Fourteen

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" O tempo passa e apenas as memórias ficam."

Todos, pelo menos uma vez na vida, já ouvimos algo idêntico ou parecido a isto. Afinal, é a triste e dura realidade. Com o passar dos anos as coisas vão, vêm e, por muito que queiramos, não conseguimos manter os momentos vivos, a não ser na nossa mente. Mais dia, menos dia tudo desaparece e apenas as memórias permanecem eternas. Se é justo? Não, não é. Mas a vida também não é justa.

Pontapeando uma pedra inocente do chão, caminho sem algum destino evidente. A minha cabeça está bastante preenchida por este recente acontecimento e as memórias começam a atormentar-me sistematicamente. Sinto que posso explodir a qualquer momento.

Não sei o que pensar. Não sei o que fazer. Não sei como reagir.

Por um lado só me apetece deixar tudo outra vez e condenar-me ao meu estado depressivo e solitário. Por outro lado quero lutar e mostrar que, apesar de todos os obstáculos que a vida mete no meu caminho, consigo superar. Só que é difícil pois todas estas ultimas ocorrências levam a minha capacidade de raciocinar para as trevas longínquas.

Preciso de pensar e reflectir sobre isto. Preciso de pensar o que vou fazer agora. Lutar ou desistir. Lutar por não desistir ou simplesmente desistir de lutar.

Quando chego a algo que julgo ser um penhasco devido à quebra do solo, paro. Ergo a cabeça e olho em volta, reconhecendo o local a que Niall me trouxe há não muito tempo atrás. Localizo uma grande pedra e sento-me nela, olhando para o vazio do penhasco.

Durante toda a minha vida sempre me perguntei qual seria a minha função. Quando perdi aqueles de quem mais gostava perguntei-me se o meu destino era estar sozinha. Agora, sem ninguém, nem mesmo aparentes amigos, dou por mim a questionar-me porque é que a minha vida acaba por ser um completo desastre. Mesmo nunca tendo passado fome ou enfrentado uma doença horrível, não consigo deixar de lado o meu sentimento de ingratidão para com a vida. Ou talvez seja a morte?
A vida deixou que a morte me tirasse tudo. Família, amor, amigos, até mesmo o meu cavalo. E se existe algo pior que a dor física, é a psicológica, a triste e penosa dor psicológica. Gostava de culpar alguém por todo o meu sofrimento, no entanto eu sei que a culpa não é de mais alguém, a não ser de mi própria.

Talvez se simplesmente desliza-se por este penhasco tudo acabasse e eu pudesse estar com quem amo num mundo alternativo. Talvez se simplesmente acabasse com a minha vida não sofresse mais. Contudo não sou corajosa o suficiente e prefiro viver sozinha. Mesmo que nunca vá ser feliz eu sei que com a minha profissão posso ajudar uma parte especial da minha vida, os cavalos. Nunca terei nenhum capaz de substituir Sunlight nem quero, mas sei que, ao ajuda-los, é uma forma de me manter em contacto com ele.

-Summer.- Uma voz que eu viso estar a tornar-se muito conhecida para mim faz-me olhar para trás.

-Hey.- Respondo neutra.

-Bom lugar para pensar não é?- Indaga, aproximando-se.

-É.- Concordo simplesmente, ouvindo-o suspirar exasperado.

-Ouve Summer, eu quero ajudar-te...

-Niall entende, não preciso de ajuda.- Corto bruscamente.- Odeio que tenham pena de mim, compreendes? Odeio que as pessoas me vejam como uma coitadinha porque eu não sou, posso ter passado por episódios horríveis mas não sou nenhuma louca com tendências suicidas.- Exaspero.

-Não tenho pena de ti Summer.- Profere.- Eu apenas... -Busca as palavras, que não parecem querer aparecer.- Não sei. Eu não sei, não sei sequer o que estou aqui a falar contigo. Tal como disseste nem sequer queres a minha ajuda.

-Tens razão, não quero.- Respondo, seca.

-Como queiras.- Grunhe, rodando nos calcanhares saindo dali.

Merda.

Não sei porque ele me enerva tanto, mas enerva. Talvez seja a sua bipolaridade ou o seu feitio que parece querer desfigurar a minha mente. Ele tem sido quase sempre fleumático e ignóbil desde que o conheci e, não sei como nem porquê, tornou-se um pouco mais... socializável comigo. Não o entendo, porém, talvez tenha sido um pouco injusta com ele. Suspiro, levanto-me e corro um pouco atrás dele.

-Niall.- Chamo assim que o avisto a poucos metros já a chegar aos estábulos. Ele vira-se para trás e espera que eu me acerque.- Desculpa.- Digo, fazendo-o arquear a sobrancelha em confusão.

-Porquê?- Inquere, fazendo-me revirar os olhos devido ao orgulho a arranhar-me a garganta.

- Por ter sido injusta quando só me querias ajudar.

- Tudo bem. – Sorri fraco.- Sei que é complicado.- Diz compreensivamente.

- Obrigado.- Returco e desvio-me dele.

Ele conhece uma parte do meu passado, não quem eu sou.


Stay ➵ N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora