Valentyna soube que as coisas estavam erradas no momento em que viu Edgar sair. Ninguém iria tentar tirar o abençoado de Imani de perto da Imperatriz caso alguma coisa muito séria não estivesse acontecendo, muito menos no meio de um anúncio daqueles.
Mexeu-se na cadeira, inquieta. Ninguém mais pareceu notar aquilo – a não ser que Meia-Noite e companhia fossem contados, obviamente. Bastou dar uma olhada no feiticeiro que a nossa princesa soube que não foi a única a estranhar aquilo.
"O que foi?", Meia-Noite perguntou, movendo a boca sem produzir som algum.
"Eu não sei!", nossa princesa disse de volta.
Opala, felizmente, mal olhou Edgar saindo, apesar de obviamente ter notado, e obviamente ter estranhado. Obviamente, não disse nada. E obviamente eu deveria parar com essa piada óbvia agora que já saturou um pouco.
Era um bom discurso, ainda mais porque não era murmúrio ou fala rude alguma que a faria parar de continuar a falar. O resto do salão acabou se intimidando bastante com a atitude calma e determinada da Imperatriz, o que foi bom. Foi muito bom.
Exceto que Tyna sabia que alguma coisa estava errada. Pelas janelas do lado de fora, cavalheiros se moviam. E aqueles que estavam dentro, como seguranças, pareciam desconfortáveis. Tinha coisa acontecendo, mas todos iriam notar se ela saísse para dar uma olhada. Iria se rum vexame! Tyna não queria isso para Opala.
Discretamente tirou a varinha de um bolso secreto do vestido, colocando-a no seu colo, que era tampado pela mesa. E segurou o objeto com força, procurando desesperadamente por alguma proteção, enquanto os minutos passavam com a lentidão de horas. A multidão murmurava, figuras andavam e corriam no lado de fora, as câmeras focavam em Opala...
Desviou o olhar. Na entrada, um cavalheiro corria, as vestes brancas imundas.
Valentyna arregalou os olhos, mas não teve tempo de falar que aquela sujeira era corrupção. As janelas e parte de uma coluna quebrando foram o suficiente para anunciarem o ataque, junto das criaturas asquerosas que apareceram.
À princípio, pareciam meros borrões desformes e de cores escuras, com feixes escassos de luz saindo de seus olhos mortos. Suas formas se formaram depois, enquanto saltavam para rosnar e gritar de forma terrivelmente humana para a multidão que ali estava.
Os monstros imitavam animais de corpos feitos de raízes requebradas, retorcidas e distorcidas, mas haviam detalhes profundamente errados em todos eles. Os lobos possuíam dentes afiados demais, e haviam um terceiro par de patas, malformadas, crescendo em seus torsos; as asas das águias mais se pareciam com mãos do que asas, mas voavam de qualquer forma; os dois alces, além de serem muito maiores do que um alce deveria ser, possuíam olhos e galhadas extras, e seus dentes eram afiados demais.
Era por aqui que se encerravam a coletânea de pseudo-animais do Invólucro da Belladonna. E para o horror de Valentyna, havia algo ainda mais do que aquelas criaturas.
Um único títere, com ao menos cinco ou seis metros de altura, armado com uma espada igualmente gigante e três bocas no lugar de um rosto, tentava quebrar ainda mais a parede e as janelas, lutando para conseguir entrar no local. Seus quatro braços e costas carregadas do que Tyna jurava serem ervas-daninhas e espinhos o impediam de continuar com o feito, mas com certeza seriam um pesadelo de lidar.
Levantou-se da cadeira, abrupta, junto da mãe, que gritou, sem pensar duas vezes: "PELOS FUNDOS!"
Tyna não prestou atenção nos adultos encarando-se, gritando ordens e planos uns para os outros. As sapatilhas deslizaram pelo chão, enquanto ela se impulsionava para o palanque, agarrando Opala pelos pulsos e correndo para o outro lado, onde a mesa do restante dos Rosaceae estavam.
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(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro Maligno
FantasyO feiticeiro "maligno" acaba de sequestrar uma princesa por acidente! Para piorar, ele se apaixonou à primeira vista pelo cavaleiro que veio salvar ela, e, ainda por cima, ele não consegue se comunicar com qualquer pessoa! Agora, cabe à Valentyna H...