Capítulo 33

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Ele

Não liguei para minha avó avisando que estava vindo então não sei o que esperar. Nem sei nem se está em casa.

Honey e eu estamos parados dentro do carro, esperando absolutamente nada.
Eu só fico olhando para a porta da casa dela esperando que talvez por um milagre ela abra a porta e venha até mim.

- Amor, não precisamos fazer isso hoje se não quiser.
- Não. Eu preciso. Já estamos aqui, então.. vamos lá - digo saindo do carro.

Abro a porta para Honey e estendo a ela minha mão para ajudá-la a sair do carro.
Caminhamos pela entrada e passamos pela cerca branca que envolve a casa.
Honey dá sua mão enluvada para mim, eu a seguro e aperto forte.

Fico parado na frente da porta, mas não consigo bater então Honey faz isso por mim.
Depois de alguns instantes a porta se abre e uma mulher de cabelos grisalhos aparece. Ela não tem aparência de idosa, eu diria que ela está inacreditavelmente bem conservada apesar de suas rugas.

- Posso ajudar vocês? - diz docemente.

Depois de alguns instantes ela olha bem para meu rosto e então fica paralisada.
É minha avó. A foto em que vi sua era antiga, mas eu a reconheceria. Além disso, parece que ela também me reconheceu.

- Colin? - pergunta - Colin, é você? - pergunta novamente, mas com lágrimas nos olhos.
- Sou eu - digo quase baixo demais.
- Meu Deus, você está aqui! Eu.. eu.. posso te dar um abraço?

Eu avanço um passo e minha avó se joga em meus braços.

- Meu netinho está aqui, como isso é possível? Você cresceu tanto! A última vez que eu te vi você era tão pequeno.

Isso é uma informação e tanto. Significa que ela vinha me ver.

Honey se treme um pouco e minha vó então percebe que ela está ao meu lado. Mesmo estando completamente agasalhada, Honey sente bastante frio.

- Essa é a sua esposa? Você se casou?
- Na verdade, somos só namorados - Honey diz sorrindo.
- Muito prazer, eu sou a Kate.. a.. avó - diz dando um abraço em Honey.

Não vou negar. Já pensei em pedir a mão de Honey em casamento, mas nunca pareceu ser o momento ideal. E agora que faltam dois meses para a bebê nascer, com certeza não é a hora.

- Vamos, vamos entrando, aí fora é realmente muito frio, fiquem a vontade, a casa é de vocês.

Honey e eu entramos e nos sentamos na sala onde está passando o programa da Rachael Ray na televisão. Honey fica logo animada, ela adora esses programas de culinária.

- Me contem tudo, quero saber de absolutamente tudo. Eu ainda não acredito que meu netinho está bem aqui na minha frente - diz limpando uma lágrima.
- Na verdade vó, eu é que queria algumas respostas.

Ver minha avó e saber que está emocionada em me ver é algo que eu queria muito. Idealizei esse momento de diversas formas desde o dia em que soube que estava viva, mas embora tudo seja muito emocionante, eu preciso saber o que aconteceu.

- Eu imaginei que esse dia chegaria. Mas um dia perdi as esperanças de vê-lo novamente. Vamos, pergunte o que quiser.
- Em primeiro lugar. Por que a senhora não vem me visitar? Aliás, por que eu nunca soube da sua existência?
- Meu filho, acho que temos que começar pelo começo. Quando sua mãe saiu de casa ela tinha só dezoito anos, era muito nova. Ela sempre quis explorar o mundo e viajar por todos os países que conseguisse. Eu e seu falecido avô, é claro, não permitimos então quando fez dezoito ela se despediu, e foi. Ela mandava postais de todos os lugares que visitava e eu chorava todas as noites com saudades dela. Um dia sua mãe simplesmente disse que ia se casar com Richard Adams, eu fiquei maluca porque já tinha lido sobre as coisas más que saiam no jornal sobre ele, mas não adiantou e ela se casou mesmo assim.

Então minha avó era contra o meu pai. E agora aquela carta que li em que minha avó dizia sentir saudades de minha mãe faz todo o sentido. Minha mãe também deveria ter muita saudade da minha avó porque guardou aquela carta.

- Nada foi publicado é claro - continua - sua mãe nunca gostou muito de holofotes. De qualquer forma eu fiquei feliz por saber que ela viveria bem agora, já que antes vivia de qualquer emprego que conseguisse para pagar a passagem para a próxima viagem. Enfim, sua mãe engravidou de gêmeos e às vezes seu avô e eu a visitávamos. Seu pai não gostava de mim, e eu menos ainda dele. No final da gestação me disseram que houve um acidente e que somente você tinha sobrevivido. Até hoje eu.. até hoje não sei direito o que aconteceu nesse acidente.

Sinceramente, tenho medo de que meu pai venha a falecer e eu acabe nunca sabendo o que realmente aconteceu com minha mãe. Ou que ele fique bem e decida nunca me contar.

- Quando soube que seu pai tinha ido viajar logo após o seu nascimento eu não aguentei. Fui ver você e fiquei cuidando de você enquanto você era recém nascido. O problema é que quanto mais você crescia, mais você se parecia com sua mãe e eu me via aos prantos enquanto trocava suas fraldas, além disso, era sempre horrível ter que me despedir de você toda vez já que eu morava longe. Seu avô acabou não me deixando mais ir ver você, é claro que fui mesmo assim.. mas.. acabei indo visitar você somente algumas vezes por mês, e então algumas vezes por ano até que seu avô faleceu eu não consegui mais voltar para te ver.
- Eu nunca soube de nada disso - digo sem acreditar.
- É claro que não. Só quem sabia eram os empregados, eles me adoravam, principalmente Maria, a quem eu pedi que cuidasse bem de você em minha ausência e eles nunca contaram para Richard. E você também não se lembraria. A última vez que te vi você tinha acabado de completar seus três aninhos e perguntou pela sua mãe. Era demais pra mim.. eu.. eu sinto muito, não consegui cuidar de você.

Não sei se era ela exatamente, mas eu tenho uma lembrança de uma mulher cuidando de mim. Não consigo me lembrar bem de seu rosto porque no fundo eu sempre achei que fosse um sonho que havia tido e não conseguia esquecer. Mas não, era ela. Minha avó cuidando de mim.

- Eu te perdoo vó, sei que fez o seu possível, mas você não precisava desaparecer. Era só vir me ver de vez em quando. Eu gostaria de saber que tinha uma família.
- Eu sei - diz com lágrimas nos olhos - eu sei que você ficou sozinho esse tempo todo. Eu sinto muito mesmo. Pensei em voltar depois de alguns anos mas pensei que você não me perdoaria por te deixar antes então desisti.
- E minha mãe? - pergunto - Por que nunca procurou saber o que aconteceu no dia em que ela morreu?
- Porque a única pessoa que sabe isso é o seu pai. E eu poderia procurar a imprensa ou a polícia, mas isso era a última coisa que sua mãe iria querer, então eu respeitei a vontade dela, e deixei sua alma descansar.

Eu respiro fundo para tentar assimilar tudo o que acabei de ouvir.
Honey segura minha mão e olha para mim como se perguntasse se eu estou bem. Eu estou bem.
Eu posso perdoar minha avó, nem imagino como deve ser perder uma filha. Provavelmente ficou arrasada. Mas eu realmente queria ter crescido com ela ao meu lado. Queria ter crescido com qualquer pessoa ao meu lado. Foi difícil controlar a raiva, a tristeza e a solidão que me assolavam quase todos os dias, mas o importante é que eu consegui, e que tenho uma família agora.
Sorrio para minha avó e dou um beijo na mão de Honey.. é, eu tenho uma família agora.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora