(LGBTQIA+) O Conto do Feiticeiro Maligno

I N T E R V E N Ç Ã O

Ele se alimenta de tudo, lá embaixo da terra. Ele se remexe, requebra, mas nunca sai. Suas raízes estão fundas e encravadas demais na pedra para poder sair e tocar a luz do dia – não é uma semente. Uma semente gloriosa que irá virar uma bela flor. Não, não- É uma praga. Uma massa amorfa, grudenta e odiosa, que lambe da faca as poucas gotas de felicidade que encontra. Aquilo não tem origem, nem começo, nem fim. É uma praga. A praga odiosa que atormenta e consome a terra até ficar grande demais e suas raízes quebrarem tudo.

Eu vou exterminar essa praga. Para sempre.

essa

p r a g a

c    h   a   m       a  d           aAaaAaaaAAAAAAAAAAAA

(Ah, céus, alguém tentou intervir-)

(Me perdoe, isso não vai acontecer mais)

(Mas quem foi que interviu?)

(Não importa)

(Porquê...)

Aconteceu de novo.

Se remexeu, requebrou, mas nunca saiu – foi assim no ano passado, também. E no ano retrasado. E nos anos anteriores ao ano retrasado. Sempre acontece isso: A praga odiosa ameaça se levantar. Se remexe, requebre, mas nunca sai, mas se alimenta. Se alimenta da felicidade que encontra e libera medo em troca.

Ele está com medo. Ele sempre esteve com medo. Mas a praga controla. Ela controla e corrompe – mas ele mereceu isso. A praga se alimenta de terra ruim, e ele sempre teve muita terra ruim – terra ruim é aquela que não se cuida, caso não saiba. E ele tem muita terra ruim. Deram para ele, sabe? A terra ruim.

Terra ruim...

(

ah

eu

realmente não

sei

o

que

ela

é

talvez uma

lembrança

muito

ruim

e horrível

mas

me

recuso

a não

saber

mais

)

Diga-me, o que é mais cruel:

viver com medo

ou

viver querendo ter amor?

Ele não sabia que merecia amor.

Ele foi chamado de nomes ruins.

Ele-

Eu não sei de quem eu estou falando. Mas ele foi.

Não é quem parece, disso eu sei – mas ele se agoniza e se quebra e morre todo ano quando esse dia chega. O aniversário da tragédia – a tragédia que matou.

É só um sonho ruim.

Vai ficar tudo bem.

O dia vai amanhecer, ele vai acordar do pesadelo que teve. O pesadelo é algo que passa.

Tudo vai passar.

Mas ele não sabe que vai passar. Porque todo ano, nesse dia, ele se agoniza e se mexe e se requebra e morre, pois foi o aniversário da morte, e ele não quer se lembrar, porque são lembranças ruins, mas ele também se obriga a lembrar, porque ele merece ter as lembranças ruins-

Isso é só uma intervenção.

"Vai ficar tudo bem-

Ei...

Respire fundo. Beba água.

É só um sonho ruim...

Eu sei que é".

"Promete?"

"Prometo".

M E N T I R O S O.

Ele não sabia que era.

(mas eu não consigo julgar)

(o que mais ele falaria?)

(abra os olhos, vá para o próximo capítulo)

(isso é só um sonho ruim)