Sangue derramado - 128

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          A General Farhat está sentada em uma pequena mesa bem de frente a escada, acompanhada de um conhecido robô militar de silhueta feminina, aparência oriental e de várias metralhadoras de acionamento autônomo a laser de ambos os lados que instantaneamente fazem do Jow e Norffi alvo, mas não disparam, apenas mantém seu foco neles. Ele pode ouvir seus mecanismos aquecidos girando, neste estado, elas não levariam um segundo pra começar a disparar caso fosse a vontade de quem as posicionou ali.

          — Não é que nos vimos novamente, Senhor Jones?! Eu sabia que viria atrás de mim e do servidor... Já enfrentei inúmeras batalhas como militar e não é novidade pra mim estar em desvantagem numérica, se bem que estava esperando um pequeno exército entrar por aquela porta, e sabia que o Senhor também estaria junto. Já estava preparada para isso... Nunca imaginei que viria sozinho, estou surpresa. Só por isso não picotei vocês dois na bala assim que entraram. — Farhat tem um dispositivo na mão, Jow supõe que seja o controle das metralhadoras. — Então me diga... como pretende passar por mim e minhas amiguinhas aqui?

          — Isso é entre mim e você Farhat, sabe que tem contas a acertar comigo. Eu não preciso envolver outras pessoas pra fazer o que eu tenho que fazer. — Enquanto fala, Jow coloca os dois revólveres em uma pequena mesa à sua direita, retira o cinto de munições e coloca sobre eles.

          — Olha só, que gracinha. Ele quer resolver a moda antiga... Você quer uma luta? Você já me causou dores de cabeça demais, eu vou gostar de poder lhe retribuir. — Farhat se levanta da mesa, retira seu paletó e coloca nela, retira a pistola que está no coldre da perna e a da cintura e coloca sobre o paletó. — Creio que conheça minha amiga aqui... Se não conhece, eu faço as honras: Essa é Kyoko, minha companheira de campo. Se você estava pensando que era o único que tem um capanga de lata, saiba que não é.

          — Sim General, eu a conheço melhor do que pensa. Perdi alguns programas de pai e filho por conta desse projeto, acabei sendo obrigado a conhecê-lo.

          — Ah pobrezinho... esses seus papos de criança de pai ausente me entediam tanto... Se está achando que vai conseguir me fazer ter compaixão por isso, tá perdendo seu tempo.

          Jow pressiona alguns comandos no traje que fazem com que ele se abra totalmente e o deixa cair, em seguida vai até Norffi:

          — Norffi, esse é um combate de honra, não importa o que aconteça, você não deve interferir. Apenas se a robô dela entrar no meio. Estou achando que ela pode usá-la como uma garantia, caso sinta que está perdendo a briga. Então caso ela se meta vou precisar que a impeça. Norffi, tenha cuidado, ela é uma android militar, desenvolvida para lutas corpo a corpo e combates armados, mas pra nossa sorte, ela possui alguns defeitos de projeto. — Jow ainda fala algumas coisas a Norffi.

          — Tudo bem Jow, Norffi entendeu tudo.

          Farhat desliga as metralhadoras, os lasers se apagam e elas apontam para baixo. Quando olha pra ela, está dobrando as mangas da sua camisa branca de tecido nobre, expondo seu braço direito semi-mecânico, resultado de modificações para reparar os danos de uma batalha sangrenta. Iniciando o implante no meio do seu braço, abaixo do ombro, com metade desse membro cibernético e metade orgânico: o cotovelo é todo mecânico, descendo pra parte do antebraço e parte da mão, tendo os dedos polegar, indicador e médio orgânicos. Possui uma enorme cicatriz de queimadura na pele do braço, herança do combate.

          Jow a vê se preparar e se concentra em analisar aquela situação e como lidar com ela:

          "Ela tem mais experiência e habilidades marciais provavelmente, contra mais agilidade e força da minha parte. Ela pode tentar uma investida mais ofensiva para encerrar o combate mais rápido, me dando menos chances, e eu devo prolongar o máximo possível para cansá-la, ter vantagem a longo prazo e evitar os diretos do seu braço direito, essa quantidade de metal com certeza aumenta sua vantagem."

          Jow anda em direção a Farhat ficando a meio caminho de onde ela está e para. Corpo ereto, levemente em guarda. A concentração dele está em qual será o próximo passo do seu oponente. Ela tem no pescoço um lenço vermelho, usado como gravata, se aproxima devagar enquanto desata, o retira e fala algo que ele nem mesmo consegue ouvir neste momento, apenas se preocupa em como será seu primeiro ataque.

          Ao chegar a uma média distância de Jow, ela lança o lenço na direção do seu rosto, fazendo com que ele esquive para a direita e responda com um jab, que ela defende com o punho e o atinge com o joelho na costela, jogando-o para a esquerda e fazendo cair a primeira vez.

          — Vamos lá, levante-se, não tem graça bater em um homem no chão. — Farhat o provoca.

          Jow se levanta, e diz pra si mesmo pra ficar na defensiva, se coloca em posição de guarda, ela ri e volta a se aproximar. Fica dando socos falsos pra confundi-lo. Ela está se sentindo segura, sabe que é mais experiente e ter a primeira derrubada a deixou ainda mais confiante, ela finge um jab seguido de um gancho, Jow levanta a guarda pra se defender e joga o corpo pra trás, ela ganha espaço e avança com um chute na altura do peito, ele esquiva, pega seu pé e usando seu impulso, a joga no chão de bruços e antes que ela consiga reagir, a cobre e aplica um mata leão imobilizando-a. Ele aperta o braço em sua traqueia pra conter a sua respiração e apagá-la, ela se debate como pode com as pernas e os braços, mas suas forças começam a se esvair.

          Jow se concentra em encerrar aquela luta e colocá-la sob controle, de repente sente um forte solavanco pelas costas que o arranca de cima de Farhat e o joga para o ar e para trás, deixando-o atordoado ao cair. Ele olha para cima e vê Kyoko, que acabara de o arremessar e caminha em sua direção para continuar a golpeá-lo, mas repentinamente é interceptada por Norffi que notou que acabara de acontecer a ação que lhe foi definida como gatilho para intervir na luta.

          Norffi pega a Android de lado, a lança ao fundo da sala, na lateral esquerda, ela bate na parede estrondosamente, ele caminha na sua direção pra impedi-la de atacar Jow novamente.

          Mas ao invés da Robô, agora Farhat o atinge, o pega ao chão pelo peito e o joga no armário, na parede do lado direito da sala, ele avança na direção dela e recebe um direto de direita no rosto, lançando-o na parede ao lado da entrada da escadaria. Jow cai ao chão sangrando e desorientado, se apoia pra se levantar. Meio zonzo e com a vista embaçada, sente algo apertar sua garganta. Ele debate com os braços pra alcançar o que o enforca e suas mãos dão de encontro com o braço mecânico de Farhat, segurando seu pescoço, apertando e puxando para cima, suspenso do chão. Com a outra mão, ela retira uma pequena pistola que tinha o tempo todo nas costas e a aponta para o abdômen de Jow:

          — Você tem sido um tanto quanto perspicaz garoto, como um rato curioso na minha despensa, e isso tem me irritado bastante. Mas as suas aventuras acabam agora.

          Jow segura o braço dela com as duas mãos, não para tentar sair, mas apenas pra conseguir ter fôlego e falar. Seus olhos não estão em Farhat, mas um pouco mais adiante:

          — Você não vai conseguir me vencer nessa... porque eu tenho uma coisa que você não tem.

          — E o que seria então?

          Um disparo é feito na sala, ouve-se o som da cápsula caindo ao chão. O sangue escorre instantaneamente, manchando o piso abaixo deles.

Mundos Entre Luas - A Resistência (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora