Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)

Entrando pela fresta - 101

            O Tenente olha para Jow intrigado:

          — O que está acontecendo? — Pergunta em um tom visível de preocupação.

          — Digamos que se trata de mais uma pessoa interessada no que transportamos, eu não imaginava encontrá-lo no trajeto. Achei que a presença de militares e um esquadrão grande e bem armado o manteria distante. — Jow responde demonstrando inquietação.

          O Tenente volta a sua preocupação para o rádio novamente.

          — O que você quer? E o que fez com minha equipe?

          — Calma Tenente, primeiramente eu quero conversar. Seus homens estão bem, e vão continuar assim se você cooperar. Essas sombras que vêem bem diante de vocês somos nós, mande que seus cães abaixem as armas e recuem pra que eu possa me aproximar um pouco mais, e coloquem uma focinheira nesse seu vira-lata.

          O Tenente diz a seus homens que se afastem, mas se mantenham atentos.

          A voz estranha continua, mas dessa vez não vem do rádio, e sim dos vultos sombrios diante deles que se aproximam em sua direção e vão lentamente ganhando forma:

          — Sabe Tenente... quando ouvi os rumores de uma missão conjunta entre soldados dos Leviatãs e Rebeldes, admito que fiquei muito muito intrigado. Depois, meu informante disse que a missão se tratava de uma suposta "máquina do fim do mundo" e que ela estava na Floresta da Morte, aí eu soube na hora que era o meu pacote. Acompanhar a jornada de vocês não foi fácil, pegaram um caminho totalmente sem lógica, depois passaram em território indígena, isso me deu uma baita canseira, pois aqueles caras patrulham suas terras com muito cuidado, sendo assim, fui logo para o destino final que era a Floresta. Estava bem posicionado para emboscá-los logo na saída, mas de alguma forma vocês saíram da maldita floresta por um lugar impossível. Deu trabalho para alcançá-los de novo, mas consegui, preferi me manter à distância e esperar um bom momento de novo, cheguei a pensar que teria que interferir no seu incômodo encontro com um grupo de exploração dos Sangue Islamita, mas vocês tinham um herói suicida com vocês. Então só me restava atacar durante a parada, mas vocês têm uma guarda de sentinelas muito forte... exceto por um único elo fraco na sua corrente.

          A essa altura eles já estão bem perto, a ponto de poderem ver seus rostos, eles trazem consigo duas pessoas amarradas e ele continua falando:

          — Um casal de pombinhas apaixonadas que aproveitaram a noite tranquila pra trocar intimidades na beira do lago, e foram bem negligentes com a patrulha. Uma Leviatã e uma Rebelde... quem diria? Bem no estilo Julieta e Julieta.

          O homem robusto vem falando ao centro e ao lado dele outros dois trazem Violet e Katie. Ele faz um sinal com a mão e os outros jogam as meninas aos pés do Tenente, elas caem prostradas no chão. O Tenente e Jow tentam ajudá-las enquanto ele continua falando:

          — Quem poderia culpá-las? Eu imaginei que não encontraria brechas, talvez eu tenha te superestimado, Tenente Hans. Conseguir pegar duas garotas de refém era tudo que precisávamos. Depois foi fácil abordar cada dupla no momento certo, vendo suas colegas com uma arma na cabeça, um a um, foram se entregando. Eu as trouxe para que soubesse que estou falando sério, os outros estão sobre meu poder e poderá vê-los novamente se fizer exatamente o que eu disser...

          — O que você quer?

          — Primeiramente... a rendição de vocês, mas isso acontecerá de todo jeito, nem que pra isso eu tenha que deixar vivos apenas o Senhor e o "Homem Coragem" aí, com quem ainda tenho negócios a tratar. Não é mesmo... Senhor Jones?

          O Tenente lança um olhar odioso para Jow, certo de que fora traído por ele, vendo que o visitante o conhece.

          — Mas devo informá-los que não é só isso. Este cara não tem muita coisa a perder, então para garantir que ele irá colaborar comigo, levarei todos vocês as minhas instalações. Imagino que não se importem em perder um dia ou dois do seu plano de viagem. Não se preocupem com as perguntas agora, farei questão de explicar tudo quando chegarmos. — Ele se volta para os homens dele que começaram a chegar e ordena. — Algemem todos, coloquem nos veículos, assumam a direção e vamos para a base, ah, e retirem o traje de combate do "Senhor Coragem" aí pois ele é muito escorregadio, e com esse equipamento ele vale dez de nós.

          Nossos viajantes são rendidos, desarmados, imobilizados e quando já iam sendo encaminhados aos veículos, Nicholas faz mais uma observação:

          — Gostaria de informar a vocês que serão encapuzados e divididos entre os veículos e se alguém inventar de tentar bancar o herói, vai garantir a morte de todos integrantes da sua trupe bizarra. Isso inclui o Senhor e teu robô melhorado, Senhor Jones. O que eu quero eu vou conseguir, leve um dia ou um ano, vocês só estão sendo mantidos vivos pela comodidade de não precisar perder tanto tempo. Mas posso mudar de ideia a qualquer momento, já esperei mais de três anos por isso, mais um não me fará diferença.

          Amarrados e com os rostos cobertos, eles são transportados por longas horas que pareciam intermináveis para fora de sua rota original. Na mente de todos já sabiam o que estava acontecendo ali, mas naquele momento sua única preocupação passava a ser apenas a de garantir ao menos a própria vida. Eles sabiam que não estavam lidando com um inimigo comum, que não se tratava de um oportunista casual, e sim de alguém articulado e bem elaborado, mas ainda não sabem de quem se trata.

          A chuva volta a engrossar, ficando violenta e a única coisa que podiam sentir ali dentro eram as variações das mudanças de terreno e curvas, então começam a sacudir para todos os lados e as vezes derrapar na lama, demonstrando que entraram em uma estrada não pavimentada, muito irregular, e permanecem nela por três horas e meia até que outros sons podem ser ouvidos, ordens gritadas, e os freios sendo acionados. Um a um, os veículos param e dezenas de homens vem retirar os membros da nossa jornada e eles caminham no escuro sem saber pra onde estão indo, são colocados sentados e seus capuzes são retirados, então eles podem ver que estão todos em uma sala, lado a lado em volta de uma mesa, tendo um soldado desconhecido atrás de cada um, e na cabeceira está Nicholas, um homem corpulento de cabelos negros medios e barba grande, em uma cadeira executiva, com os pés cruzados repousados sobre a mesa, vestido com um uniforme militar camuflado de verde e um tom azulado, e na boca um charuto acompanhado de um sorriso sarcástico.

          — Boa noite senhores. Espero que estejam bem confortáveis. Vocês não fazem ideia do quanto eu aguardo este momento. E sabem o que é o melhor disso tudo? Apenas um entre vocês sabe por que estão aqui agora. E é exatamente o cara que vocês confiaram suas vidas. Eu fico me perguntando que historinha ele lhes contou. Mas eu vou lhes contar uma nova.

          — Isso é entre eu e você Nicholas, ninguém aqui tem a ver com o que aconteceu. Liberte essas pessoas e eu dou o que você quer. — Jow tenta intervir e negociar aquela situação.

         — Olha só, ele tem alguma humanidade em meio ao seu poço de ambição. Ou está apenas tentando evitar que eu revele a todos quem você realmente é? Foi uma tentativa nobre da sua parte, mas eu dispenso sua oferta. Por duas razões: uma que eu não vou cometer a burrice de fazer negócio contigo novamente, e outra que eu realmente quero te desmoralizar entre seus irmãos Rebeldes e acabar com o restinho de respeito que alguém da Natihvus tinha por você. — Ele tira o charuto da boca e cospe logo que fala o nome da Corporação.