Capítulo 9

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Ele

Depois que vi e revi tudo o que tinha de minha mãe na caixa trezentas vezes na semana passada decidi parar um pouco. Não há nada lá que possa me dizer o paradeiro de minha avó. E não abrirei o diário, tenho muito medo do que posso encontrar por lá.

Decidi não contar para meu pai o que eu encontrei. Ainda não nos falamos desde o jantar com Lizzie, e não sei se ele teria vontade de me contar realmente tudo o que quero saber sobre minha mãe. Então, por hora, continuo no escuro quanto a tudo isso.

Hoje a tarde terminei de ler dois livros que havia começado, é um dos refúgios para não pensar em tudo isso, e também para não pensar em Honey. Na verdade, ler sempre foi meu refúgio todas as vezes que meu pai me deixava sozinho em casa com os tutores que, com exceção de Maria, nunca gostaram de mim.
De qualquer forma, acontece o contrário e o tiro sai pela culatra porque acabo pensando em Honey em quase todas as páginas, o que faz com que eu queira vê-la ainda mais. Então decido ir dormir um pouco. Honey não pode continuar fazendo parte de todos os meus pensamentos, nenhuma mulher nunca tomou esse espaço e não pretendo que isso tenha início agora.

Quando acordo já são quase dez horas da noite. Me levanto para encontrar algo para comer e decido olhar minhas mensagens enquanto preparo o jantar.

A primeira mensagem que eu vejo não é nada convidativa, talvez para o antigo Colin. Mas esse Colin não quer nem chegar perto de uma festa na casa do Tim, ele é um cara legal, mas suas festas nunca acabam bem. É o que acontece quando se mistura muita droga, muita bebida, e jovens que não ligam para merda nenhuma.

Vou passando direto meu dedo pela tela do celular e então entendo que não estou "vendo" minhas mensagens, estou procurando para ver se tem mensagens dela. Mas não tem, nenhuma sequer.
Já faz mais de uma semana desde que a vi pela primeira vez. E mesmo que não tenhamos nos visto desde então, eu não consigo tirar ela da cabeça.

Será que eu deveria mandar mensagem para ela? Quero dizer, nós conversamos por horas pelo telefone, não é como se não houvesse nada rolando entre nós. Mas não está rolando nada entre nós, esse é o problema. E mesmo assim eu deveria ter mandado uma mensagem para ela esses dias, só para saber como ela está.

Não mandei nenhuma mensagem porque estou com medo. Eu nunca pensei tanto assim em uma garota antes. Além disso, quando estou com ela, ou falando com ela sinto algo dentro de mim que não sei porque, mas me assusta. Provavelmente porque não estou acostumado a sentir tal coisa. E.. não sei, acho que tenho medo de ligar para ela e acabar me aproximando demais, o que farei depois? E se eu me apaixonar? E se ela for embora depois disso? Meu coração fica acelerado só de pensar nessas possibilidades.

Eu nunca fui assim, geralmente eu ligava para a garota que eu queria a hora que eu quisesse sem pensar duas vezes. Lidar com as mulheres sempre foi um assunto muito fácil para mim, então porque eu continuo fazendo esse papel de menino inexperiente?
Chega, vou mandar uma mensagem para ela.

C: Oi, como você está? Eu ia te ligar essa semana, mas acabei ficando enrolado com umas coisas de família.

Eu envio e vou fazer meu jantar. Fingindo para mim mesmo que não ligo se ela vai ou não responder, ou quanto tempo vai demorar para isso acontecer.

Algumas horas depois, meu celular toca.
Honey está me ligando, e eu sem querer - ou não - atendo na mesma hora.

- Alô - uma voz masculina atende o celular dela - ei! Me dê o meu celular! - a voz de Honey soa ao fundo.
- Honey? - eu pergunto preocupado.
- Ela não pode falar agora - a voz masculina diz.

Ouço Honey gritando ao fundo para que ele devolva o celular para ela e por cima de tudo eu ouço uma música vibrante e alta tocando. Ela deve estar em uma festa, ao que parece.
E eu estou perdendo a paciência com esse cara, seja lá quem ele for.

- Oi - ela diz finalmente - me desculpa por isso.. eu.. ele .. - ela parece bêbada, ou confusa, provavelmente os dois - é que eu estava ligando para você e ele pegou meu celular e.. droga! Derramei bebida no vestido, Chloe vai me matar.
- Honey, onde você está? Quer que eu vá buscar você?
- Eu não sei onde estou.. Chloe que me trouxe, eu quero ir embora, mas não sei onde ela está e não sei se... Ei, cara, me solta agora!
- Honey, presta atenção, consegue sair daí?
- Consigo.. eu tô meio tonta, mas eu consigo.. sim.
- Você quer que eu vá buscar você? - pergunto.
- Eu quero, mas como? - ela grita por cima da música alta.

Já peguei as chaves do carro para ir buscá-la onde quer que esteja, mas espero que seja perto pois sua voz não está soando nada bem.

- Já chegou do lado de fora? - pergunto
- Sim, eu estou aqui, mas eu perdi meu sapato, eu acho que vou buscar ele.
- Não, depois eu te ajudo com seu sapato, mas por hora quero me diga o que vê. Tem alguma placa ou alguma coisa que eu possa identificar onde você está?
- Não tem placa nenhuma aqui - ela diz - mas tem uma.. duas.. três.. todas as casas são de ricos por aqui, e tem vários carros de ricos aqui também.

Casas de ricos.. carros de ricos.. conheço muitos bairros assim. Fui convidado para uma festa em um deles, será que tem alguma possibilidade de..? Droga, eu deveria ter ido a essa festa.

- Espera.. você está na festa do Tim?
- Quem é Tim? - ela diz rindo.
- Você está na festa de quem, afinal? - pergunto
- Não sei. Ele é alto, loiro, forte e rico, e tem uma tatuagem de caveira no braço.
- Fica aí fora, eu sei onde você está, vou buscar você. E não desliga o celular.

Entro no meu carro, e acelero o máximo possível. Se for rápido consigo chegar lá em quinze minutos e a essa hora a estrada está vazia.

- Tudo bem, mas eu preciso voltar para procurar a Chloe.
- Não, espere eu chegar aí, eu te ajudo a procurar sua amiga - eu digo com medo que ela entre novamente e que algo de ruim aconteça.
- Tudo bem.. - ela diz e fica em silêncio por alguns segundos - Cadillac... Ferrari 458 ..

Eu posso estar enganado, mas acho que ela está citando os nomes de todos os carros que estão estacionados, só para quebrar o gelo. Essa garota é mesmo única.

- Terminou? - eu pergunto sorrindo.
- Terminei - ela diz com voz sonolenta.
- Eu estou quase aí, mas me diz.. como você e sua amiga foram parar na festa do Tim?
- Ela o conheceu no bar que ela trabalha aparentemente, e me arrastou até aqui porque quer que minha vida seja mais animada. Uhuul - ela finge animação.
- As festas do Tim não são exatamente animadas, estão mais para problemáticas.
- Eu meio que já percebi isso - ela ri.

Chegando na festa eu paro meu carro do lado de fora por não haver mais espaço no gramado do lado interno onde os outros carros estão estacionados e então passo pelo portão.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora