Capítulo 24

540 75 22
                                    

Maiara*

Acordei e a mulher que se diz minha mãe estava no meu quarto, ela sorriu quando me viu acordada e se aproximou da minha cama.
Eu tenho tantas perguntas, tantas dúvidas mas não consigo perguntar, não me sinto a vontade, ontem quando todas aquelas pessoas entrarem eu queria muito pedir pra saírem, é estranho demais ver todo mundo te olhando e você não se lembrar de quem são.

Almira: Bom dia meu amor, como você está.

Eu: Bem.

Almira: A enfermeira veio aqui e disse que já trás seu café. - Não respondi e fiquei olhando pro teto.

Xx: Com licença, Bom dia mocinha.

A enfermeira veio trazer o meu café da manhã e me perguntou como eu estava, disse que estava normal e ela se foi, comecei a tomar o meu café da forma mais lenta possível, eu não tenho assunto com essa mulher que insiste em sorrir pra mim e me chamar de filha.
Terminei o meu café da manhã e voltei a me deitar, se o clima tá estranho aqui, imagina quando eu for pra casa, e se eu nunca me lembrar, não lembrar quem eu sou, o que gosto de fazer, quem são meus amigos.

Almira: Sei que pra você sou uma estranha no momento, mas saiba que tem total liberdade pra perguntar o que quiser.

O que eu queria mesmo é ficar sozinha, mas não quero ser grossa e mandar ela embora, talvez ela possa me dizer coisas que me ajudem a lembrar.

Eu: Como eu sou, o que gosto de fazer. - Ela sorri e começa a falar.

Almira: Digamos que você seja a popular da escola, tem bastante amigos e os ama muito. Você e a Maraisa são bem diferentes, você é vaidosa, gosta de se arrumar, independente do lugar, sempre vai bem arrumada, é estudiosa e muito inteligente. Adora festas, inclusive estava voltando de uma quando o acidente aconteceu, Maraisa e o Fernando estavam juntos, Fernando é o seu namorado, ele que estava dirigin...

Eu: Sabe quando eu saio daqui?

Almira: Preciso perguntar pro médico.

Percebi que ela ficou meio assustada com a forma que eu a interrompi, eu não quero saber de Fernando, quero saber de mim.

Eu: Sabe me dizer o que quero ser?

Almira: Médica, você e o... - Acho que ela ia falar do Fernando mas percebeu que eu não quero saber dele. - Você sempre disse que quer ser médica.

Eu: Médica?

Almira: Sim, a uns três anos você decidiu que faria medicina.

Que estranho, isso tudo é muito estranho, ela me disse todas essas coisas e eu não consigo me lembrar de nada, não me vejo sendo médica e muito menos a popular da escola cercada de amigos.

Xx: Com licença senhora, tem alguém lá em baixo querendo visitar a paciente, a senhora precisa descer.

Almira: Tudo bem, já estou indo.

A enfermeira se retira e ela se levanta, vejo que ela está meio receosa de vir até mim e sei que quer me abraçar.

Eu: Pode vir. - Ela sorri com os olhos marejados e me abraça.

Almira: Mais tarde eu volto pra ficar com você, a Maraisa tá na escola agora, aí ela vem comigo e vocês conversam.

Eu: Tá bom.

Almira: Tchau meu amor.

Ela sai do quarto e eu fico pensando em quem pode estar lá em baixo, se a Maraisa está na escola, só pode ser meu pai, mas por que ele não veio com ela mais cedo? Talvez estivesse ocupado.

Alguns minutos se passaram e eu vi o tal de Fernando entrar, era só o que faltava.

Fer: Oi, posso entrar? - Dou de ombros e ele continua na porta. - Se quiser eu posso ir embora e peço pra Dona Almira voltar.

Eu: Pode entrar.

Eu preferia mil vezes ficar sozinha, mas também não quero ser grossa e mandar ele ir embora, se ele é ou era meu namorado com certeza vai ficar chateado se eu o mandar embora.

Fer: Como você tá? - A vontade de revirar os olhos é grande mas me contive.

Eu: Estou bem.

Fer: O médico disse quando vai pra casa?

Eu: Não.

Fer: Imagino que esteja odiando ficar aqui, você não gosta muito de hospitais.

Eu: Difícil dizer se eu gosto ou não, quando não me lembro de nada.

Fer: Eu sinto muito.

Ele olha pro chão e eu continuo em silêncio, vejo seu braço engessado e me lembro que a minha mãe disse que ele estava junto no acidente.

Eu: Por que? - Ele me olha confuso.

Fer: Por que o que?

Eu: Por que sente muito? - Ouço ele suspirar.

Fer: Por que eu estava dirigindo, deveria ter prestado atenção no trânsito, deveria ter cobrado de você que colocasse o cinto de segurança, você nunca usa.

Eu: Como o acidente aconteceu?

Fer: Estávamos voltando da festa da sua amiga Melissa, já estava amanhecendo e um caminhão bateu na gente, você estava sentada de pernas cruzadas no banco, de frente pra mim e cantando, aí na hora veio parar no meu colo e bateu a cabeça na porta.

Eu: E o cara do caminhão?

Fer: Fugiu, meu pai disse que ele não tinha habilitação, o caminhão era roubado e ele estava alcoolizado pois tinha garrafas de bebidas no caminhão.

Eu: E o seu carro?

Fer: Esta no concerto.

Eu: Danificou muito?

Fer: Não é o carro que me preocupa no momento.

Eu não sabia o que responder então fiquei calada, eu sabia que ele estava se referindo a mim e não sabia o que dizer. Não sei o que vai ser de mim, não sei se vou recuperar a memória e não quero prender ele a mim, não posso fazer isso, seria muito egoísmo da minha parte.

Eu: Você se importa se eu pedir pra você ir? Quero ficar sozinha.

Fer: Tudo bem, eu entendo, sei que está confusa e assustada. - Vejo ele se levantar. - Se não se importar eu volto mais tarde com a Maraisa ou amanhã.

Eu: Acho melhor não, pelo menos por enquanto. - Consegui ver a decepção nos olhos dele, mas eu não senti nada com isso.

Fer: Sem problemas, se precisar de algo pede pra Maraisa me ligar, fica bem tá.

Ele sai do quarto e eu respiro aliviada, finalmente fiquei sozinha, sem ninguém me olhando com pena. Apertei o botão que chamava as enfermeiras e quem apareceu foi o médico, que ótimo.

Dr: Bom dia Maiara, está se sentindo bem? - Que ódio, quantas vezes vou precisar responder essa pergunta?

Eu: Quando vou sair daqui?

Dr: Não respondeu minha pergunta. - Reviro os olhos.

Eu: Estou!

Dr: Que bom, vou fazer mais alguns exames em você e amanhã você vai pra casa.

Eu: Tá bom.

Dr: Esta sozinha? Ninguém veio te ver?

Eu: Minha mãe esteve aqui e o garoto que se diz meu namorado, mas eu pedi pra ele ir embora.

Dr: Está confusa né, mas as vezes é bom estar com pessoas próximas a você.

Eu: Minha irmã e minha mãe vem mais tarde.

Dr: Que bom, vou sair, qualquer coisa é só chamar tá.

Eu: Tá bom.

Ele saiu e eu continuei deitada olhando pro nada, minha cabeça estava doendo então chamei a enfermeira e ela me deu um remédio, acabei pegando no sono e acordei não sei quanto tempo depois ouvindo vozes no meu quarto.

Em Busca Do Meu Passado ( PAUSADA )Onde histórias criam vida. Descubra agora