Ele
Todos esses dias que passei ao lado de Honey, enquanto ela dormia, bocejava, sorria, gargalhava, cozinhava.. tudo o que fazia só funcionava para que eu gostasse mais dela, só que essa manhã foi diferente. Eu nunca me senti tão impotente em toda a minha vida.
Honey me contou que havia sido estuprada, e desde então eu não consegui mais parar de pensar nisso. Prometi a ela que não ficaria pensando nisso, mas não consegui cumprir essa promessa.
Senti como se estivessem arrancando todas os meus órgãos para fora quando Honey me contou o que aconteceu com ela. Queria, -e ainda quero- matar o covarde que tocou nela. Se eu a conhecesse na época não deixaria isso acontecer. Mas até fico um pouco aliviado por ela não me contar quem ele é, porque provavelmente eu não conseguiria deixá-lo vivo se soubesse onde encontrá-lo.
Ainda não consigo acreditar que a garota que eu amo passou por isso.
A garota que eu amo..
Será que eu realmente a amo? Nunca disse essas palavras para ninguém e eu conheço ela há poucas semanas então não tenho essa certeza. Mas eu sei que se algum dia chegar a amar alguém, esse alguém será Honey.
Dou risada toda vez que penso nela. Quando não está por perto eu sinto um vazio completamente novo e estranho porque eu sempre fui sozinho, mas o sozinho sem ela é diferente, é bem mais solitário. Essa casa não é a mesma quando ela não está. Eu não sou o mesmo quando ela não está. Por isso e por outros motivos, como o sorriso dela que me dá arrepios de tão lindo e aqueles olhos negros como ébano de tirar o fôlego. Eu sei.. estou apaixonado.
E a única coisa que tirou esse foco da minha cabeça foi ter que ligar para meu pai para saber mais detalhes sobre o tratamento dele. Parece que os médicos dele já começaram com a quimioterapia e a imunoterapia.
Meu pai me disse que não queria fazer a quimio porque não acredita que vai se curar, mas que decidiu fazer porque Liz, sua noiva, conseguiu convencê-lo. Gostei de saber disso. Talvez, Lizzie não seja tão ruim para meu pai quanto pensei.
Depois de falar com meu pai, volto a pensar em Honey. Comecei logo cedo a pesquisar tudo sobre vítimas de estupro. Queria saber mais sobre o que Honey passou, e entender como ela está se sentindo, já que ela se recusa a se abrir comigo.
Quase todos os sites diziam a mesma coisa: "a maioria das vítimas pode sofrer de depressão, ansiedade, medo, pesadelos, hipervigilância, culpa, constrangimento, transtornos alimentares e de sono, além de dificuldades de concentração".
Preciso parar de ler por um instante porque não gosto de pensar em Honey sofrendo de nenhuma dessas coisas. Acabo pensando novamente em ir atrás do cara que fez isso com ela, mesmo que eu não saiba quem é. Já pensei em fazer isso um milhão de vezes desde o momento em que Honey me contou o que tinha acontecido com ela.
Mas no fim penso que o melhor a se fazer é tentar ajudá-la da melhor forma que eu puder.
Começo a ler outra matéria: "negar e reprimir os sentimentos é totalmente normal na segunda parte da recuperação, que é a fase de ajuste à vida". Lá dizia também que é comum que sobreviventes passem por uma fase em que ajam como se o estupro não tenha afetado suas vidas, considerando-o apenas uma "má experiência sexual". E isso é exatamente o que Honey está fazendo: agindo como se não fosse nada. Provavelmente ela acha que isso vai ajudá-la a superar, mas não. Pensar assim ajuda a persistir, mas somente a curto prazo.
Li que a vítima deve se permitir sentir. A depressão, a ansiedade, o medo, a tristeza, os pesadelos, e o ódio são sentimentos comuns e que ela deve saber lidar com eles.
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Amanhecer Agridoce
RomansaENVOLVENTE, SENSUAL, E CHEIO DE SEGREDOS! Depois que um acontecimento a impede de seguir carreira como chef de cozinha e seu sonho vai por água abaixo, Honey se vê servindo mesas em um restaurante quando na verdade preferia estar cozinhando. Tudo em...