Capítulo 12

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Ela

Acordei pela manhã, por incrível que pareça, feliz. De alguma forma Colin conseguiu me distrair ontem a noite.
Acordei uma vez de madrugada, mas consegui voltar a dormir rapidamente.

Felizmente, Colin não tocou no assunto da minha expulsão de casa em nenhum momento, e também não perguntou sobre o que Chloe disse ou sobre o que eu vou fazer em seguida. Além disso, sei que ganhei nossa disputa, Friends é de longe a melhor série já feita. Mas eu sou suspeita para falar.

Toda vez que ia para a casa de minha avó, e em todos os anos que morei lá, Friends era a nossa diversão. Ela me ensinava alguma nova receita e depois íamos comer assistindo à série. E não passávamos um dia sequer sem assistir Friends, minha avó amava, e eu aprendi a amar também. Sempre achava graça dos episódios mesmo já os tendo visto diversas vezes.
E quando acabei voltando a morar com minha mãe, eu continuava assistindo Friends. Todas as noites eu cozinhava e via a série para me lembrar da minha avó.

É sábado, então me levanto ecomeço a me arrumar para o trabalho, coloco minha calça jeans, minha regata preta, minha jaqueta jeans, meu tênis baixo preto, prendo o cabelo e coloco um rímel e um batom rosé claro, e saio em direção ao ponto do ônibus.
Tem um ponto perto do motel, então não precisei andar muito. Esperei pelo ônibus por aproximadamente dez minutos, mas saí do motel bem adiantada então tudo está saindo como planejei. Bom, ainda falta a parte mais importante do plano, que é chegar no restaurante e pedir um adiantamento para Cézar, meu chefe.

Chegando no Cezar Splendore entrei, como sempre, pelos fundos. O restaurante ainda está fechado, ele só atende na parte da noite pois seu maior diferencial são as luzes. O restaurante italiano é coberto de luzes e lustres por todos os cantos, eu nunca vi restaurante -ou qualquer lugar- mais iluminado que Splendore, e por isso leva esse nome que é "esplendor" em italiano. Acima de cada mesa, um lustre de cristais iluminados. É por isso que esse é considerado o restaurante mais romântico da cidade.

Coloco o meu uniforme da parte do dia, e mesmo não estando muito bem por conta da bebida de ontem eu começo a limpar todo o chão do restaurante, passar pano em todos os lustres que consigo alcançar e limpar embaixo das mesas e bancos. Vou para o banheiro das mulheres, limpo todos os sanitários, pias, e o chão.
Hoje era dia de Martina - minha colega de trabalho - limpar o banheiro, mas quero demonstrar eficiência para Victor - meu gerente que está sempre pegando no meu pé - caso Sr. Cézar queira perguntar para ele se eu mereço o adiantamento.

- Honey, hoje você está pegando pesado! - ouço a voz suave de Martina atrás de mim - Posso saber o motivo dessa animação toda, a ponto de fazer o meu trabalho, e o seu? - ela ri.
- Vou pedir um adiantamento para o Sr. Cézar hoje, você acha que ele iria aceitar? - pergunto.
- Olha - ela diz coçando o nó de seu coque preso no topo da cabeça - trabalho aqui tem cinco anos, só tive que pedir um adiantamento uma vez quando tive uma emergência com o pagamento do meu aluguel. Ele até me deu, mas foi depois de muita falação. Você sabe como ele é.. idoso, rabugento, e pão duro!

Martina tem vinte e cinco anos de idade - só dois anos mais nova que eu - mas sinceramente aparenta ter trinta. Talvez quarenta.
Não sei se é o modo como vive de cabelo preso, ou que eu nunca a tenha visto maquiada, talvez seja porque ela sempre anda meio para baixo e se veste como se estivesse nos anos noventa. Mas é uma mulher muito legal, bonita e muito simpática.
Só é bem fechada quando se trata dela mesma. Algo que não posso reclamar, já que falo bem pouco sobre mim também.

- Tudo bem, mas vou ter que arriscar pedir para ele mesmo assim, preciso mesmo desse adiantamento. Só espero que ele esteja de bom humor hoje. - digo dando um meio sorriso para ela.
- Tá, agora trate de largar esse pano, está na hora do nosso almoço, vamos! - ela estende a mão para mim.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora