Capítulo 13

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Ele

Não sei como, mas ela consegue ficar mais linda cada dia que a vejo. E ela está somente de camisa, jaqueta, e calça jeans, ou seja, nada demais.

- Sorte a minha - ela diz e abre um largo sorriso - mas então, cadê a pizza? Só ela que me importa.

Como alguém pode não saber o que sente por outra pessoa? Eu estou nessa situação. Está óbvio que eu gosto dela, mas sinto algo diferente de tudo o que já senti por qualquer outra pessoa.
Ela é a primeira que faz o meu coração disparar, e é a única pessoa no mundo que eu sinto vontade de ver todos os dias desde o dia em que a conheci. Isso nunca tinha acontecido antes.

- Eu não ia sujar o meu carro com pizza! Nós vamos a uma pizzaria.
- Tudo bem, mas você que vai pagar porque você que está me convidando. - ela sorri e pisca para mim.

Acho que ela piscando para mim é ainda mais sexy que quando eu pisco para ela.

Não é bem um encontro, não sei se é porque eu não queria que fosse ou porque achava que ela não iria aceitar se eu dissesse que é um encontro mas chamei ela pra comer alguma coisa porque por mais que eu não saiba o que sinto por ela, quero conhecê-la melhor.

- Gata, por mim você pode comer a pizzaria inteira.
- Inteira não! Só quero umas vinte farias - ela sorri.
- Ah, sendo assim, milady, vamos para a carruagem! - eu sorrio e estendo meu braço para que ela o cruze com o seu.

Quando entramos no carro o celular dela vibra, e seu semblante entristece. Então ela joga o celular dentro da bolsa.

- Está tudo bem? - eu pergunto.
- Está, é que.. - ela faz uma pausa e olha em meus olhos - é a Chloe.

Imagino que seja a primeira mensagem dela desde o ocorrido pela frustração no olhar de Honey.

- Você não vai responder? - pergunto.
- Não sei, você acha que eu deveria?

Sinceramente, não sei se deveria, quero dizer, ela humilhou Honey na frente de todas aquelas pessoas que ela nem conhecia, não é o tipo de coisa que uma amiga de verdade deveria fazer, mas ainda assim.. não deve ter sido atoa, algum assunto parece estar pendente entre elas.

- Eu acho que deve fazer o que for melhor para você - respondo.
- Não, não é o que você acha. Essa foi uma resposta vaga demais - ela diz - Me fale com sinceridade o que você pensa disso tudo.
- Tudo bem, se quer saber.. - eu digo olhando para a estrada e dirigindo - acho que você deveria perdoá-la porque é sua amiga e está claro que não foi atoa tudo o que aconteceu, mas eu não sei exatamente o que tá rolando então não sei se posso opinar.

Ela faz que sim com a cabeça, parecendo concordar, mas não tenho certeza.

- Você pediu sinceridade - eu digo.
- Eu sei - ela afirma com a cabeça - só não sei exatamente o que fazer. E você respondeu rápido, parecia ter pensado muito no assunto.

Pensei, na verdade eu penso mesmo é em Honey, pensar na situação em que ela está é mais como uma consequência.

- É - eu sorrio para ela - acontece que de vez em quando eu acabo pensando em você - digo ficando um pouco vermelho ao admitir.
- Pensa? - ela sorri.
- É que tem mel demais lá em casa - dou risada.
- Justo - ela começa a rir do comentário sobre o significado de seu nome.

Encontramos uma pizzaria rodízio e eu estaciono meu carro. Paramos na recepção, o lugar está cheio e tive que pagar uma quantia a mais para que a senhora nos cedesse uma mesa. Ela nos encontra uma mesa redonda, pequena e vermelha no canto da parede com dois bancos vermelhos e redondos.
Nós nos sentamos e logo aparece um garçom com uma travessa de pizza de alcachofras.
Ela pega uma fatia e eu dispenso.

- Não gosta de alcachofras? - ela pergunta já dando uma mordida em sua pizza.
- Nem um pouco - eu respondo.
- Hmmm - ela fecha os olhos - não sabe o que está perdendo, isso está uma delícia!

Se Honey soubesse como estou ficando fisicamente com seus gemidos, ela não faria mais isso. Como se não fosse o suficiente, a próxima bandeja de pizza é de cogumelos. Outra que também não gosto. Honey pega mais uma fatia e em cada mordida que dá, ela abre um sorriso debochado para mim.
Estou com fome, então estaria detestando isso, se não fosse o sorriso dessa garota, ele faz essa tortura valer a pena.
A próxima pizza que chega é de pepperoni, e dessa vez nós dois pegamos uma fatia.

- As pizzas daqui são realmente deliciosas - digo.
- São sim - ela concorda - mas.. - ela diz baixinho com as duas mãos envolta da boca como se fosse contar um segredo - as minhas são melhores.
- Você faz pizzas? - eu abro um sorriso surpreso.
- Pizzas não são a minha especialidade, mas eu faço de tudo - ela ri - aprendi a cozinhar desde muito cedo. Minha vó me ensinou todos os seus dotes culinários.
- Tudo bem, então qualquer dia você vai me mostrar esses dotes culinários. E nós faremos uma disputa. Porque eu também cozinho muito bem - sorrio para ela.
- Por mim tudo bem.

Ao final da noite já perdi a conta de quantas fatias de pizza comemos, só saberia dizer que foram muitas. Mas ainda não levantamos, só continuamos a conversar.

- Sabia que as primeiras pizzas de que se tem notícia surgiram no Egito? Mas elas eram bem diferentes dessas pizzas que estamos comendo. Há 6 mil anos, os egípcios produziram uma massa. Ela era bem fina e em forma de disco e feita de farinha e água.

Eu abro um sorriso largo com seu repentino comentário sobre a origem da pizza.

- De onde você tirou isso?
- Eu gosto de ler sobre comidas - ela sorri e dá de ombros - e sobre a história delas.

Nós sorrimos e então eu peço para que ela me conte sobre mais algumas coisas que sabe sobre culinária, porque o sorriso que abre enquanto conta é algo que eu nunca vou me cansar de ver.

- Você se dá bem com seu pai? - pergunta de repente depois de algum tempo.

Essa pergunta me pega de surpresa, várias pessoas me perguntam sobre meu pai todo o tempo, geralmente é por interesse. Mas não vejo em Honey nem uma sombra de uma pessoa interesseira.

- Não muito - respondo - por que?
- Você nunca me disse o motivo de terem brigado aquele dia em que me ligou.
- Eu brigo com meu pai sempre que ele aparece na cidade. Queria que isso terminasse, mas sempre acontece algo que faz com que briguemos novamente. E você se dava bem com seu pai? - pergunto.
- Nós éramos muito próximos quando eu era criança, ele me contava histórias para dormir junto com minha mãe e me levava ao parque, nós éramos bem próximos até.. bem, até ele falecer quando eu tinha nove, tudo mudou depois disso - já não olhava mais para mim, olhava para o fundo do restaurante como se estivesse visualizando seu passado.

Eu sei que sua mãe a expulsou de casa, nem sei porque perguntei sobre o passado dela.
Acho que se eu estivesse em seu lugar, a última coisa que eu iria querer fazer é falar sobre minha família.

- Você não precisa falar sobre sua família, me desculpa, eu acabei esquecendo que sua mãe te.. bom, que você não está mais em casa.
- Olha, na verdade, a minha mãe não me expulsou de casa, Chloe acha que sim porque eu acabei não conseguindo contar pra ela que eu saí porque.. bom, uma coisa aconteceu e eu tive que sair.

Entendo que esse assunto deve ser delicado para ela por algum motivo, só não sei qual ainda, então não me aprofundo nisso.

- Entendi - digo somente.
- Eu acho melhor irmos embora - ela diz abruptamente - agora.
- Tem certeza? - pergunto.
- Preciso acordar cedo pela manhã - diz sem olhar para mim.
- Certo - digo por não saber mais o que dizer.

Nós nos dirigimos até o meu carro e eu a levo em silêncio até o motel em que está hospedada, ela agradece e sai sem dizer mais nada ou olhar para mim.

Começo a dirigir para minha casa tentando imaginar o que aconteceu para que ela saísse de casa por conta própria. E o que foi que aconteceu para que ela terminasse a faculdade de gastronomia e começasse a trabalhar como garçonete repentinamente no mês passado.
Sinceramente, por algum motivo eu tenho medo da resposta.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora