Capítulo 40

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Ele

O barulho estridente da campainha faz minha cabeça latejar.

Abro meus olhos aos poucos e saio do sofá. Vou até o monitor e toco na tela para abrir o portão e destrancar a porta da frente. Sinceramente, nem quero saber quem está lá fora, só quero voltar a dormir.

Chloe e And vem até mim e me olham de cima a baixo.

- Cara, você ainda tá fedendo a vodka.
- Deve ser porque eu bebi vodka, gênio - digo saindo do caminho e voltando para meu sofá.
- Você sabe que a inauguração do restaurante é hoje, não sabe Colin? - Chloe pergunta.

É claro que eu sabia disso. E esse foi o motivo pelo qual eu bebi novamente ontem a noite.

- Não - me deito no sofá novamente e coloco a almofada em meu rosto.
- Ele sabe - And diz para Chloe.
- Isso importa? - eu pergunto - por que vocês estão aqui, afinal?
- Colin, Honey está mal. Ela sente a sua falta e quer ver você lá hoje.

Eu tiro a almofada de meu rosto e encaro Chloe.

Por algum motivo isso não parece algo que Honey diria para ela. Afinal, se me quisesse lá ela mesma viria aqui me dizer isso. O que não significa que eu a perdoaria. Não sei nem mesmo se ela me perdoou.

- Ela disse isso? - pergunto para Chloe.
- Bom.. não exatamente nessas palavras, mas..
- Então aí está a sua resposta. Ela não quer me ver, e quer saber? Eu também não quero vê-la. Podem ir embora agora.
- Isso significa que os dois querem se ver mas são burros o bastante para deixar o orgulho falar mais alto - And diz se direcionando para Chloe.
- O que aconteceu, vocês estão juntos oficialmente agora?
- Sim - eles respondem em uníssono.
- Que ótimo - respiro sarcasticamente.

Agora Honey e eu é que teremos que conviver nos mesmos lugares por sermos amigos desses dois.

Não sei se vou perdoar Honey, mas mesmo que eu não a perdoar, Aurora não tem nada a ver com essa situação, e eu realmente me apeguei àquela pequena então queria perguntar para Honey se ela deixaria que eu mantesse contato com Aurora, mas não fiz isso. Não fiz nada disso. Porque tive medo. Porque sou um maldito covarde.
E porque, às vezes, não ouvir resposta alguma é melhor que ouvir uma resposta que você não quer.

- Colin, você sabe que quer ir até lá. Por que simplesmente não vai? - Chloe pergunta.
- Será que você não consegue entender tudo o que aconteceu? Você tem noção de onde veio a grana para aquele maldito restaurante para início de conversa?
- Colin, isso não é justo. Até onde eu entendi, Honey nem era nascida quando o pai dela fez o que fez - And justifica.
- Não, não era. Mas ela fez questão de usar o dinheiro mesmo sabendo de tudo.
- Deixa eu te perguntar uma coisa, cara. Se Honey te contasse o que descobriu desde o início. Você, ou seu pai iriam querer esse dinheiro de volta?
- Claro que não.

Eu obviamente não iria conseguir viver sabendo que estou usando um dinheiro que na verdade foi extorquido com base no leito de morte da minha mãe. E meu pai também não iria querer, tenho certeza.

- Então isso significa que o dinheiro ficaria para Honey de qualquer forma - Chloe termina o raciocínio de And.
- Eu entendi onde vocês querem chegar, mas o dinheiro não importa. O que importa é que Honey mentiu para mim. Ela escondeu de mim que sabia sobre a morte da minha própria mãe. Ela sabia que isso era algo que eu queria saber a muito tempo.
- Mas.. - Chloe começa.
- Chega. Eu não quero ouvir mais nada. Vão embora, eu vou voltar a dormir.

Chloe e And se retiram e vão embora sem dizer mais nada.

Entendo porque Chloe está do lado de Honey, mas acho que esse era o momento em que And deveria estar do meu. De qualquer forma não faria diferença, eu não quero ver ninguém hoje. Assim como não vejo ninguém há três malditas semanas.

Penso em abrir outra garrafa de vodka para continuar bebendo, mas não faço isso.
Não posso continuar me matando dessa forma. Mas, ainda não vou levantar desse sofá, essa ressaca merece mais um pouco de atenção.

~

Uma campainha me acorda e eu olho no celular. Já é noite. O restaurante de Honey provavelmente já inaugurou e eu não estava lá para presenciar. Eu sou mesmo um babaca.

Olho para o monitor e vejo minha avó parada do lado de fora da casa. Toco na tela para abrir o portão da frente e vou até a porta para abri-la.

- Você veio.
- É claro que eu vim - diz me dando um abraço apertado - vá já tomar um banho e se arrumar.
- Vó, eu não vou. Já te expliquei o que aconteceu.
- Eu sei, mas nós vamos mesmo assim. Precisamos estar lá para dar apoio a ela.
- Vó..
- Colin, eu vi vocês dois juntos. Vocês se amam, não estrague tudo.
- Por que todos estão do lado dela?
- Agora você está parecendo uma criança.

Respiro fundo e me sento no sofá. Minha avó vem logo atrás de mim.

- Filho, você é orgulhoso assim como sua mãe era. Mas ela sempre passava por cima do orgulho dela quando o assunto era o Richard.
- Meus pais brigavam muito?
- Não, eles não brigavam tanto. Na verdade eles pareciam o tipo de casal que era perfeito um para o outro.
- Então por que a senhora não gostava dele? - pergunto duvidoso.
- Porque ele estava com minha filha, minha menina, eu a queria em casa comigo. Minha bebê. Bom, acho que você vai entender do que eu estou falando quando Aurora crescer.
- Vó eu..
- Já sei, já sei - ela me interrompe - vocês não estão mais juntos. Só quero deixar claro que acho que você está fazendo a maior burrada da sua vida.
- Vó.. você não entende que ela escondeu da senhora também? É sobre o passado da sua filha que estamos falando - eu respiro fundo - quero dizer.. a senhora não quer saber como ela se foi?
- Não - diz rapidamente - eu te disse por telefone.. não quero ficar remoendo essa história. Eu já me conformei e rever você, meu netinho.. eu superei a perda de sua mãe, e o espírito dela precisa descansar. Saber como minha filha morreu não vai mudar nada. - diz tristemente.
- Tudo bem, vó. Você é quem sabe.

Minha vó se levanta, vai até o espelho que fica pendurado a nossa direita na sala de estar e passa as mãos pelos seus cabelos grisalhos. Depois passa as duas mãos pelo seu vestido longo e se vira para mim.

- Eu estou indo para o restaurante, você sabe onde fica. Espero com todo o meu coração que você mude de ideia. Você precisa entender, Colin, que não podemos mudar o passado. Mas podemos decidir o que fazer com o nosso futuro.

Vovó pega sua bolsa de mão e vai embora.

Estão todos lá. E eu que teria sido o primeiro a chegar estou aqui sentado, sozinho, e péssimo.

Amanhecer AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora