Capítulo 14

386 26 0
                                    

Ela

Não sei se fui grossa com ele ao pedir para ir embora daquela forma. Acho que fui. E nem sei o motivo.
Acho que em parte foi porque começamos a falar sobre meus pais, e esse assunto me frustra, é difícil ficar recordando a forma como minha mãe preferiu apoiar seu namorado nojento que apoiar a própria filha.
Mas não foi só isso.
Eu percebi que estava gostando de me abrir com ele, aquele modo como comecei a falar de minha mãe, eu só falava em voz alta assim sobre ela para Chloe, e mesmo assim eu nunca dizia muita coisa. Mas para ele eu já contei sobre minha faculdade, sobre meu sonho, sobre minha mãe, sobre não ter sido expulsa de casa - algo sobre o qual eu menti para Chloe - e ainda falei sobre meu pai. E eu já não falava sobre ele fazia muito tempo.

Quando percebi que havia falado para ele em uma semana e meia mais do que falei para qualquer outro em anos, me desesperei. Eu não quero que ele saiba o que aconteceu, eu não quero que ninguém sinta pena de mim. Eu já senti pena de mim mesma o suficiente por bastante tempo - duas semanas chorando sem sair do quarto.

Além disso, estou gostando mesmo dele. Sei que estou. E não quero estar, eu não preciso estar. Nesse momento só complicaria tudo.
Além disso, não sei quando vou conseguir entregar meu corpo para alguém depois do que aconteceu

Estou extremamente cansada e com sono, mas simplesmente não consigo pegar no sono, o que não é muita novidade para mim, mas achei que estivesse ficando mais fácil com o passar do tempo.
Fico acordada por mais uma hora até finalmente pegar no sono.

~

Acordo assustada após ouvir algum barulho, talvez um grito, mas poderia ter sido apenas um dos meus pesadelos, embora fosse um grito muito mais vívido do que meus pesadelos costumam ser. Olho para meu celular no criado mudo, são três e meia da manhã, de onde isso poderia ter vindo?

Ouço um grito, definitivamente consigo identificar que se trata de um grito de mulher e vem do quarto ao lado. Já estou com o número discado para chamar a polícia, mas espero por mais algum sinal, afinal, talvez seja apenas uma brincadeira, ou algo assim.

Mais um grito e dessa vez seguido da palavra socorro, e um homem a mandando calar a boca. Já chega. Decido chamar a polícia.
Minha mão começa a tremer.
Ligo e explico que ouvi um pedido de socorro e gritos do quarto ao lado, o atendente relutou um pouco quando eu disse que estava em um motel, ele explicou que poderiam ser outras coisas, insinuando que poderia não haver gravidade, mas eu sei como é um pedido de socorro. Eu sei.

Ouço uma viatura uma hora após a minha ligação, mas não há mais gritos desde o momento em que liguei. Vejo pelo olho mágico que passaram pela minha porta, coloco a orelha contra a porta para ouvi-los.
A polícia bate a porta e manda que a abram, sem nenhuma resposta eles dizem que vão entrar se a porta não for aberta. E então ouço um barulho forte, sei que a polícia arrombou a porta, e como não ouço barulho de tiros, ou de discussão decido sair para ver o que aconteceu, estou preocupada com o que pode ter acontecido com aquela mulher.

Saio do quarto, e vou em direção ao quarto ao lado, mas paro pois a porta está fechada e um policial está parado na porta virado para mim.

- O que aconteceu? - pergunto - fui eu quem ouviu os gritos, o que aconteceu?
- Não posso dividir essa informação, mas peço que volte para seu quarto imediatamente.
- Esse corredor é público, eu chamei vocês e vou ficar até saber o que houve com a mulher!
- Volte para seu quarto imediatamente! - manda em tom autoritário.

E então antes que eu pudesse me virar para voltar para meu quarto a porta atrás dele se abre e um policial sai, ele não fecha a porta imediatamente então eu olho para dentro do quarto. Tudo que consigo ver é muito sangue por todo lado.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora