(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro Maligno

92 - Casal está tão cansado de surtar que encontra a paz interior

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Eu me lembrei de uma coisa...

Qual?

Umas décadas atrás, quando eu tinha acabado de ganhar esse corpo, o Homem Velho me mostrou como se flutua na água, do jeito que os humanos fazem. Eu acho que eu tinha... Uh, seis meses? É, deve ser por aí. Eu ainda estava tentando aprender como usar o corpo.

Eu acabei afundando mais de uma vez. Ele sabia que eu não precisava de ar, eu sou só um olho flutuante, mas ele insistiu para eu não ficar muito tempo submersa. Estava com medo de eu ficar escutando os sons do oceano por muito tempo – faz mal para uma entidade tão pequenininha como eu era ficar ouvindo por muito tempo, eu acho.

Oh, agora que você me fala... Eu me lembro daquele dia. Faz tanto tempo! Você cabia na palma da minha mão, e só possuía dois bracinhos. Mas não creio que o Homem Velho tivesse medo de você escutar os sons.

Não?

Você era tão minúscula, seria fácil te perder dentro da água.

Mas era só eu ir para a superfície de novo!

Não se estivesse na barriga de algum peixe. É muito difícil sair de uma situação dessas, mesmo que você tivesse dois bracinhos para lhe ajudar. O Homem queria lhe proteger... Contudo, ele irá negar, caso pergunte.

Ele sempre nega...

Ah, agora entendo. É por isso que os humanos possuem medo do oceano! Ele é tão fundo e tão grande que mais se parece com a boca de uma criatura, pronta para devorar. E quando você já está dentro dela, não consegue mais sair. As criaturas se tornam dentes, prontos para lhe triturarem até não sobrar mais nada.

Ao mesmo tempo, tem um... Um certo fascínio. O oceano é profundo, tão profundo e tão grande. Ele é tão intimidador, com seus sons estranhos e dentes engraçados, mas ele lembra de uma casa; E é fácil se esquecer da boca que é quando se admira ao longe, quando o Sol reflete nas águas e o som passa a invadir os ouvidos. Acho que porque faz lembrar que a vida na Terra veio dele.

É uma linha tênue, não é? Gigantesco e perigoso, grandioso e misterioso. É quase como ser criança de novo. Não se tem noção alguma do mundo, e ele é perigoso, mas é fascinante! E o oceano é assim, como a memória do que já se foi, e o lembrete do que se é e irá se tornar.

Eu gosto dele. Deve ser por causa disso.

Ele é legal quando você o conhece muito bem, mesmo com a parte de ser perigoso e intimidador.

Você quer ir para um dos oceanos aqui perto?

Ah! Eu quero!