Capítulo 30

254 14 1
                                    

Ela

Ainda não acredito que estou aqui, e sozinha.
Só espero que esteja fazendo o certo, e espero que ela cumpra a promessa de que ele não irá aparecer por aqui.

Vou até a porta e bato de leve.
A mesma porta que eu saí seis meses atrás com uma bolsa de mão cheia das minhas coisas e a mesma porta que aparece em meus pesadelos quase todas as noites.

A porta se abre lentamente e ela aparece.
Beatrice, está parada do lado de dentro da porta olhando para mim sem saber o que dizer. Ela tenta se decidir em olhar para mim e para mim e para minha barriga.

- Você está grávida - diz em voz muito baixa como se estivesse em transe.
- Estou - respondo a sua quase pergunta.

Disse a Colin que não sabia se diria a minha mãe que a bebê que estou carregando na verdade é filha de sangue do Bob. Mas pensando bem, agora que estou frente a frente com ela acho que ela não precisa de mais uma dor, afinal, ela já está parecendo abatida o suficiente. Além disso, como Colin mesmo disse, essa bebê não é do Bob, aquele cretino miserável, não é. E nunca será.

- Entra, por favor.
- Chloe me disse que lhe deu meu número - digo entrando - você disse para ela que era urgente. E me disse por mensagem que precisava me dizer algo muito importante. Aqui estamos, pode me dizer.
- Calma, Honey. Eu não chamei você aqui só para te dizer uma coisa. Também te chamei porque quero saber como você está, o que anda fazendo, e onde está morando. Já se passaram seis meses, você é minha filha e..
- Sim, eu sou sua filha - digo interrompendo - e você só veio me procurar agora, depois de seis meses. Então não venha me falar que eu sou sua filha como se você tivesse algum direito de exigir que eu te conte alguma coisa - falo com lágrimas já escorrendo por minhas bochechas.

Eu não achei que fosse chorar. Eu achei que fosse chegar aqui, me sentaria, e ela me contaria o que tanto quer me dizer. Então eu me levantaria e sairia por aquela porta. E eu nunca mais voltaria.
Mas eu não consigo fazer isso. Não consigo.
Queria tanto poder dizer que não senti falta dela, mas eu senti. Queria poder dizer que não quero ela na minha vida, mas a verdade é que eu quero.
Sentimentos, coisas estranhas são os nossos sentimentos. Nós não podemos controlá-los, infelizmente.

- Filha - diz minha mãe chorando também - eu sei que te magoei. Eu sei que decepcionei você. E não só seis meses atrás, mas todos os dias depois que seu pai morreu, e eu sinto muito. Você pode se sentar? Por favor? - implora com lágrimas nos olhos.
- Por quê, mãe? - pergunto me sentando - Qual é o motivo por trás disso tudo? Eu não entendo você, eu nunca entendi você.
- Eu não sei - diz abaixando a cabeça se sentando ao meu lado - sua avó estava certa. Ela disse que eu nunca conseguiria ficar sozinha e acertou. Eu não consigo te explicar filha, só o que posso dizer é que quando estou sem ninguém eu sinto.. eu me sinto tão sozinha. Eu fico com raiva e triste ao mesmo tempo. E quando estou com alguém é como se tudo voltasse ao normal, sabe? Mas eu errei, eu errei em não ser um exemplo para você. Eu errei em colocar aqueles cretinos na frente da minha própria filha. E eu errei em não proteger você do Bob.

Acredito nela. Com todo o meu coração, eu acredito em seu pedido de desculpas.
Eu só não entendo.
Como ela poderia não ficar bem sem um homem? Não acho que isso seja normal. Minha avó dizia que minha mãe era dramática, mas isso não é drama.
Ela disse também em seu pedido de desculpas que errou ao não conseguir me proteger do Bob, então isso significa que acredita em mim agora?

- Está fingindo que acredita que fui estuprada só para se aproximar de mim novamente?
- O que? Não! O que é isso, Honey. E não precisa dizer dessa forma.
- Você pode dizer a palavra estupro, mãe. Porque foi o que aconteceu.

Eu tinha medo de dizer essa palavra porque não queria aceitar que tinha sido estuprada.
Mas as pessoas tem medo de dizer por outros motivos. É como se não quisessem dizer essa palavra por medo dela se concretizar na vida delas ou de alguém próximo a elas.
Mas isso é errado.
Se ficarmos com medo de dizer que o estupro existe então as pessoas vão se esquecer, elas vão achar que isso não acontece mais. E acontece. Acontece muitas e muitas vezes. E muitas vezes acontece com meninas muito jovens. É triste, é cruel, e infelizmente.. é a realidade em que vivemos.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora