Epílogo

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Honey

- Mãe, eu já encerrei essa história.
- Eu sei, me desculpa. Eu só achei que você gostaria de saber.
- Bom, eu não quero.

Termino de colocar o almoço à mesa e vou até o andar de cima para ver o motivo de Colin estar demorando tanto para descer com Aurora para almoçar.

- Se você derramar outro pote de talco a sua mamãe vai ficar muito brava com o papai, de novo. Então, me dê esse.. e brinque com o ursinho, que tal? - ouço Colin falando com Aurora enquanto chego no quarto dela.
- Vou mesmo - entro no quarto sorrindo - porque essa demora?
- Uma certa mocinha decidiu fazer cocô durante o banho, então eu tive que esvaziar a banheira e dar outro banho nela - ele explica enquanto termina de trocar sua fralda.

Olho em volta para o quarto de minha filha. Ele nunca esteve tão desarrumado.
Depois de seu aniversário de um ano, dois dias atrás, ainda não tivemos tempo de arrumar e organizar todos os brinquedos que ela ganhou então tudo ainda está completamente desorganizado. E Aurora tem dormido em nossa cama essa semana, porque a sua própria está repleta das roupas que ganhou de aniversário e que eu ainda não consegui arrumar no armário.

- Mama - ela chama.
- Estou aqui, princesa - vou até ela.

"Mamã" foi sua primeira palavra aprendida. Na verdade ela conseguiu aprender essa palavra bastante cedo, e depois dela já aprendeu a pedir água, a chamar o papai e a vovó, embora essa última ela só dirija a avó de Colin e não à minha mãe.

- Você ouviu o que sua mãe tem a dizer?
- Não, e eu nem quero realmente. Mudando de assunto, o que acha que seu pai vem fazer aqui hoje?
- O mesmo que minha avó e sua mãe. Almoçar.

Olho para ele com sarcasmo. Ele entendeu o que eu quis dizer.
O pai de Colin nunca se deu o trabalho de vir conhecer a própria neta, o máximo que fez foi me mandar um cartão me felicitando pelo parto e outro para Aurora a felicitando pelo aniversário de um ano. Durante todo esse tempo em que estou com Colin só o vi uma única vez, o dia em que eu pedi que Colin me levasse até lá. O restaurante estava indo cada vez melhor então eu queria olhar no fundo dos olhos de Richard ao devolver o dinheiro que meu pai pegou muitos anos atrás em um golpe tão sujo. Ele, é claro, recusou o dinheiro e pediu que eu colocasse em uma conta para que fosse de Aurora quando ela completasse a maioridade. Eu concordei. Mas depois disso não tivemos mais contato.
A campainha toca como se fosse um sinal de que ele estivesse ouvindo tudo o que estávamos falando e resolvesse interromper os murmúrios com seu nome.

- Vamos filha - eu a pego no colo depois que Colin termina de colocar nela o vestido que separei - vamos conhecer o vovô.

Ao chegar no andar de baixo vejo uma caixa gigantesca embrulhada. Ela é quase do meu tamanho. Tão grande que eu não faço ideia de como fizeram para entrar em casa.
Aurora como se soubesse que é para ela, e como nunca viu um presente tão grande, se debate em meu colo no máximo até que eu a solte no chão. Ela vai com seus passos desengonçados e recém adquiridos até a caixa e começa a mexer no papel de embrulho como se ele fosse magicamente se abrir.

- Olá Honey - ele diz finalmente de trás do brinquedo.
- Richard - eu aceno com a cabeça.
- Olá pequena - ele abre um sorriso para Aurora.

Aurora como a flor em pessoa que é, abre um sorriso tão meigo para ele que eu tenho vontade de mordê-la. 
Richard ri de volta para ela como se ele não fosse o homem que bateu no próprio filho durante toda a sua infância. 
Eu balanço a cabeça me forçando a esquecer isso e voltar para a realidade.

- Mamã - a pequena Aurora resmunga tentando novamente e sem sucesso retirar o papel de embrulho.

Eu vou até lá e a ajudo.
Quando terminamos de desembrulhar todo o presente, Aurora já não está mais do meu lado. Não sei como uma menina que começou a andar faz só alguns dias consegue ser tão rápida. Mas lá está ela. Dentro da enorme casinha de bonecas que o pai de Colin deu a ela. 
Aurora só tem um ano então não acho que ela vá saber brincar muito dentro dela, mas está olhando para todas as miniaturas dentro da casa muito atentamente e com os olhinhos brilhantes.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora