem ambulantes podem se ver por todo o percurso. Não parece que são apenas cidades fantasmas, parece que o mundo está uma grande construção abandonada. Nem mesmo os homens da Natihvus passam por aquelas estradas há meses.

          Eles pegam um desvio a direita, deixando a estrada principal para uma menor, mas ainda assim tão extensa e reta que se perde de vista até se misturar com o azul do céu.

          Jow recolhe o capacete do traje, o capuz é jogado pra trás e ele tem seu rosto exposto, tentando sentir o ar quente nas narinas, sua mente viaja em devaneios. Por um instante, ele está sentado no banco de trás do BMW-SUV de seu pai. Ele mantém uma mão no volante, a outra no celular, o pé afundado no acelerador e o carro cortando a estrada em alta velocidade. O pequeno Jony abre o vidro do carro pra poder sentir essa lufada de ar quente no rosto, isso sempre lhe fazia bem, ele fechava os olhos e imaginava que estava voando.

          — Eu sei, eu sei. Estou cuidando disso, foi o que eu trabalhei nos últimos quinze dias seguidos. Sim, eu sei disso também. Não, não dá pra chegar em uma hora, estou levando meu filho pra casa do meu pai, não sei se vocês se lembram que eu tinha esse final de semana de folga, e isso vai custar muito caro. Eu não estou falando de dinheiro. Não vou deixar meu filho com babá nenhuma só por capricho de vocês, estou fazendo o mais rápido que posso, se não é o suficiente, manda um helicóptero me buscar! — O pai do garoto esbraveja e assim que termina, joga o telefone com ira no banco do passageiro vazio ao seu lado. Regula o retrovisor e fala com o filho:

          — Filhão, você sabe que é o campeão do papai, né? Já estamos quase chegando no vovô, ele vai cuidar de você esse final de semana, vocês vão poder fazer o que gostam, ele disse que está construindo uma cabana no meio da floresta, no alto da montanha dele, você vai poder ajudá-lo.

          O pequeno Jony olha para o retrovisor respondendo ao olhar do pai, e volta a fechar os olhos e virar o rosto pra janela sem dizer nada.

          — Filho, eu sei que está chateado comigo, eu também não gosto de estar ausente assim, mas o papai está cuidando do seu futuro. Papai está fazendo o quer for preciso pra tirar férias junto com as suas de verão, vou deixar o computador e o celular no escritório e passar o mês embrenhado no mato com você e o vovô. Eu te prometo. — Ele volta a olhar pra estrada e repete baixinho pra si mesmo. — Eu prometo...

          O carro pára bruscamente e derrapa no cascalho na frente da casa, um senhor robusto e barbudo vem recebê-los na entrada:

          — Pai...

          — Já sei, eu fico com o garoto.

          — Vovôôô!! — O garoto fica eufórico ao ver o avô, corre e o abraça.

          — Grande Jony, a montanha sentiu saudades suas, falou isso pra mim hoje cedo.

          — Eu também senti, vovô.

          — Olha só pequenino, a carne de casa acabou. Então o que vamos fazer hoje?

          — Vamos caçaaar! Eeeeee!! — O pequeno Jony sai correndo pra dentro de casa com a mochila.

          — Pai, não fica levando meu filho pra essas coisas. Isso é perigoso.

          — Quando você estiver conosco ou estiver cuidando do seu filho poderá escolher que programas iremos fazer. Enquanto estiver ausente, não se intromete.

          — Filho, vem despedir do papai! — O pai de Jony grita para o garoto.

          — Sugiro que não insista nisso, ele nem te ouviu. Vá assim mesmo, considere despedido, ele vai ficar melhor assim.

          O homem olha para o velho, entra no carro e sai.

          — Senhor Peregrino. Tem algumas ruínas na estrada à direita. Não seria melhor encostar e fazer uma pausa?

          Jow é despertado do devaneio pela voz que vem do rádio. Logo atrás dele está o Rinoceronte.

          — Sim, Scoth, vamos fazer uma pausa nessas ruínas. Vamos comer, beber e refazer a estratégia de agora pra frente.

          Eles encostam para poderem se alimentar e reabastecer.

          — Derick, Vovó Jack, Quian Tung, Roy e Toni. Como estão em veículos pequenos, façam uma ronda no perímetro pra garantir que estamos seguros por aqui.

          Eles confirmam e saem imediatamente. Assim que voltam, reportam que está tudo calmo e vão se juntar aos outros para se alimentarem. Aproveitando o momento, Jow se aproxima para falar com todos:

          — Senhores, a partir desse trecho é zona crítica, vamos adotar aquela formação de três fileiras que fizemos antes, com os veículos mais vulneráveis no meio e os blindados nas laterais. Caso vejam alguma coisa estranha se mexendo, veículo se aproximando ou agrupamento de pessoas: abram fogo. Não tenham piedade nem clemência, pois quem vem do outro lado não terá. Fiquem atentos, pode haver armadilhas em qualquer lugar e não deixem a formação nem se afastem do grupo sob nenhuma hipótese.

          Pouco tempo depois estão todos prontos pra seguir viagem. Jow manda que as motos façam uma nova ronda antes de saírem de onde estão e eles partem.

          Jow continua liderando a formação, mas dessa vez sua mente segue preocupada. Embora tenham uma boa estratégia e estejam bem equipados, ele sabe que é impossível passar despercebido com um comboio deste tamanho, com esses tipos de veículos. Lá no fundo, ele teme o que pode acontecer nas horas seguintes, mas mantém seus medos para si, pois sabe que quanto mais a equipe acreditar que conseguirão, mais chances terão de conseguir. Torce que quando forem vistos, que seja apenas por algum grupo pequeno de patrulhas.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora