Chuva, sapatos e o dia um

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I'll take advantage while
You hang me out to dry
But I can't see you every night

- About a girl

Greenwayfield é uma pequena cidade da Inglaterra esquecida pela história e ignorada por todo o Reino Unido, as pessoas que sequer conhecem seu nome costumam dizer que nada acontece em Greenwayfield, os moradores levam vidas simples, nada é muito agitado e os jovens costumam deixar a cidade alguns anos depois da escola.

Mas na noite de 03 de março de 1994, tudo foi diferente. Um evento inesquecível e definitivo, pelo menos para a vida de dois garotos.

Não estava chovendo muito naquele ano e talvez o céu estivesse tentando compensar a falta de chuva em uma madrugada.

Ou talvez as nuvens precisassem testemunhar aquele momento e levar a historia milhares de quilômetros a fio pelo mundo, ou ainda o universo tenha decidido ser gentil com Harry pelo menos uma vez, e a chuva estivesse ali apenas para se misturar com suas lágrimas e esconder parte da sua dor e de sua vergonha.

Mas a questão é que havia muita água, o garoto corria por uma rua pouco iluminada pelos postes de luz amarela. Ele costumava apreciar a maneira como a luz conversa com a chuva, como as gotas se destacam quando cruzam o caminho dela, e então mesmo que outras milhares estejam molhando tudo ao redor você só consegue ver aquela especifica. Ele costumava se perguntar o que ela tinha de especial, ele costumava ter muitas curiosidades sobre tudo, mas isso foi a muito tempo.

Agora, enquanto ele fugia nada mais importava... Ele nem mesmo considerou encarar qualquer um daqueles postes, apenas desejava gritar o mais alto que pudesse para que talvez conseguisse vomitar seu próprio coração e ter a chance de segura-lo e monta-lo como um quebra-cabeça, mas sabia que seria inútil, ele sabia que não era bom com quebra-cabeças.

Então continuou correndo.

Louis o seguia, e gritava seu nome mesmo sendo abafado pelo som da tempestade, e mais uma vez o universo e a chuva eram gentis com ele, porque ele não queria ouvir seu nome naquela voz agora.

As roupas de Tomlinson grudavam em sua pele e a água gelada escorria de seu cabelo tornando seu rosto cada vez mais frio. Mas não fazia diferença, seu corpo continuava quente, e ele ainda se sentia sujo.

Os All stars que usavam batiam contra as poças d'agua e já estavam cobertos de lama, tudo parecia acontecer em câmera lenta enquanto milhares de vozes gritavam na cabeça de Harry, mandavam ele ficar longe.

O problema de precisar estar longe de tudo é não ter a mínima ideia de para onde ir, porque em todo lugar existe alguma coisa de que você quer distância. Até perceber que a única coisa de que precisa se afastar é da sua própria mente.

Louis continuava a gritar. E Harry, que não o reconhecia mais, tentava correr mais rápido a cada vez que sentia aquela maldita voz mais perto.

Os pés apertados nos sapatos pequenos, os dedos congelados e os joelhos fracos demais para suportar o peso que tinha cada pedaço que ainda restava de seu coração, o frio que fazia seu queixo tremer entre soluços e a dor dentro do peito, mesmo assim ele continuava a correr.

Os dois continuavam a correr, ambos perseguindo uma coisa que nunca poderiam alcançar daquela forma, compaixão e solidão. O cheiro da chuva não os perturbava, e as estrelas nem estavam visíveis, mas eles não podiam se dar ao luxo de prestar atenção nas coisas que costumavam amar.

Era como uma corrida contra o destino que não valia nem um pouco a pena, era um esforço que nunca levaria aquela dor embora e Harry percebeu isso, ele deixou que seu esqueleto decidisse por ele, expulsou todas as vozes de sua cabeça com um grito de horror que abriu todas as rachaduras de seu coração quando ele caiu de joelhos.

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora