Eleven

3.1K 287 50
                                    

-Sunlight!- Grito e abro rapidamente a porta enquanto me ajoelho a seu lado. O seu corpo repousa, estendido ao longo da box e a sua barriga está inchada, a sua respiração fraca e pesada.- Sunlight!- Grito novamente enquanto examino o seu corpo. Frequência cardíaca baixa, respiração difícil.- Não! Não! Não! Tu não podes, não agora.- A minha cabeça vira-se em varias direcções enquanto tento pensar em algo ao tempo que as lagrimas começam a fluir violentamente pelas minhas feições. – Não podes, és a única família que me resta. Por favor, não me deixes.- O seu olho negro abre-se e fita-me intensamente, ele olha-me uma última vez com o seu carinho habitual para depois os seus olhos largarem uma pequena lagrima e se fecharem de vez.- Não!- Berro e agarro-me ao seu pescoço.

Eu acabei de o perder, perdi o que mais temia, a única coisa que me restava. Este dia haveria de chegar, eu sabia que sim, mas não tão cedo. Não agora, não já, não nunca.

Eu consegui salva-lo de muitas coisas, intoxicações, cólicas, tudo. Mas a idade foi algo que eu não aprendi a cuidar. E agora ele morreu, abandonou-me, como todos fizeram.

-Summer.- Uma voz longínqua soa na minha mente assim que enterro a cabeça no pescoço de Sunlight que ainda se encontra quente.- Summer o que...- As suas palavras param. Movo o meu olhar na sua direcção. Niall olha-me e eu abano a cabeça e volto a chorar contra o pelo cinzento do meu cavalo. O meu único cavalo.- Summer.- As suas mãos tocam nos meus ombros e sinto a sua presença ajoelhar-se junto a mim, puxando-me para um abraço.

-Ele morreu Niall, ele morreu.- Choro pesadamente contra o seu peito enquanto agarro com força a sua t-shirt.- Ele não podia, não podia.- As suas mãos procuravam acalmar-me ao movimentarem-se nas minhas costas em círculos, porém é inútil. Nada apaga a dor que sinto neste momento, nada conseguirá preencher o vazio completo que se apoderou do meu peito.

-Ele já era velho... pensa que ele foi feliz enquanto esteve vivo. Pensa nos bons momentos que passaste com ele.- A voz serena dele tentava confortar-me de igual modo mas era escusado. A dor permanecia. Ele era o meu último suporte. A minha única família. O meu único amigo.- Era apenas um cavalo Summer...

-Não Niall não era apenas um cavalo.- Deixei o seu abraço.- Tu não percebes.- Abando a cabeça e volto a olhar para o corpo do meu cavalo.

- Tu podes ter outro e tentar...

-Não!-interrompo.- Eu não quero outro cavalo. Este cavalo é a única família que eu tenho! Ele está comigo desde sempre, ele foi o único que me apoiou em tudo. Tudo!- Limpo o meu nariz com as costas da minha mão e encosto-me à parede de madeira da box. O corpo deitado e sem vida daquele que foi o meu companheiro por dezanove anos.- Ele devia viver mais Niall.

- Já era velho. – Reforça, tentando justificar a sua partida.

- Mas não é justo. Ele não me podia deixar, ele era tudo o que me restava. Não tenho mais ninguém, porra.- Repito, deixando a minha cabeça cair das minhas mãos e fitando a palha do chão.

- Porque é que este cavalo era tão importante para ti?- Suspiro com a sua questão, preparando-me para abrir parte de mim.

- Eu recebi o Sunlight no meu quinto aniversário, ele era apenas um pequeno potro órfão. Quando o recebi foi o dia mais feliz da minha vida. Passei o dia à sua beira, a tentar ganhar a sua confiança. Dei-lhe leite por biberão durante algum tempo, ele ainda era muito novo.- Sorri quando as memorias se aproximavam.- Lembro-me do momento em que lhe escolhi o nome, quando olhei fundo nos seus olhos negros algo brilhou quase tanto como o sol, daí Sunlight.- Explicitei.- Anos passaram e o pequeno potro tornou-se num magnífico cavalo. Eu tinha oito anos quando o montei pela primeira vez e, a partir do momento em que passamos juntos o primeiro obstáculo eu percebi que ele era especial.- Fiz uma pausa para repor as ideias.- Após uma temporada de treinos intensivos começamos a participar nas competições locais, que passaram a nacionais e até algumas a nível mundial. O pequeno cavalo cinzento era notícia em Perth, a minha cidade natal.- Suspirei.- Ele esteve comigo em tudo. Até no meu primeiro beijo aos treze anos com um rapaz da minha turma.

Stay ➵ N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora