Capítulo 22

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Ela

Essa semana Colin me apresentou a um amigo seu que voltou de NYC. O nome dele é Anderson e ele me pareceu ser muito legal.

Colin cismou que quer apresentar Chloe e And, disse que é a única mulher que conhece que daria um jeito em And, e se ele começar a andar na linha e por acaso se mudar pra Califórnia é um bônus, ele sente muita falta do amigo e o quer por perto.. principalmente com toda essa história com seu pai. Então hoje eu, Chloe, Colin e And vamos até um clube onde Colin joga tênis e golfe.

Colin desceu para falar com alguém no celular e enquanto isso eu estou no quarto arrumando a bolsa para sairmos para o clube.

Ainda é muito estranho dizer que moro nessa casa e que esse é o quarto em que eu durmo com Colin. Parece que de uma hora para outra muita coisa mudou de repente. Embora dentro de mim não haja muita mudança.

Quando estou com Colin eu quase esqueço por completo de tudo o que me aconteceu. Colin já comentou que leu na internet que eu deveria me abrir mais e que eu deveria deixar as coisas fluírem e me permitir sofrer para chegar o momento em que vou me ver livre de tudo e vou conseguir superar isso, não esquecer, mas superar. Eu só não sei direito como fazer isso. Ou melhor, eu sei, mas tenho medo.

Tenho medo de que todas as lembranças me consumam como consumiram nas duas primeiras semanas. Tenho medo de que eu pense em suicídio de novo se voltar a pensar nisso. Tenho medo de que eu não consiga seguir em frente. Tenho medo de que eu acabe ficando presa em meus próprios pensamentos e que nunca mais consiga sair.

Mas não só medo, também tenho raiva. Sei que "me permitir sofrer" também significa me permitir chorar e não quero. Não me permiti deixar que uma lágrima sequer escorra em minha face por aquele homem. Não vou deixar isso acontecer. Mesmo que isso signifique continuar tenho esses malditos pesadelos à noite.

A única coisa que me dá esperanças de sair desse pesadelo, ou melhor, a única pessoa, é Colin.

Porque ele esteve aqui por mim quando eu mais precisei, ele está comigo mesmo sabendo de todos os meus problemas, ele fica do meu lado mesmo quando acordo com pesadelos de madrugada, e ele está aqui comigo mesmo sabendo que eu sou toda errada e cheia de defeitos. Então mesmo não tendo dito que me ama, eu sei que sim. Mas ele tem problemas em dizer isso em palavras e sei que é pela falta que essas palavras fazem em sua vida, e fizeram durante toda a infância. Mesmo assim, eu não vou pressioná-lo à dizer essas palavras para mim, e por isso ainda não disse para ele que o amo. Porque eu o amo. Mas sei que se disser isso para ele, Colin se sentirá obrigado a dizer o mesmo. E quero que ele diga essas palavras quando realmente estiver pronto para dizê-las.

- Tudo bem, te ligo depois - diz Colin ao telefone enquanto entra no quarto.

Colin desliga o celular e vem até mim.

- Quem era? - eu pergunto.
- Meu pai. Os médicos disseram que ele é forte e está lutando muito - Colin diz com voz fraca, mas tentando sorrir.

É incrível como você começa a conhecer de verdade alguém com quem você passa muito tempo. Por exemplo, agora eu sei que Colin está triste, muito, mas ele quer ser forte. E eu entendo ele. Mas não quero que seja como eu e fique reprimindo seus sentimentos.

Colin ainda ama seu pai, mesmo depois de tudo. Mesmo sabendo que seu pai quase não vinha ver ele quando criança, mesmo sabendo que seu pai nunca estava presente, mesmo sabendo que seu pai era distante por opção própria, mesmo sabendo que seus antigos tutores o conheciam mais que seu próprio pai, e mesmo sabendo que seu pai pode ter sido a causa da morte de sua mãe.

Sei que Colin não acredita nisso. Mas eu mesma não sei no que acreditar.

Um pai que marca as costas do próprio filho daquela forma por causa de uma foto da própria mãe?

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora