One

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  Chega um momento na vida em que tu pensas em mudar tudo, começar da estaca zero, partir para algo novo e cativante. Para mim esse momento surgiu há poucos meses atrás e, finalmente, começo a idealizar um novo ponto de partida. O que espero que me venha a ser útil.



Após quase vinte horas infernais dentro de um cubículo de tamanho exagerado, o qual é por norma apelidado de avião, o solo firme encontra-se por baixo nos meus pés. Ajeito a pequena mala com os meus pertences mais práticos e, lentamente, percorro todo o percurso que teria estabelecido atravessando o aeroporto, passando pelas várias secções onde recolhi as minhas malas. Um pequeno snack foi adquirido por mim, e logo o comecei a devorar, pausadamente, enquanto observava o mundo ao meu redor e empurrava as duas malas maiores em simultâneo.

Chegada ao exterior, a minha pele  arrepia-se pelas temperaturas baixas às quais não estou de todo habituada. Busco um táxi, chamando-o de seguida. O taxista coloca as minhas malas na bagageira e eu instalo-me no banco traseiro, esfregando as minhas mãos enquanto contemplo o céu através do vidro reluzente do veículo. O céu é cinzento e eu não sei se isso seria algo de bom ou de mau.

Afinal, o sol é algo que nós consegue proporcionar alegria mesmo que não queiramos, mas a chuva não deixa de ser a melhor confidente de todas. Com uma pequena excepção que eu anseio encontrar não tarda muito. Tenho saudades dos seus olhos carinhosos, das suas palavras silenciosas, dos seus actos reconfortantes e, sobretudo da sua presença insubstituível.

- Para onde deseja ir, senhora?- A voz levemente gasta do condutor inquere num tom que eu poderia considerar amigável.

- Dê-me um segundo por favor.- Peço educadamente enquanto vasculho a minha mala tiracolo, buscando o meu caderno de anotações. -Poderia levar-me para esta morada?- Inquiro ao mostrar as letras e números rabiscados numa das folhas pautadas.

-Claro.- Sorri prestavelmente e liga a ignição, começando a ultima jornada até ao meu destino final.

Nestes últimos dias eu tenho dado por mim a perguntar às minhas estrelas se o que eu faço seria o melhor a fazer. Se deixar uma parte do meu passado para trás seria bom... mas depois eu reflicto que o passado nunca me abandonará. E isso basta-me para manter a minha decisão calculada de tentar transformar a minha vida em algo mais pacifico. Tornar o mundo um lugar mais solitário, onde apenas eu e o meu mais fiel companheiro pudéssemos viver sem interferências das cruéis vidas adjacentes. Porque, pensando bem, a maioria das pessoas não liga ao verdadeiro sentido da palavra "vida".

Talvez eu seja uma delas, quem sabe?







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