Capítulo 44

214 11 0
                                    

Ela

- Aaahhh - eu fecho meus olhos e respiro fundo - que dor.

Colin vem até mim e segura minha mão. Kate também está ao meu lado.
Depois de alguns instantes a dor cessa.
Tenho quase certeza que essa dor foi ainda pior que a última. É como uma cólica, mas não se pode ser descrita assim porque dói bem mais, e eu sinto uma pressão vinda do meu útero que é horrível. A parte boa é que tudo isso indica que Aurora já está a caminho.
Kate aparece com mais água de coco para eu tomar.

- Que horas são? - eu pergunto.
- Quatro horas da tarde - Kate responde.
- Não é melhor eu ir para o hospital agora? Tá doendo tanto.
- Nós poderíamos se você se sentir melhor, mas acho que ainda falta mais um pouco, querida. Aguenta só mais um pouquinho.

Decidimos chamar Kate quando tivemos duas contrações com intervalo de dez minutos uma da outra, e ela não demorou nada para chegar aqui. Mas agora as contrações já estão espaçadas novamente e não sei mais quanto tempo isso vai durar.

Meu Deus estou com tanto medo.
Medo da dor, e também do que virá depois.
Mas já esperei demais. Dez meses e dois dias de espera.
Colin e eu fizemos de tudo para induzir o parto. Nós dançamos, caminhamos, fizemos amor e eu até comi frutas que dizem que ajudam. Nada funcionou, até agora.

Não contei para Colin toda a verdade sobre a hora em que comecei com o trabalho de parto. Eu não acordei para comer nada, acordei com uma notificação em meu celular. Uma mensagem de Bob. Eu não faço ideia de como ele conseguiu meu número, mas isso não importa.
A mensagem de Bob dizia que ele estava muito arrependido, e perguntava se já era tarde demais para que eu o perdoasse.
Fiquei tão frustrada, fiquei com tanta raiva, que quando vi já estava abaixada me contorcendo de dor. Mas não era justo ficar com raiva de Bob sobre essa notificação, era? Quero dizer, eu estou feliz com a minha gravidez, e completamente ansiosa para pegar minha bebê nos braços. Porém, só de me lembrar de Bob em cima de mim eu fico enfurecida e transtornada.
De qualquer forma, se eu contasse para Colin, ele iria ficar nervoso e não preciso disso agora. Eu mesma não vou pensar nisso agora. Preciso me forçar a me concentrar nesse parto e em trazer minha filha para esse mundo. Pelo menos por hora, eu vou esquecer essa droga de mensagem.

Colin pergunta se eu estou bem e eu faço que sim.
A enfermeira obstetra Natalie também chegou aqui para escutar o coração da Aurora e viu que estava tudo bem, o que me acalmou demais. Kate já me fez massagem nas costas, nós já caminhamos pelo jardim e até já me ajudou a cozinhar.

De repente a campainha toca e eu nem preciso perguntar quem é. Com certeza são And e Chloe.
Eles disseram que viriam assim que possível para marcar presença como padrinhos da Aurora e eu disse que não via problema algum. Já minha mãe disse que só virá depois que Aurora nascer porque não vai aguentar me ver gritando de dor.
Colin gostou porque ainda não está muito acostumado a estar na presença da minha mãe. Ele ainda está aprendendo a aceitar que eu voltei a falar com ela.

- Oi Chloe - digo sorrindo.
- Porque você ainda está sorrindo. Aliás, porque ainda não foi para o hospital?
- A resposta para a primeira pergunta é: estou sorrindo porque minha filha finalmente está chegando ao mundo. E a segunda resposta é: Kate e Natalie é que vão me dizer a hora que temos que ir para o hospital - digo apontando para Kate e Natalie que está um pouco mais longe
- Muito prazer, sou Chloe, madrinha e melhor amiga.
- Prazer, eu sou Kate, a doula - diz apertando a mão de Chloe.

Nós esperamos, esperamos e esperamos. Nada de Aurora e nada de mais contrações até que o relógio marca cinco e vinte e eu me agacho próxima a escada gritando de dor. Essa contração com certeza veio bem mais forte.
Contrações mais fortes indicam que a hora se aproxima cada vez mais e eu não sei se fico mais feliz ou mais apavorada. Decido em ficar mais feliz, afinal, vou ver o rosto da minha princesinha logo logo.

Não sei com quantos centímetros eu estou. Escrevi no meu plano de parto que só queria receber o exame de toque quando fosse extremamente necessário e que ainda assim eu não quero que me digam a resposta.
Tenho certeza que saber quantos centímetros ainda faltam só fará com que eu fique ainda mais nervosa e ansiosa.

- Minha bola. Minha bola. Minha bola - eu grito para qualquer ser humano que possa me ouvir quando outra contração aparece - alguém!

Colin aparece de súbito com a bola nas mãos e me ajuda a sentar em cima dela.
Depois que eu me sento, consigo respirar mais aliviada.
Acho que essa contração veio mais rápida, talvez com uns vinte minutos de espaçamento desde a última. Tomara que isso signifique que não vai demorar muito mais porque já estou exausta e ofegante e não sei o quanto mais eu vou aguentar.

Já tinham me avisado que as dores das contrações eram fortes, fora os livros que li e documentários que assisti. Tudo para me preparar para esse momento. Mas nada pôde me preparar para o que estou sentindo. Eu nunca senti nada parecido. Dói tanto, mas tanto, que não consigo nem mesmo identificar se a dor vem da lombar, costas ou pélvis. Simplesmente dói demais.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora