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adendo_03 {

narradores: VOCE_SABE_MUITO_BEM_QUEM_EU_SOU

narradores colaboradores: AUTORA

período: um dia após a ressurreição de THÉO ABDEL SHEHAB

}

Eu ainda me lembro da minha infância. É algo que tá ficando cada vez mais raro entre os feiticeiros... Lembrar. É difícil lembrar, não gosto disso, porque essa sensação, essa falta, ela piora. Odeio sentir isso, me sinto doente.

Doente... Nem sou das roseiras, mas devo ser a pessoa mais próxima além deles a sentir como é conviver com acúleos. Corrupção é um inferno. Tô acordando com a sensação de algo sugando minha energia com cada vez mais frequência, mas tenho sorte de saber mais. Eu aprendi a lidar com esse tipo de dor... "Aprendi". Bobagem, bobagem, eu fui obrigado. Ou eu me virava ou eu morria.

Foi assim naquela reabilitação de crianças com pais feiticeiros, foi assim na rua, foi assim nos quatro... Cinco abrigos que eu fui, foi assim viajando com o [], foi assim invadindo esse inferno que fingi ser mina casa. Mansão. Que se {~}, isso não importa mais...

Do quê eu tava falando? Infância, né? Infância... Me lembro dos meus pais. A gente não era a família mais funcional do mundo. Tinha que viver escondido, quando os cavaleiros passavam a gente tinha que se fingir de normal. Eu gostava de ficar mexendo com os sapos que entravam em casa. Sapo, cobra e... Uns lagartos. Eram minúsculos, não faziam mal. Pegava na mão e colocava de volta na floresta. Eu tenho uma cicatriz nas mãos, de quando um dos bichos me mordeu. Meu pai quase morreu de susto, então minha mãe teve que socorrer os dois...

Não sei se eu iria voltar pra ela. Quanto tempo ela durou mesmo? Nem oito anos. Passar oito anos vivendo como criança pra depois reviver meus pais morrendo? Não quero isso. Muito menos quero reviver o tempo que se passou depois disso...

Eu quero... Queria uma casa. É o quê todos nós queremos. Uma casa, um lar, um abrigo, uma proteção. Mas a gente não pode ter isso, pode? Arrancaram da gente. Arrancaram uma vez na infância. Arrancaram outra vez na adolescência. Arrancaram uma última na vida adulta. Mesmo se eu quisesse, eu não teria casa pra onde voltar...

Eu nunca tive casa. Eu nunca tive... Depois do quê houve, nunca mais tive um lugar para onde voltar. Foram anos, anos e anos e anos, me sentindo tão deslocado. Eu era diferente, mas eu não queria ser diferente. Eu queria ser mais do que uma criança traumatizada. Eu queria ser grande. Queria superar tudo isso... Achava, que iria superar tudo isso.

Eu achava que as coisas iriam se encaixar. Eu achava que iria poder ficar bem. E então o tempo se passou, e eu notei o quão quebrado eu tava... Eu não sabia, ainda não sei, o quê fazer em relação a isso. Eu passo dias e dias pensando nas coisas que aconteceram, eu fico preso. Me pergunto se eu ao menos me conheço, se quem vejo no reflexo do espelho realmente é eu, ou se eu realmente sou daquela forma.

Eu tenho raiva. Naquela época, quando conheci o Contador de Histórias, eu também tinha raiva. Não era justo eu ter tudo aquilo jogado pra cima de mim. Eu talvez tenha sido uma criança um pouco babaquinha, mas eu era só uma criança, e meus pais... Meus pais morreram, porque eles usavam magia. Eles morreram. Eles poderiam terem sido salvos! Eles poderiam, tudo aquilo poderia ter sido diferente! Eu nem me lembro mais como eles eram, nem os conheço direito. Eu era uma criança, criança realmente conhece os pais? Não, claro que não conhece! Mas ela tem uma boa impressão, e a que eu ainda tenho era a de que eles me amavam.

(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora