Mentiras, tinta e o dia dez

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*Esse capitulo contém cenas de violência*

"I like it, I'm not gonna crack
I miss you, I'm not gonna crack
I love you, I'm not gonna crack
I killed you, I'm not gonna crack"

- Lithium

Sobre a calçada, as páginas do diário de Harry eram iluminadas pelo sol do fim da tarde daquele sábado, um vento ameno balançava-as levemente e toda a cola que Louis passou sobre elas estava secando.

Flores de todas as cores cobriam as palavras que um dia disseram adeus a ninguém. Harry julgou a ideia idiota, mas não se opôs a ela nem por um segundo.

- O que rima com para sempre? - Louis questionou, levando gentilmente o lápis até seus lábios.

Estava sentado no meio fio, escrevendo nas páginas que sobraram em seu caderno de flores.

- Depende do que pode usar, qual a frase completa? - Harry devolveu a pergunta, antes de fazer um hardflip com seu skate.

Louis levantou as sobrancelhas e aplaudiu dramaticamente a manobra, Harry sorriu e lhe deu o dedo do meio carinhosamente.

- Você ainda vai me ensinar a andar, não é? - Louis perguntou com um meio sorriso, distraído e sem mais retomar seu próprio poema em construção.

- Prometo fazer isso no recesso de Páscoa - Respondeu o ruivo, sem tirar os olhos de todos os detalhes do rosto de Louis, que ele já havia decorado.

As rodinhas do skate faziam um barulho agradável e constante pela rua, o vento bagunçava os cabelos de Louis e carregava um aroma de chuva delicado, mesmo que não estivesse chovendo muito naquele ano.

Amélia abriu a porta da frente com uma expressão cansada, mas ainda havia um sorriso acolhedor em seus lábios. Ela usava um avental amarelo cuja a estampa de borboletas jamais deixou a memória de Harry.

- Já vou servir o jantar! Voltem para dentro - Pediu ela, um cheiro delicioso de torta assada acompanhando sua fala.

Harry freiou seu skate, pisando na ponta da prancha para pegá-lo em suas mãos. Louis juntou seus materiais e os restos dos papéis recortados que estavam ao seu redor, para então se levantar e encontrar seu namorado se abaixando para recuperar o próprio diário.

- Não fecha, ainda está secando - Louis observou, tocando as páginas com cautela enquanto Harry observava sua arte.

Ela reescrevia o pior capítulo da história dele como um leve florescer, bem no início da primavera.

- Não vou - Garantiu com a voz baixa, tocando a página específica sem sentir aquele nó na garganta ao reconhecer os rabiscos brutais que costumavam estar ali - Ficou lindo Louis...

- Eu te disse - Ele sorriu convencido, um passo a frente para chegar mais perto de Harry, alheio ao que a palavra lindo realmente significava naquele contexto.

Era muito maior do que qualquer sentimento que Harry Frédéric soubesse expressar aos seus dezesseis anos. E era muito mais profundo do que Louis Oliver podia ter noção com a mesma idade.

- A gente pode colocar algumas pétalas das tulipas que me deu - Harry sugeriu enquanto eles entravam na casa.

- Certo - Respondeu Louis naturalmente, sendo gentil ao pegar o diário de Harry e entregar nas mãos dele o seu caderno - E o que acha disso?

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora