Seventeen

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Afago a crina cor de chocolate de Dreamer e sorrio quando vejo o brilho puro e doce nos seus olhos.  Por momentos percebo, de alguma forma,  o porquê de Sun gostar de estar com ela.

-Summer.- Pelo canto do olho, guiando-me pelo local da voz proveniente, avisto a figura que tenho evitado a todo o custo nos últimos dias. O que nem sempre foi possivel, de todo, sendo que ambos habita-mos a mesma casa. Virei-me, muito lentamente, começando a andar na direcção contrária à sua, mantendo a minha escolha prévia de deixar a nossa situação pendente.- Summer!- Ele bufa frustrado e eu acelero o passo quando o sinto vir atrás de mim. Ele alcança o meu braço e vira-me para ele num gesto bruto mas que não me chega a magoar.- Summer olha para mim.- Ele pede-me e eu recuso-me, continuando a fitar um ponto inexistente atrás dele. Eu acabo por me render, suspirar e encaro os seus olhos azuis.

-O que queres Niall?- A minha voz soa distante enquanto eu luto para absorver todo o azul expelido pelo seu olhar.

- Tu sabes o que eu quero.- Ele suspira e larga-me o braço.

-Acho que estás enganado.- Eu viro-me dando alguns passos.

-Porque é que me andas a evitar a todo o custo?- Eu estaco no meu lugar, sem me virar para trás.- Diz-me Summer porquê é que não dás sequer a oportunidade de falar sobre o que aconteceu.

-Não aconteceu nada.- Digo num murmúrio, alto o suficiente para ele ouvir.

-Sim aconteceu e tu sabes que aconteceu.- Insiste.

- Não insistas. O que aconteceu é um erro que eu quero esquecer e não matutar muito nisso.

- Então fugir é a solução?- Ele ri irónico.

- Eu não estou a fugir.- Falo vagamente. Ainda de costas.

- Estás a ignorar o óbvio.

-Não existe “óbvio” Niall. Tu apenas te aproveitas-te de mim de uma maneira que eu não me pude defender.

-Porra falas como se eu te violasse ou algo assim. Se aconteceu algo foi culpa dos dois.- Ele grunhe e eu viro-me para trás a tempo de o ver passar as mãos pelo cabelo loiro.

- Não insistas no assunto. Foi um erro e os erros são para se aprender com eles.

- Eu não acredito que aches aquilo um erro.- Ele dá um passo em frente e eu dou dois atrás.

- Pois mas acho.

- Tu és a pessoa mais frustrante do mundo!- Ele atira.

-Parece que tens a mesma opinião de mim que eu tenho de ti.- Divago.

-Tu… argh esquece. Se queres ignorar factos ignora.

-Eu apenas não quero ser magoada ou cometer mais erros. Coisa que vai acontecer se me deixar levar por ti. Porque advinha? Eu sei que nunca vais amar alguém.- Cuspi.

-O amor é para os tolos.- Ele revira os olhos.- E se pensas que algum dia poderia sentir algo mais do que uma atração física por ti estás muito enganada.

- Óptimo porque sabes que mais? Eu nem isso iria sentir por alguém como tu que nem um pingo de amor tens no sangue. Tu não conheces qualquer tipo de amor do que o teu auto-amor. És doentio.- Eu grito na sua cara.

-Tens razão talvez eu não conheça. Mas pelo menos não sou uma iludida com a vida nem uma triste que está sozinha no mundo e que a única coisa que tinha a abandonou. Assim como tudo.- Ele grita e eu sinto o meu corpo ser derrubado por uma bola demolidora a trezentos quilómetros por hora. A minha expressão muda drasticamente e ele parece cair em si quando a sua expressão fica pálida.- Summer eu não…

-Deixa.- Corto-o.- Sabes eu acho que finalmente disseste tudo no que se baseia a minha vida. Eu não passo de uma rapariga a quem os pais, o irmão e o namorado morreram. Não passo de uma rapariga de quem a tia nunca gostou. Não passo de uma rapariga que durante oito anos apenas teve um cavalo como amigo. Não passo de uma triste iludida que perdeu a única coisa que ainda tinha e que ainda assim pensa que algum dia vai ser feliz. Eu não passo de uma rapariga que perdeu tudo por sua própria culpa.- Eu rio sem graça.

-Summer tu não…

- Sim eu sim.- Interrompo.- Se eu não insistisse tanto para eles estarem naquele estupido concurso eles não teriam saído de casa nem tido o acidente. Se eu não fosse uma adolescente revoltada e egoísta por ter perdido quem mais amava talvez a minha tia não me odiasse. Se eu não ocupasse o Sunlight nem o tivesse arrastado nos meus problemas ele ainda pudesse estar a pastar sossegado num prado de Perth. Todas as coisas más que me acontecem são culpa minha não são?- Eu pergunto retoricamente.- Eu sei. Sempre soube que a culpa era única e exclusivamente minha e mesmo assim eu ainda acredito que poderia um dia ser feliz.- Eu rio secamente enquanto uma lagrima aparece nos meus olhos fulminantes.- Eu é que devia ter morrido. Não eles. Mas sim eu. Pelo menos acabava-se com tudo de uma vez.

-Summer não digas…- Ele tenta mais uma vez mas eu abano com a cabeça.

-Não vale a pena eu sei que é verdade. Nem te sintas culpado porque aqui a culpada de tudo sou eu.

-Summer…

-Não digas mais nada. Mas obrigada por me fazeres cair em mim e perceber que tudo o que eu pensava era mesmo certo. Eu não sirvo para nada neste mundo a não ser para causar dor e acabar com a vida de pessoas e animais que me queriam bem. Eu não posso amar ninguém sem que esse alguém morra.- Engulo em seco.- Eu… Eu sou um monstro.

-Não tu não és.- Ele alcança as minhas mãos.- Eu não queria dizer aquilo e desculpa eu…

-Mas tu tens razão. A minha única função aqui é causar dor. Desculpa por isto.- Eu rapidamente me largo dele e corro para fora do estábulo. 

Stay ➵ N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora