Presente de despedida - 40

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          — Morgana, está na hora. A viagem é longa e tempo é o que a gente não tem.

          — Nossa! Já? Bom dia... — Morgana acorda ainda meio zonza.

          — Bom dia. Toma seu café que nós já vamos. Eu tomei a liberdade de preparar sua bagagem. Encontrei uma mochila de camping e coloquei suas coisas nela, seus equipamentos e coloquei suprimentos também. Espero que não tenha ficado muito peso pra carregar.

          — Até que não. Acho que consigo. Sabe, admito que vou sentir falta disso. — Morgana dá um sorriso.

          — Disso o que? — Jow pergunta sorrindo, já sabendo a resposta que​ terá.

          — Ah, você sabe. Desse silêncio pra dormir, desse café quentinho, chuveiro de água quente. De se sentir livre novamente. Você tem isso todo dia, né? Não tem do que reclamar.

          — É o que você pensa. Quem está lá dentro não tem conforto, quem está aqui fora não tem lar, fica fugindo e se escondendo, sempre com medo. Não é uma vida digna. Todas as grandes ditaduras deste mundo caíram um dia, até o império romano que durou mil anos, um dia caiu. Com a Natihvus não vai ser diferente. Em algum momento, haverá​ alguém forte o bastante para confrontá-la e restaurar a liberdade a todos neste planeta. Aí teremos lugares tão confortáveis como este, e até mais, para podermos chamar de lar, sem precisar que seja debaixo da terra.

          — Sabe o que eu mais gostaria de ter? Um quintal para ter um jardim, poder regar com água boa e saudável, ver as plantas e flores crescerem sem serem contaminadas com esgoto por todo lado.

          — Coisas assim, tão simples que hoje somos privados de ter.

          — Tem razão. Então vamos que já estou com saudades da minha mãe.

          — Norffi, despertar. — Jow dá o comando para o robô que estava em modo de hibernação.

          — Norffi desperto.

          — Bom dia, Norffi. Pronto para me levar para casa?

          — Bom dia, Morgana. Norffi está pronto, mas Norffi não quer levar Morgana de volta pra casa.

          — Por que não, Norffi?

          — Porquê Morgana tem que​ ficar com Jow e Norffi. Não pode ir embora.

          Morgana e Jow olham para o robô e riem de seu lamento.

          — Eu preciso ir Norffi. Tenho que​ cuidar da minha mãe, sinto falta dela. Jow vai cuidar muito bem de você.

          — Gente, está na hora. Ainda preciso lacrar e esconder este lugar.

          O céu lá fora é de noite que ainda vai demorar amanhecer, a luz é da lua de última noite de cheia, tendendo a minguante. Clareia alto no céu, faz nossos viajantes brilharem em meio às trevas do caminho, para que suas mentes relembrem os lugares que dias atrás fizeram a pé, agora o fazem a mais 200 quilômetros por hora a 8 metros do chão.

          Um a um os pontos vão passando por eles e por suas lembranças: O córrego em que pararam para beber e Morgana insistiu em entrar na água, isso a meio dia de chegar no abrigo; A árvore onde Morgana dormiu com Jow e Norffi de guardas ao pé dela; A grande pedra onde Jow descobriu Morgana o seguindo; E por último o corredor entre os montes rochosos pelos quais Jow sentia que era vigiado à distância, mas ainda não havia identificado o seu perseguidor.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora