Capítulo 1

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Ele

Ainda não acredito que a chamei para esse jantar só para terminar com ela -porque na cabeça dela nós estamos namorando, embora só estejamos ficando- mas conheço Loretta, e sei que é mais provável que faça menos crises em locais públicos, então a trouxe para o restaurante mais bem frequentado da região. Espero que dê certo.
Só não sei se consigo aguentar um jantar inteiro com ela, e o pior nem é ter que pagar uma fortuna para ela pedir uma salada, o pior é ter que ouvir tudo o que fala, sinceramente eu não sei como aguentei esse "relacionamento" por tanto tempo, e um mês com ela foi muito, muito tempo.
Já era sempre um sacrifício ter que ficar na companhia dela quando estávamos nos mesmos lugares, ainda bem que nossos pais não tem mais negócios juntos então isso não irá mais acontecer.

- Você está estranho, quero dizer, mais estranho que o normal, tem alguma coisa errada? - Loretta pergunta com naturalidade e sinceramente eu já nem me importo com ela dizer que sou estranho.

Acho que ela sabe o motivo de eu a ter chamado aqui, já vinha tentando me afastar dela fazia algum tempo. Loretta sabe que eu não sou o tipo de homem com quem se tem um compromisso sério ou algo do tipo, não que ela tenha demonstrado que se importa de qualquer forma.

- Ei! - ela estala seus dedos com unhas enormes e pintadas de rosa perto perto do meu rosto. - Eu estou falando com você, não vai me responder? - ela parece furiosa, nada bom.
- Eu estou te ouvindo Loretta - explico - acho que todo o restaurante pode te ouvir - falo a última frase um pouco mais baixo.
- Eu nem sei para que eu aceitei vir nesse jantar, se for para ficar ouvindo patadas eu prefiro ficar em casa! - ela diz com desdém.

Loretta está sofrendo com a separação de seus pais, e eu sei que deve ser bem estressante, mas ela já era essa pessoa arrogante bem antes de os pais dela anunciarem sua separação no noticiário, que foi onde todos descobriram, inclusive Loretta.

- Me desculpa Loretta, ok? - falo um pouco impaciente - É que eu tive um dia difícil, briguei com meu pai de novo.
- Tudo bem, eu te perdoo amor - diz mandando um beijo para mim no ar.

E como sempre, Loretta não fez questão de me perguntar sobre minha briga com meu pai. Não que eu fosse contar para ela, mas queria que ao menos ela se importasse.
Só tenho que aguentar mais um pouco, quando o jantar terminar, eu termino com ela.

- Por que estão demorando tanto para nos servir?
- Loretta, nós acabamos de chegar.

Nós esperamos por mais uns minutos quando de repente Loretta olha com nojo de cima a baixo para sua esquerda, e eu sigo seu olhar.
Logo entendo o motivo do olhar de Loretta, embora provavelmente não partilhe da mesma opinião.

Uma mulher está vindo, e ela está com o vestido preto que as mulheres que trabalham aqui usam, mas é pequeno, muito justo e pequeno. Ela é alta e parece ter a minha idade ou um pouco menos. O cabelo loiro ondulado está preso em um rabo de cavalo baixo e alguns fios estão soltos dos dois lados de sua cabeça. Ela está com um sorriso quase forçado, o que mostra uma pequena covinha única do lado direito de sua bochecha. Seus lábios são um tanto rosados e carnudos, principalmente o inferior, e os olhos são de um negro reluzente. Ela é realmente muito linda, e talvez seja por isso que Loretta já a odiou sem ao menos ter trocado uma palavra com a garçonete.

- Boa noite, desejam beber algo antes que façam seus pedidos? - pergunta olhando bem pouco para nós dois, parecendo um pouco envergonhada.
- Não! - Loretta diz um pouco alto - Nós não queremos ser atendidos por você! Dê meia volta e peça pra qualquer outro vir nos atender! Eu pensei que esse restaurante tivesse classe! Não queremos ser atendidos por você, obrigada! - a voz de Loretta era amarga e olhava a garota de cima a baixo.
- Por que você está fazendo isso? - pergunto olhando confuso para Loretta.

A moça faz que sim com a cabeça um pouco transtornada e vai falar com outro garçom, antes mesmo que eu pudesse falar com ela ou me desculpar no lugar de Loretta.

- Você vai me dizer o que aconteceu, ou não?- pergunto novamente.
- Você quer ser atendido por uma piranha? Gostou dela? Quer levá-la para sua casa e comê-la?
- Você destratou aquela mulher na frente do restaurante inteiro enquanto ela fazia o trabalho dela, e tudo isso por ciúmes? - pergunto desacreditando que ela seja tão fútil.

Ela desconversa e puxa outro assunto. E então começa a reclamar dos garçons, do atendimento, da salada, enfim, de tudo. Enquanto isso eu fico olhando a mulher que ela tratou mal passear pelo salão anotando os pedidos, ela não se parece nem um pouco com os outros funcionários, continua com o mesmo sorriso que nos atendeu, e percebo que ela dá esse mesmo sorriso forçado para todos.

O mais estranho é que sinto que a conheço de algum lugar. Não fisicamente, acho que nunca a vi na vida, mas de uma forma estranha eu acho que já sonhei com ela.

Balanço a cabeça para tirar essa ilusão da cabeça, afinal, como eu poderia sonhar com uma mulher que nunca vi na vida?
De qualquer forma uma coisa é certa, eu não posso sair daqui hoje sem pedir desculpas para ela pelo modo como Loretta a tratou, sei que não é minha obrigação, mas precisa ser feito, e com certeza Loretta não vai fazer isso.

- Você tá brincando comigo, não está? - Loretta pergunta enquanto revesa seu olhar entre mim e a mulher da qual eu ainda não sei o nome.
- Do que você está reclamando agora? Porque eu tenho certeza que você já reclamou de todas as coisas possíveis desde o momento que entrou no meu carro até esse exato segundo! - eu digo, mais como um desabafo.
- Nossa, me desculpa se me incomoda que meu namorado fique secando a garçonete!- ela ri com desdém - realmente esse jantar foi uma péssima ideia mesmo.
- Loretta..
- Não - Loretta me interrompe - escolha agora. Essa garçonete gorda, ou eu - ela estufa o peito e joga seu longo cabelo negro para trás.

Eu ia dizer para ela que isso é uma maluquice porque eu nem conheço a garota que nos serviu e também porque eu a trouxe aqui para terminar qualquer tipo de relação que temos de qualquer forma.
Mas tive uma ideia melhor.

- Eu escolho ela - digo simplesmente cruzando os braços.
- Oi? - pergunta desacreditando.
- Você pediu para eu escolher. Eu escolho ela, que não é nada gorda por sinal.
- Você deve estar brincando. Ela não é como nós. Ela é o oposto de nós.
- Isso é um elogio - digo sinceramente.

Loretta nega com a cabeça sem saber mais o que dizer. Ela toma um último gole de seu vinho branco, se levanta e sai.
Faço um sinal para um garçom próximo indicando que quero a conta e peço também que chame a última mulher que nos atendeu.

- Aqui está a conta senhor, mas receio que Honey já tenha terminado seu expediente.

Então o nome dela é Honey. Não é um nome muito comum. Gostei disso.

Eu pago a conta, agradeço e saio.
Sei que os funcionários daqui deixam os restaurantes pelos fundos que dá direto para o estacionamento - porque já fiquei com uma garota que trabalhava aqui há alguns anos - então saio do restaurante e vou em direção ao estacionamento.

Posso perguntar se Honey quer uma carona, é o mínimo que posso fazer depois do que Loretta disse a ela.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora