Unidos pela fome - 77

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          O índio se vira e sai, liberando a passagem dos visitantes que adentram a aldeia. Jow e o Tenente coordenam as equipes para estacionarem os veículos e organizarem o acampamento em um espaço vazio, no entorno das ocas.

          — Assim que deixamos a zona de conflito hoje, você disse para nos prepararmos para dirigir a noite toda, e agora estamos montando acampamento. O que houve Jow? Por que mudou? — Melissa se aproxima e pergunta a ele.

          — As atitudes que tomei ao chegar no território deles, foram somente para pedir livre passagem pelo trecho da estrada que corta essas terras, mas eles se comportaram de forma que deu a entender que queriam que fôssemos até a aldeia. Quem nos recepcionou logo na entrada foi o cacique, "o grande chefe", a autoridade maior dentre eles, e o mesmo disse que éramos bem-vindos, que devíamos passar a noite aqui, nos juntar a eles no jantar e no ritual do chá espiritual. Recusar, seria uma ofensa, uma vez que se dispuseram tanto a nós. Por isso concordei em ficar por hoje, além do mais, conseguimos adiantar o caminho mais do que eu imaginava, andamos neste tempo o suficiente pra podermos descansar durante a noite sem estourar o tempo previsto de chegada, o nosso local de destino não está longe, chegaremos lá antes da metade do dia, e partiremos amanhã logo cedo, antes do nascer do Sol, para a parte mais complicada do caminho.

          — Senhor Peregrino. — Chama o Tenente. — Mais cedo você havia dito sobre dirigir a noite toda e agora levantamos acampamento.

          — Estava agora mesmo falando disso com a Senhorita Zampollo, após o desagradável encontro com os terroristas conseguimos ganhar tempo suficiente pra poder descansar. Fomos convidados a passar a noite na aldeia, eu não quis recusar e correr o risco de ofender os guardiões dessas terras, estaríamos em desvantagem. Além da estadia, eles também se dispuseram a compartilhar do seu alimento, que cá pra nós... é mais nutritivo que nossa ração. E querem que depois da refeição, participemos do ritual espiritual deles, e já devem estar na hora de comer. Chame seus homens e vamos nos reunir com o povo deles, acredito que tenham algo para nos falar.

          A aldeia é bem grande a considerar pela quantidade de ocas espalhadas pelo espaço em volta. As ocas são organizadas por fileiras formando círculos em torno de um grande círculo de pedras ao centro. Este por sua vez é chamado por eles de Círculo de Fogo, é onde todas as noites fazem a grande fogueira, acontece a última refeição do dia e o ritual conhecido como kawhê tikanga, o chá espiritual. As ocas mais próximas do Círculo de Fogo pertencem aos índios de maior importância na tribo. O Cacique, o Pajé, o Xamã, os aprendizes de Pajé e Xamã e os guerreiros mais bravos.

          — Waburaerê, está na hora sagrada de receber o alimento da Mãe Terra. Todos devemos estar juntos.

         — Sim, Grande Chefe, já estarei lá com o meu povo para receber com vocês.

          — Jow, porque ele te chamou de Waburaerê? — Perguntou Melissa intrigada com o que ouvira.

          — Por que na língua deles isso significa: Espírito Viajante. É assim que eles me chamam.

          — Então quer dizer que você já esteve aqui ou teve contato com eles antes?

          Antes que Jow pudesse responder Melissa, o Tenente aparece e fala com Jow:

          — Senhor Peregrino, estamos todos prontos.

          — Então vamos todos pra fogueira, já estão nos esperando.

           Juntam-se os militares e os Rebeldes em um grande grupo em direção a enorme fogueira, de longe é possível ver o quanto seu brilho ilumina toda a aldeia a sua volta, Jow vai a frente caminhando tranquilo com Norffi ao seu lado. Mas quando estão a alguns poucos metros, Jow para e se vira para os homens.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora