Ele
- Boa tarde, estou procurando pelo meu pai - digo para uma enfermeira que abriu a porta.
- Por aqui.Nós subimos a enorme escada dupla de sua casa e a enfermeira me leva até a porta do quarto dele.
- Ele está te esperando, só tente não deixá-lo muito estressado.
- Acredito que isso seja um pouco improvável, mas vou tentar.Abro a porta e vejo meu pai pela primeira vez desde o dia em que descobri sobre o câncer.
Ele está muito mais magro, e parece fraco embora esteja andando de um lado para o outro.
Está de touca, provavelmente para encobrir o seu cabelo que deve estar raspado e também já não tem mais sobrancelhas, mas apesar de tudo ainda tem o mesmo semblante furioso de que eu me lembrava. E parece estar bastante disposto para me dar uma surra caso eu mereça.- Oi pai - digo.
- O que você já deu pra ela?
- Como?
- O. Que. Você. Deu. Para. Honey? - pergunta pausadamente.
- Porque está me perguntando isso?
- Responda a maldita pergunta! - diz com a voz fria.
- Nada. Não que seja da sua conta.Minto simplesmente porque não quero estressar ele, mas não deveria. Meu pai não deveria ter que ficar controlando meu dinheiro, mas sei que ele nunca aprovaria eu ter dado aquele carro para Honey. Mesmo que os motivos sejam que eu a amo e quero fazer ela feliz.
- Nada? Então não deu um carro para ela? Não vê que aquela vagabunda está te usando? Não vê que ela só quer o seu dinheiro?
Eu avanço um passo em sua direção com todo o meu ódio. Não vou deixar que ele xingue Honey na minha frente. E se é para isso que ele me chamou, então eu nem deveria ter vindo.
- Nunca mais fala assim dela!
- E a mulher ainda tem a ousadia de te empurrar uma criança que nem é sua, eu não posso acreditar que você está aceitando tudo isso!
- Ela nunca me empurrou criança alguma. Eu quis assumir a Aurora por vontade própria! - falo alto - quer saber? Eu vou embora.
- Não vai não! Você não vai embora antes de ouvir o que tenho para dizer! Não vai embora antes de saber o que aquela sua namorada e família maldita dela fizeram.Paro na mesma hora e me viro para ele.
Do que será que ele está falando? Não tenho a menor ideia de como meu pai poderia conhecer a família de Honey, mas isso parece algo que eu tenho que ouvir.- Sua mãe, April. Ninguém nunca soube dela enquanto estávamos juntos. Ela não gostava de holofotes, nem que inventassem histórias sobre ela então sempre que o nome dela ameaçava cair em algum jornal eu os pagava para que não publicassem nada. Mas um dia, o pior dia da minha vida. Sua mãe e eu estávamos discutindo sobre alguma coisa dentro do carro. Eu olhei para April para gritar com ela.. eu só queria gritar e..
Meu pai olha para os lados e para cima desesperadamente. Sei que está tentando ser forte e não chorar.
Meu coração já está extremamente disparado porque finalmente vou descobrir o que realmente aconteceu com minha mãe. Só tenho medo porque de alguma forma parece que isso tem alguma coisa a ver com a família de Honey.- Foi culpa minha - ele continua atordoado - foi tudo culpa minha. Eu não deveria estar discutindo com ela. Ela estava grávida de vocês dois e eu não a respeitei.
Agora eu entendo tudo o que meu pai disse aquele dia.
Ele havia dito que tinha matado minha mãe e que eu era gêmeo. Agora tudo faz sentido, bom nem tudo.
Me sento na poltrona à minha esquerda para tentar assimilar melhor tudo o que ele está me contando.- Eu perdi o controle do carro. Estava chovendo muito, a estrada estava deslizando e com pedaços de gelo e.. eu deveria estar prestando atenção na estrada e não discutindo com sua mãe por algum motivo tolo do qual eu nem me lembro. O carro capotou. Tudo que me lembro depois disso é de acordar no hospital. Eu tive sorte e sofri apenas algumas lesões leves, mas sua mãe.. ela não resistiu e eles fizeram de tudo para salvar vocês três.. você foi o único que sobreviveu. Por isso não conseguia vir te ver durante muito tempo. Você é a minha lembrança que terei que conviver. É a lembrança que matei minha esposa e meu segundo filho. No começo eu não queria te contar para que não dissesse para as pessoas sobre ela, mas depois eu não podia contar para você, porque simplesmente não conseguia.
- Pai, você não a matou.
- Eu a matei, e depois maltratei você. Meu único filho sobrevivente. É por isso que estou com esse maldito câncer.
- Pai, não fala isso.
- É verdade, e você sabe. Eu abandonei você. Sem amor e sem família. Um menino que já havia perdido a mãe e eu também não permiti que você tivesse um pai, eu sinto muito filho. Sinto muito mesmo.
- Pai.. - vou até ele e lhe dou um forte abraço - eu amo você, e você vai sair dessa. Não é sua culpa, tudo bem? Eu não o culpo, e não quero que se culpe também.Meu pai faz que sim e se senta no sofá.
Eu começo a pensar em tudo o que me disse. Ele me explicou cada detalhe, menos um. O que a família de Honey tem a ver com isso?- E.. Honey?
- Eu acabei esquecendo de te contar. É melhor se sentar.
- Fala logo.
- Quando descobri que perdi April meu mundo tinha acabado. Parecia que faltava ar nos meus pulmões e eu já não sabia se conseguiria viver sem ela. E então como se tudo já não estivesse ruim o bastante. Um homem chamado George Miller veio até mim.George Miller? Esse é o pai de Honey.. mas o quê?..
- Ele me mostrou cerca de dez fotos que acredite ou não ele ele tirou de mim e April enquanto ainda estávamos desacordados dentro do carro capotado.
- Não..
- Eu já havia pagado para jornais não publicarem fotos de April antes, mas isso era diferente. O desgraçado teve a cara de pau de me cobrar uma fortuna para calar o bico e não publicar as fotos do acidente que havia acabado de matar a minha mulher e o meu filho. Eu dei um cheque para ele, mas não antes de lhe dar uma boa surra que fez ele não sair daquele mesmo hospital por dias. Eu não deveria dar, mas April nunca quis aparecer no jornal e eu não iria deixar que a primeira vez que aparecesse fosse ensanguentada em um carro ao meu lado.
- Espera.. espera.. espera.. deixa eu entender.. o pai de Honey extorquiu você usando as fotos da minha mãe morta? - pergunto sem acreditar.
- Agora você entende? Aquela mulher é igual ao pai, e só está usando você pelo seu dinheiro!
- Não.Isso não é possível. Honey nunca faria isso.
Provavelmente ela nem sabe sobre o dinheiro.
Tenho certeza que se Honey soubesse teria me contado desde o início. Ela sabia o quanto eu queria saber sobre o passado de minha mãe. Além disso, ela nunca usaria esse dinheiro, tenho certeza disso.- Ela nunca faria isso.
- Mesmo? Porque eu soube que ela magicamente conseguiu comprar um restaurante que vou te dizer, não é barato.
- Não.. ela..A ficha começa a cair..
Ela apareceu repentinamente dizendo que Chloe a ajudaria sendo sua sócia com um dinheiro que tinha guardado no banco. Mas se fosse verdade, porque Honey não teria pego esse dinheiro emprestado desde o início?
Será que realmente estava me usando?
Eu não posso acreditar nisso. Nisso não.Me sendo automaticamente na poltrona. Acho que nem consigo mais sentir meus pés para ficar em pé.
Honey não estava me usando, não poderia estar. Mas provavelmente usou esse dinheiro.Me levanto subitamente.
Preciso resolver isso.
Preciso entender o que está acontecendo, e não vou ficar aqui nem mais um minuto escutando tudo isso sem a resposta de que eu preciso.
Só preciso olhar no fundo dos seus olhos, preciso perguntar a ela, porque quero ouvir de seus lábios que ela não sabia de nada.
Por Deus, que ela não saiba de nada.- Aonde você vai? - meu pai grita.
- Saber a verdade.~
Chego em casa furioso. Preciso de respostas.
Olho em volta, mas Honey não está aqui embaixo.- Honeeeeeyy - chamo.
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Amanhecer Agridoce
RomanceENVOLVENTE, SENSUAL, E CHEIO DE SEGREDOS! Depois que um acontecimento a impede de seguir carreira como chef de cozinha e seu sonho vai por água abaixo, Honey se vê servindo mesas em um restaurante quando na verdade preferia estar cozinhando. Tudo em...