Eighteen

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As minhas pernas traiçoeiras acabam por me fazer tropeçar e cair contra a erva. Sem forças e sem vontade para me levantar, fico-me pelo chão, grunhindo. Abraço os meus joelhos e deixo a minha cabeça entre estes enquanto uma dor forte invade todo o meu interior. Odeio sentir-me assim, odeio que ele me faça sentir assim, odeio-o.

-O que aconteceu?- Ouço passos carregados de pressa aproximarem-se e, quando os deixo de ouvir, sinto uns braços à minha volta, afagando-me as costas levemente.

- Porque é que eu não posso simplesmente deixar de fazer os outros sofrer? Porquê?- Murmuro entre soluços enquanto amaldiçoo o facto de não conseguir evitar que as palavras revoltadas deixem a minha boca.

-De que falas?- Olho para a sua cara, a minha visão embaciada devido às lagrimas que tento controlar. Apesar disso, consigo decifrar as tranças de Kyara.

-Só faço mal às pessoas, só mal.- A respiração travava na minha garganta.- Eu não mereço sequer viver eu...

-Shhh.- Ela torna a abraçar-me, desta vez para me acalmar.- Tu não és uma má pessoa Summer. - A hippie profere com a sua voz passiva característica.

-Eu sou.- Reclamo- Sou um monstro que faz toda a gente sofrer. Eu sou alguém que tem medo de ficar sozinha mesmo sabendo que já estou. Eu afasto todos de mim, porque eu sou horrível, porra.- Fecho os olhos com força, milhares de revoltas antigas a revelarem-se neste momento.- Porque é que eu não podia simplesmente morrer em vez deles? Porquê?

-As coisas têm uma razão de acontecer. – Começa.- A culpa das pessoas que tu gostas morrerem não é tua Summer.- Tenta reconfortar-me.

-Sim é, é toda minha!- Exaspero.- Os pais do Ashton culparam-se pela morte dele com razão. Toda a minha família me culpou pela morte dos meus pais e eu própria me culpo por tudo, porque é verdade, se não fosse eu eles estariam aqui.- A minha voz falhava à medida que os acontecimentos me assombravam.- Olha à minha volta, até o Sunlight perdi. Como é que queres que eu não pense que sou culpada, se o que acontece à minha volta é devido a mim?

-Não é culpa tua- Ela suspira.- Ninguém tem culpa de nada do que te acontece. Eu não conheço a tua história mas sei que tu não és uma má pessoa. Não te massacres por estas coisas. A morte é algo inevitável. Não a podes mudar, por muito que queiras. Ninguém pode.

-Mas se eu tivesse...- Ela cortou a minha contestação.

-Mas se tu nada.- Diz firmemente.- Tu não podes pensar sempre nos "mas" porque se assim fosse nada acontecia na tua vida. Tu não podes mudar o passado nem moldar o futuro como tu queres. Apenas podes aproveitar o presente.- Fala.- Tu és nova, inteligente e forte. Não penses em coisas que nem sequer são verdade, não te massacres com coisas das quais, repito, não tens culpa alguma. A única coisa que tens realmente com que te preocupar é teres oxigénio para viver. É tudo o que precisas para ser feliz.

- Isso não é assim tão simples.- Suspiro.

-Sim é. Basta quereres, basta lutares pelas coisas certas.- Eu subo o meu olhar até ao seu rosto pacífico. Ela sorri-me ligeiramente, e eu limpo as lagrimas com as costas da mão.- O que se passou para teres esta recaída?- Kyara ajuda-me a levantar. Pondero se lhe conto ou não. No entanto, após ter dito tanta barbaridade, mais uma não fará diferença.

- Niall.- Disse em resposta.- Ele disse-me coisas que me deixaram a pensar, nada de mais.- Dei de ombros fracamente.

-O que aconteceu? Quer dizer, eu sei que ele às vezes diz coisas da boca para fora mas...

- Eu tenho-o evitado já há dois dias porque nós nos beijamos e foi um erro.- Começo.- E eu não quero nada com uma pessoa como ele. O próprio me admitiu que não acredita no amor. E eu não sinto nem quero sentir nada por ele.- Explico.- Somente não quero dar importância às coisas que não passam de erros e não matutar demasiado nas coisas, como tu própria disseste. Mas em vez disso acabamos por discutir e tocar nos meus pontos fracos e eu desabei.- Suspirei.

- Às vezes quem não acredita no amor acaba por ser quem o conhece e vive melhor. Às vezes quando pensas que não sentes nada acabas por sentir tudo. Às vezes o melhor amor encontra-se oculto e por vezes nunca vem à tona e morre sem nunca ter tido hipótese de viver, não queiras que isso aconteça convosco. Se existir algo, deixa existir, não fujas disso. – Ela divaga e eu sinto um redemoinho no meu cérebro a tentar assimilar todas as suas palavras. Kyara tem sido alguém cujas palavras me fazem reflectir sobre muito. Ela acaba por ter as palavras para me fazer pensar embora de uma forma indirecta. Ela diz as coisas erradas em momentos certos e diz as coisas certas em momentos errados.

E eu sei que o seu único objetivo é deixar-me a pensar, e chamar-me à razão. O impressionante é que, incrivelmente, resulta.



Stay ➵ N.HOnde histórias criam vida. Descubra agora