Thirty Six

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"E sobretudo alguém por quem eu estivesse apaixonado."

Aquela frase atormentadora continuava a voar em círculos na minha cabeça esgotada remexendo com todos os sentimentos. Arranhando todos os pontos, em particular o meu coração. E, do nada, uma estranha sensação apodera-se do meu corpo e eu caio numa gargalhada profunda. O nível de confusão na cara do loiro é bastante evidente enquanto ergue uma sobrancelha e me fita estranhamente. Ao tempo a que eu me desfaço em risos estranhos e inoportunos.

- Porque é que quando eu te digo que estou apaixonado por ti, tu te ris na minha cara?- Ele grita exasperado, travando o meu riso.

- Porque isso não pode ser verdade. Deus, como é que tu podes estar apaixonado por mim?- Pergunto retoricamente.

-Eu não sei.- Ele expira asperamente.- Eu acabei de contar-te coisas da minha vida que mais ninguém sabe ou percebe. Como não acreditas em mim?

- Às vezes, mesmo que essa pessoa saiba tudo sobre ti e te conte todo o seu passado... Nem sempre é a mais verdadeira. Ou a mais certa.- Eu murmuro sem expressão. Deixando-o pensativo com o meu desabafo.

- Está correto.- Ele finalmente profere.- Mas isso não quer dizer nado do que poderemos eventualmente sentir.

-Tu conheces o meu passado e eu conheço o teu passado. Mas no fundo nenhum dos dois sabe o que realmente isso significa.

- Sabes Summer, às vezes as melhores coisas da vida são as inexplicáveis. As que não têm significado evidente e que nos torturam a mente.- E a frase dele deixa-me levemente incomodada. Pela sua profundidade e pela verdade encoberta nas suas palavras.

- O que é para ti algo inexplicável?- Inquiro.

-Um exemplo?- Indaga e eu assinto levemente.- Os sentimentos. Concretamente o amor.- As suas palavras embora eu não o queira admitir têm um impacto no meu ser interior. As suas palavras circulam em volta da minha mente a velocidades estonteantes. O nível de esgotamento da minha mente começa a atingir níveis incrivelmente altos, algo que que ameaça levar-me a lucidez.- Eu vou buscar alguma coisa para comeres, estás fraca. Deves ter fome.- Ele afirma e retira-se do quarto. Deixando-me sem reacção a encarar a porta.

A minha cabeça está exausta por causa de tudo mas não consigo evitar matutar e remoer tudo no meu cérebro perdido. O seu passado, as suas palavras, os seus sentimentos e o seu carisma oculto. O Niall é uma, senão a pessoa, que mais me surpreendeu nos meus vinte e três anos de vida. Ele é a pessoa mais confusa, controversa, exasperante, obscura e  sobretudo fascinante. Porque para além de ter tantos defeitos e arranhões, no fundo eu começo a perceber que embora não seja fácil... a sua alma não é "má"... apenas manchada. Como Kyara me disse nos meus primeiros dias aqui.

Eu sei que errei ao julga-lo, em parte, eu não estou completamente ciente de tudo e sei que embora ele tenha quase sido forçado nada justifica matar alguém. É desumano e doentio. Mas apesar de tudo. No meu intimo penso que uma remota esperança prevalecia.

O meu raciocínio é interrompido por um tabuleiro pousado levemente sobre as minhas pernas. Levanto o olhar e encaro um Niall cuidadoso com um olhar um pouco distante, que se senta na cama fitando-me quase inexpressivamente.

-Apostei no que seria melhor. Espero que gostes e... que esteja bem aquecido.- Ele fala com um sorriso torto a bailar-lhe nos lábios claros. Encaro a minha refeição e assim que o cheiro invade as minhas narinas, o meu estomago ronca e parece que a água me começa a nascer realmente na boca. Opto por beber o grande copo de água e saciar a minha cede. Logo depois praticamente me atiro ao prato de massa com frango fumegante. Assim que o sabor se enrola na minha língua e começo a engolir uma sensação de felicidade começa a crescer dentro de mim. Quase como se fosse gasolina. Eu não sei. Não como nada decente há tempos e mesmo não dando muita conta, sentia falta de uma refeição em condições.

Stay ➵ N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora