Capítulo 46

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Ela

Está doendo tanto que eu estou quase me arrependendo de não ter aceitado a anestesia.
Colin e Kate falam comigo a cada instante mas eu já não tenho forças para falar com nenhum dos dois. Só me mantenho conversando com Aurora mentalmente e pedindo para ela vir.
Quando eu avisei mentalmente para Aurora que iria receber anestesia eu simplesmente senti uma força que não consigo explicar, eu simplesmente soube que iria conseguir e dispensei a anestesia.

De repente começo a me remexer inutilmente quando outra contração chega.
A dor é tão extrema quanto se estivessem enfiando uma barra de ferro na minha lombar. Agora só consigo chorar, chorar e chorar.
Quando grito tento vocalizar um grito grave como a obstetra sugeriu para ajudar na passagem de Aurora, mas às vezes não consigo, só grito bem alto.

- Amor eu estou aqui - Colin diz.
- Colin eu preciso de você - digo chorando - entra aqui comigo, por favor. Eu te imploro.
- Não precisa implorar. É claro que eu entro com você.
- Querida - Kate me chama - tenta ficar tranquila. Pensa que toda essa dor vale a pena. Tudo isso significa que sua bebê está vindo para os seus braços. Você precisa passar por isso, por ela.
- Aurora - digo ofegante - mamãe tá te esperando, filha. Vem logo, por favor.

Colin tira as roupas e entra de sunga na banheira. Ele se senta atrás de mim e eu encosto a cabeça no seu peito.

- Nossa, essa água é quente.
- Sério? - eu pergunto ofegando de dor.
- Desculpa - ele diz rindo.

E mesmo que eu esteja chorando de dor, Colin ainda consegue me fazer rir. Como eu amo esse homem.

~

- Aaaaahhh - grito avidamente e desesperada.

Estou do outro lado da banheira e nem lembro como cheguei aqui.

Estou tão exausta, eu não vou conseguir. Eu preciso conseguir, mas como?

De repente sinto uma dor tão forte, mas tão forte que arranho toda a perna de Colin involuntariamente.
Nossa obstetra vem para minha frente e dobra levemente os meus joelhos espaçando um pouco minhas pernas uma da outra e pedindo que eu as mantenha assim. Colin que ainda está atrás de mim me ajuda segurando minhas pernas com cuidado.

- Estou vendo a cabeça - doutora Lauren diz alegremente.
- Está? - digo sem saber se choro ou se abro um sorriso.
- Sim, sua filha está bem aqui. Quer senti-la?

Eu faço que sim e estendo a mão para debaixo d'água. Com medo e cuidado eu toco meus dedos levemente em minha abertura e sinto a cabeça de Aurora. Eu abro o maior sorriso do mundo apesar de toda a dor que estou sentindo.
Tocar na minha filha foi tão incrível, mas ainda não a tenho em meus braços. Preciso da minha filha nos meus braços, não importa a dor que eu vá sentir, só quero minha filha aninhada em meu peito.

- Doutora, me diz o que eu preciso fazer. Eu faço qualquer coisa.
- Quando vier a próxima contração, eu quero que você faça força, muita força. A maior que conseguir.

É então quando olho para Colin atrás de mim e percebo que ele está chorando, mas com um sorriso no rosto. Isso só me dá mais forças e eu sei que é agora.

Outra contração chega e a vontade de fazer força é maior do que nas últimas vezes, muito maior. Então assim como a doutora mandou, eu faço a maior força que consigo. Sinto um pequeno alívio e depois outra forte contração prosseguida de um alívio enorme.
E então o milagre acontece.

Vejo a doutora tirando minha pequena Aurora da água. Ela é tão pequena.
Aurora também chora um pouco e a doutora só a apoia em meu colo e depois põe uma pequena toalha branca fina encima dela.

Minha bebê, minha pequena princesa está bem aqui. Aninhada em meu colo. Próxima ao meu coração que só bate de amores por ela.

Aurora já parou de chorar e está calminha de olhos abertos e atentos me olhando.

Eu começo a chorar olhando para o milagre que acabou de sair de dentro de mim. Não consigo acreditar que por um segundo eu pensei em entregar minha filha para outra pessoa. Como eu pude pensar isso?
Mas Aurora já parece ter me perdoado, ela me olha como se eu fosse seu mundo. Mal sabe ela..

- É você filha - eu cochicho - você é o meu mundo. Você e o seu papai - digo ouvindo Colin fungando.
- E vocês duas são o meu - ele diz baixinho em meu ouvido e dá um beijo em minha testa.
- O papai quer cortar o cordão? - a doutora pergunta para Colin.

Ele faz que sim animado e volta para perto de mim depois de cortar o cordão de Aurora.

Ainda aninhada em mim Aurora busca por peito, mas ainda não sei direito como fazer isso.
Kate vem até mim e me ensina como é a pega correta. Aurora começa a sugar meu seio esquerdo vorazmente e eu começo a me sentir a mulher mais sortuda do mundo.
Amamentar é tão incrível quanto dizem.
Todos deixam a sala e eu fico sozinha com Colin e Aurora em nossa banheira por um tempo.
Tudo isso é um sonho. Um sonho completamente inesperado, mas que acabou acontecendo e eu não poderia estar mais grata, porque não tem nada melhor do que estou sentindo.
E quer saber? Às vezes o que menos esperamos pode ser o que mais precisamos em nossas vidas.
Eu não trocaria isso por nada.

Mas tem algo que ainda me incomoda.
Não o aqui, e não o agora, mas o futuro.
Lembro da mensagem de Bob novamente. Ele pedia perdão e dizia arrependimento.

Eu ainda estou com raiva dele? Já não sei mais. Minha princesa está aqui em meus braços e isso me traz uma felicidade imensa, mas e os pesadelos que ainda tenho com ele? Como posso perdoá-lo dessa forma? Simplesmente não posso.

Sinto que preciso superar isso pelo bem de Aurora. Não posso ficar acordando com pesadelos todas as noites, mas como superar?
Tenho medo de que a única forma de superação no meu caso seja o perdão. Porque, no momento, não me sinto disposta a perdoá-lo.
Mas uma coisa é certa.. no mínimo eu preciso ouvi-lo. Mesmo com esse rancor que sinto, preciso entender completamente o que aconteceu e o que se passou na cabeça dele. Acho que só assim vou conseguir superar completamente.

Mas por hora, vou esquecer tudo isso e só aproveitar minha Aurora. Minha filhinha perfeita e linda.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora